A Grande Viagem do Pequeno Mi
Vai numa grande viagem, este pequeno Mi, e nós vamos com ele, passando de página em página. E nem precisamos de muito para nos deixar ir: frases simples e curtas, ilustrações sem grandes complicações, mas cheias de sensibilidade e inteligência. E seguimos, com Mi, à procura do que quer que seja que ele perdeu. Passamos por “uma forte chuvada de bolotas”, encontramos uma “rã que ensinava a bater palmas em silêncio”, vemos “um porco entretido a resolver equações matemáticas”, saltamos, contornamos obstáculos, nadamos, descobrimos uma árvore de onde nascem pássaros de cujos bicos rebentam segredos. Pode lá haver coisa melhor do que a imaginação? Sandro William Junqueira garante-nos que ela nunca se perde e criou esta história só para nos mostrar isso, de forma quase desconcertante de tão simples e bonita. Rachel Caiano, ilustrando, ajudou e muito. De Sandro William Junqueira e Rachel Caiano > Editorial Caminho > 40 págs. > €10,90
Batata Chaca Chaca
Arregaçar as mangas e pôr mãos à obra na cozinha, é esse o desafio para os leitores do mais recente livro da Coleção de Cantos Redondos, da Planeta Tangerina. Yara Kono manda vir camiões, comboios de carga e navios cargueiros para abastecer estas páginas e encher a despensa. Há cenouras, cogumelos, bananas, alho-francês, peixe, molho de tomate, ervilhas, melancia e tudo o mais que lá cabe. Isto, falando de ingredientes, porque também existem muitos utensílios: uma faca, um rolo da massa, um descascador, um ralador, uma panela… Ah, a explicação chega lá para a 13ª página: “Esqueci-me de te avisar: hoje temos convidados e chegam lá para o final do livro (mas não vale espreitar). Dás-me uma mão (ou duas)?”. E lá vamos nós, da salada ao caldo, da massa à sopa de tomate e por aí fora, tudo muito bem explicadinho como se faz, “ping ping ping”, “ploc, ploc, ploc”, “plof”, “tssssss”, “pam pam”, “chaca chaca” e já está. Um livro cheio de boa disposição, no texto e nas ilustrações, que guia os mais novos pela preparação de uma refeição. E, posto isto, mnham! De Yara Kono > Planeta Tangerina > 40 págs. > €13,50
Monterrosso
Não há dinossauros nesta história, mas há vários dinossauros neste livro. A começar por um, de Augusto Monterroso, que escreveu aquele que é considerado o conto mais pequeno de sempre: “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”. Ao escritor latino-americano, João Ferreira Oliveira foi buscar inspiração para o nome do seu protagonista: Monterrosso. A Maurice Sendak, pediu-lhe emprestados alguns monstros, numa clara homenagem a Onde Vivem os Monstros. E de tudo isto nasceu a história de um menino que entra nas histórias dos seus livros e ali desaparece – e dos seus pais que vão à procura do filho dentro de uma história passada numa ilha longínqua. De monstros e monstrinhos, de zangas e de afetos, de compreensão e de abraços, de imaginação e de animais extintos ou não, de tudo isso aqui se fala neste texto de João Ferreira Oliveira e também nas ilustrações de Maria Bouza que lhe dão novos sentidos. De João Ferreira Oliveira e Maria Bouza > Máquina de Voar > 32 págs. > €10,60
Medo do Quê?
Não há medo que não possa ser enfrentado, acredita o neurocientista Rodrigo Abril de Abreu. É isso que faz neste livro, pensado para os mais novos, mas capaz de pôr também os mais velhos a pensar de outra forma: em cada dupla página se assume um medo para depois o tirar (literalmente) da sombra e se olhar para ele de um novo ponto de vista. Por exemplo: “Tenho medo do desconhecido. O desconhecido é um mundo por explorar”; “Tenho medo do silêncio. É onde te ouves melhor”; “Tenho medo do fim. Há sempre um novo começo”. As frases são acompanhadas de ilustrações feitas por Rodrigo Abril de Abreu, que desenhou e recortou e ainda criou sombras em cada um dos desenhos, depois fotografados pelo irmão, João Abril de Abreu. O resultado são imagens inspiradoras que nos convencem que, muitas vezes, o que está na sombra não tem que nos assustar, mas sim ajudar-nos a seguir em frente. De Rodrigo Abril de Abreu > Editorial Presença > 40 págs. > €10,50
Ahab e a Baleia Branca
É um livro feito de memórias, este. As memórias de Ahab, “o mais hábil caçador de baleias de todos os mares, capitão do barco Pequod e habitante da ilha de Nantucket”, que entra pelo mar em busca de Moby Dick. Mas também as memórias do espanhol Manuel Marsol, que criou esta história inspirado no livro de Herman Melville e a ilustrou com as recordações de infância dos dias de praia no sul de Espanha. Com ele, página a página, vamos mergulhando nas nossas próprias memórias e seguindo a procura pela baleia branca, que está sempre presente mas nunca se mostra a Ahab: nas montanhas “que pareciam tremer com o bater das ondas”, nos barcos naufragados, nos mares de medusas, nas brumas sem fim, nos confins do mundo, “onde o gelo não era gelo, pois aquecia quando nele se tocava”, numa caverna habitada por esqueletos, numa ilha vulcânica… Não é fácil reinterpretar um clássico, mas Marsol consegue fazê-lo como se fosse uma história totalmente nova. Afinal, o mar é um mistério e dele podem sair as mais bonitas e estranhas aventuras. Como esta a que o espanhol consegue dar tridimensionalidade e texturas, com desenhos a aguarela, a lápis e pincel, recortes e uma delicadeza incrível. De Manuel Marsol > Orfeu Negro > 48 págs. > €14,90
Zoëlógica
Que Patrícia Portela sonhava com mundos paralelos “em livros e outros formatos” (como nos diz no final deste livro), já nós sabíamos, de a ler ou de assistir aos seus espetáculos. Que a sua filha Zöe, hoje com sete anos, era igualzinha a ela é o que descobrimos em Zoëlógica, o primeiro livro infantil da escritora e encenadora (e dramaturga e tantas coisas mais). Ao longo destas páginas (que se folheiam ao alto), Patrícia Portela vai literalmente escrevendo, com a sua letra, e desenhando diálogos maravilhosos entre ela e Zöe – e dando-nos um olhar curioso e poético sobre o mundo. Assim: “Estás com muita pressa, mãe? Sim, por acaso estou… Ah, que pena, é que eu estou com muito devagarinho…”; “Mãe, o novo é quando eu vivia agora?… Sim. E o que é que eu vivi amanhã? Ainda não sei. Que pena, pensava que sabias.”; “Obrigada, mãe! Obrigada, Zöe! Obrigada é uma palavra tão pequenina para agradecer, não achas?” Pode um livro para crianças, escrito por uma mãe e uma filha, ser um tratado de filosofia? Pode, pois. E nós é que agradecemos. De Patrícia Portela > Editorial Caminho > 48 págs. > €10,90
Faz-de-Conta
Não há como fazer-de-conta e é disso que fala este livro. Clara Cunha conta a história de uma menina que, logo de manhã, quando a mãe a vai acordar à cama, faz-de-conta que dorme e que depois faz-de-conta que a sua casa é um castelo e que o seu pai é o rei e a mãe a rainha, e o cão um urso pardo com mais de dois metros e uma grande cabeçorra. Não tem limites, isto de fazer-de-conta, e ainda bem. Clara Cunha escreve para os mais pequenos (o livro está indicado para meninos entre os três e os cinco anos), falando-lhes daquilo que facilmente reconhecem no seu dia-a-dia, do acordar, ao pequeno-almoço, da escola ao regresso a casa. E Rachel Caiano acrescenta, com as suas ilustrações, pormenores que gostamos de descobrir, quase despercebidos, nas páginas. De Clara Cunha e Rachel Caiano > Livros Horizonte > 32 págs. > €12,90
A Árvore da Escola
É uma história feita de afetos, esta. E, sim, aqui se fala de educação ambiental, mas, na verdade, fala-se de muito mais do que isso: de amor e generosidade, de dedicação e partilha, de solidariedade e de boas ideias. E tudo começa com uma árvore “fininha, com ramos delgados, que pareciam arame”, no pátio de uma escola, e com um menino, Pedro, que a decide acariciar, fazendo com que brote uma folha nova. Os espanhóis Antonio Sandoval (texto) e Emilio Urberuaga (ilustrações) contam-nos a história desta árvore que cresce com o carinhos dos meninos da escola e de como um dia dá uma semente que é plantada numa outra escola onde não existiam árvores. “A árvore da escola deste livro é o símbolo de como um projeto educativo novo e integrador, se verdadeiramente acarinhado, pode crescer e crescer, e chegar a outras escolas”, escreveu Sandoval. Nem mais. De Antonio Sandoval e Emilio Urberuaga > Kalandraka > 40 págs. > €12,50
Há Classes Sociais + As Mulheres e os Homens
De uma assentada só, a Orfeu Negro editou dois livros que são, mais assumidamente do que qualquer outro, uma tomada de posição. Há Classes Sociais e As Mulheres e os Homens fazem parte da coleção Livros para o Amanhã, editada em 1977 e 1978, em Barcelona, a pensar nos mais novos. Quase 40 anos depois, a editora Media Vaca voltou a editá-los, crente de que “a essência e a maioria do conteúdo destes livros são absolutamente atuais” e a Orfeu Negro trá-los também para Portugal. “Se lemos estes textos sem que nos causem muita estranheza é porque, aparentemente, o tal amanhã ainda não chegou. Esperamos que não tarde”, escrevem numa nota introdutória em ambos os títulos. Página a página vamos constatando aquilo que adivinhávamos de início: sobre as classes sociais e no que toca à igualdade de género, o amanhã ainda está por vir. Porque “já crescidos, uns vão para a universidade e outros têm que ir ganhar dinheiro”, porque “há trabalhos… e trabalhos”, porque “os homens parecem mais importantes do que as mulheres”, porque “os meninos vestem-se de uma maneira… e as meninas de outra”, tal como “há brinquedos para meninos… e para meninas”. No final, há ainda um questionário sobre o tema e um texto sobre a situação atual. Sim, nem só de fantasias se fazem os livros para crianças e sorte a das crianças que têm livros que falam assim. De Equipo Plantel e Joan Negrescolor/ Luci Gutièrrez > Orfeu Negro > 56 págs. > €14
Mary John
Ana Pessoa e Bernardo Carvalho voltam a juntar-se num livro pensado para adolescentes (e outros leitores mais crescidos, como descreve a editora Planeta Tangerina, que aconselha o livro a leitores maiores de 14 anos). Depois de Caderno Vermelho da Rapariga Karateca e Supergigante, apresentam-nos Mary John – ou Maria João, uma rapariga que escreve uma longa carta a Júlio Pirata, falando dos anos que partilharam, antes de partir para uma nova etapa da vida. Uma vez mais, Ana Pessoa entra no universo da adolescência para nos falar, de forma inteligente e certeira, daqueles anos conturbados. “Júlio Pirata, eu sou um quarto vazio”, escreve, a certa altura Maria João. Inseguranças, certezas, descobertas, medos, paixões e paixonetas, amizades, alegrias e tristezas, atos de coragem e de determinação, de tudo isto se faz este relato de uma adolescente que se confronta com o seu crescimento (cresce ela, cresce a sua franja, cresce a sua carta para Júlio Pirata que nunca será verdadeiramente uma carta). Um relato que Bernardo Carvalho ilustrou a azul forte e branco, ajudando-nos a mergulhar na história. De Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho > Planeta Tangerina > 192 págs. > €14,90
E mais cinco…
Quem diz dez, diz 15, por isso, vale a pena espreitar também mais estas sugestões. Para os fãs de Harry Potter, saiu este, mesmo a tempo do Natal. Para meninos com sentido de humor, este livro de Oliver Jeffers pode ser a melhor prenda debaixo da árvore. Já para os que gostam de jogos e desafios, será boa ideia espreitar estes dois, editados pela Bruaá. E, por último, para sonhadores de todas as idades, um livro que fala connosco e que nos faz acreditar em magia. Afinal, é Natal, é tempo dela.