Tem longas tradições a história do jovem intérprete a quem se pede, à ultima hora, que substitua um colega mais velho e ilustre, que ficou doente – e isso dá o empurrão decisivo na sua carreira. Ao contratenor polaco Jakub Józef Orliński, isso aconteceu no ano passado. Numa iniciativa promovida por uma rádio clássica, pediram-lhe de véspera que cantasse não uma ópera inteira mas uma ária de cinco minutos. Ele perguntou se era preciso vestir alguma roupa especial, e disseram-lhe que não, sem avisarem que ia haver transmissão em direto na internet. Resultado: Orliński cantou uma melancólica ária de Vivaldi (Vedrò con Mio Diletto), com ténis e em bermudas, e o seu bom aspeto, junto com a beleza da música, tornou o vídeo viral (vai a caminho de 2,5 milhões de visualizações). Não que ele fosse um completo desconhecido no mundo da música clássica. Já tinha ganhado concursos importantes e embarcado numa carreira estimável. Porém, o que o distinguia entre os cantores parecia ser o facto de fazer breakdance, mais a atividade como modelo e a participação em anúncios. Foi preciso o vídeo para a maioria reparar no seu timbre luminoso, servido pela técnica impecável que já apreciáramos em Enemies in Love, um CD de árias de Händel, em que ele aparecia ao lado de uma mezzo soprano polaca, que não estava exatamente à sua altura.
Desta vez é só ele que canta, acompanhado pela excelente orquestra Il Pomo d’Oro, dirigida por Maxim Emelyanychev. Anima Sacra contém música religiosa da primeira metade do século XVIII e 8 das 11 obras são inéditas. O musicólogo Yannis François selecionou-as, em colaboração com Orliński, e preparou-as para utilização, tendo optado por nomes hoje pouco frequentados, como Fago, Terradellas, Sarro e Schiassi, a par com os mais reconhecíveis Hasse, Heinichen e Zelenka – Nápoles e Dresden, em música que aquece a alma.