Foi no palco do Teatro Académico de Gil Vicente que, em 2003, os Mondego Chase se apresentaram pela primeira vez ao vivo, num espetáculo de homenagem ao mestre Carlos Paredes, figura maior da música de Coimbra, à época eleita Capital Nacional da Cultura. O coletivo reunia elementos dos Belle Chase Hotel e do Quinteto de Coimbra e, além de mais algumas apresentações ao vivo, deixou só para a posteridade a icónica versão do clássico Verdes Anos, incluída na coletânea de homenagem a Carlos Paredes Movimentos Perpétuos, editada nesse mesmo ano. A ideia inicial de um disco apenas com recriações de temas do mestre da guitarra portuguesa ficaria, assim, adiada por 17 anos, até ao dia em que Pedro Lopes, do Quinteto de Coimbra, desafiou Pedro Renato, antigo integrante dos Belle Chase Hotel e atualmente membro dos Mancines, a ressuscitarem o projeto. À dupla juntaram-se Ricardo Dias (Quinteto de Coimbra) e Raquel Ralha (ex-Belle Chase Hotel e WrayGunn), com quem formam um quarteto à volta do qual gravitam ainda outros músicos da cidade. O resultado disto tudo é o disco 15 Anos Sem Paredes, composto por oito temas de Carlos Paredes, como Canção de Alcipe, que o coletivo recriou agora de forma mais livre, ao contrário do que acontecia no espetáculo, mais fiel à “essência instrumental” de Carlos Paredes.

Há uma assumida aproximação ao formato canção em vários momentos do disco, sublinhada pela introdução de vozes nalgumas faixas, como acontece no orelhudo primeiro single: Sede e Morte. Sacrilégio para alguns, brava ousadia para outros, o certo é que nunca antes se terá ouvido assim Carlos Paredes, numa abordagem tão livre, mas ao mesmo tempo tão fiel à sua obra. Se o próprio a ouvisse, talvez voltasse a sorrir, como fez, pouco tempo antes de morrer, quando lhe deram a escutar a tal versão de Verdes Anos, tocada por estes mesmos músicos.