São raros os casos de bandas rock em que o vocalista não é a figura com mais projeção mediática e nem sequer ocupa um lugar óbvio de destaque em palco, à frente dos outros músicos. Mas é esse o caso dos Linda Martini, sempre com os seus quatro integrantes alinhados na boca de cena. A voz e o fraseado de André Henriques marcam o som dos Linda Martini, mas, ali, ele é só mais um, de guitarra nas mãos, ao lado de Cláudia, Pedro e Hélio. Agora, é ele o centro das atenções, das canções. Cajarana marca a estreia a solo de André Henriques, algo que durante anos não passava pela cabeça deste músico que, desde muito jovem, se foi construindo na prática, teoria e ética das bandas de rock.
É inevitável que o modo muito particular de cantar de André nos transporte para o universo de Linda Martini, mas as semelhanças acabam aí. Só uma das canções (De Tudo o Que Fugi) parece pronta a adaptar-se facilmente à eletricidade furiosa da sua banda. O som do disco é muito marcado pelo bom gosto exploratório e livre dos arranjos do músico e produtor Ricardo Dias Gomes, brasileiro radicado em Lisboa, há cerca de três anos.
Surpreende o lado narrativo de algumas canções, quase microcontos – como a notável E de Repente, relato viciante de um assalto a uma bomba de gasolina… Na sua (aparente?) simplicidade, estas 12 canções bem urdidas fazem pensar no caso de outro músico discreto que se aventurou na produção própria, quase artesanal, depois de muitos anos ligado a uma banda: Nuno Prata, dos Ornatos Violeta, já com três discos em nome próprio. Esse lado do labor cuidadoso na construção de canções está bem visível na primeira e na última faixas, Espelho Meu e Pese Embora, só com voz e guitarra.