Disse ao que vinha em março de 2014, com um disco de título longo e difícil de encaixar num só género musical: How Can We Be Joyful in a World Full of Knowledge. O que se ouvia ali era uma dessas cabeças que estão cheias de música lá dentro. Sem fronteiras. Do jazz à pop, da world music (esse “género musical” onde cabe quase tudo…) ao rock psicadélico, da folk ao easy listening, sem que, nesse patchwork, se notassem demasiado as costuras.
Não surpreende que o regresso, dois anos depois, se faça não com um mas com dois discos em simultâneo (na mesma editora: a Pataca Discos, de João Paulo Feliciano). Bruno Pernadas volta a um título comprido (Those Who Throw Objects at the Crocodiles Will Be Asked to Retrieve Them, roubado a um aviso escrito numa placa na Florida) e à erosão das fronteiras entre géneros e sonoridades. Mas, claro, percebe-se uma identidade diferenciadora em cada um dos discos. Esse que nos fala de crocodilos é o herdeiro mais direto do álbum de estreia e surpreende-nos, mais uma vez, como um caleidoscópio de sons e cores em movimento perpétuo, fixando-se, por vezes, no formato canção (com as vozes de Afonso Cabral e Francisca Cortesão).
Worst Summer Ever parece mais fácil de arrumar numa prateleira: a do jazz. Mas o jazz é, por si, mais uma ampla estante com design criativo do que uma simples prateleira… E este é um disco de jazz do século XXI com direito a várias contaminações. A guitarra de Bruno Pernadas (que é, além de músico com vários projetos, professor na Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal), os saxofones de Desidério Lázaro e João Mortágua ou a bateria, ora lenta e discreta ora irrequieta, de David Pires e Joel Silva alicerçam definitivamente estas composições no universo histórico do jazz. Há pontes que unem os dois discos e é nelas que melhor reconhecemos a identidade e o talento do multi-instrumentista Bruno Pernadas, um homem cheio de música dentro.
Ouça aqui a música Spaceway 70, de Those Who Throw Objects at the Crocodiles Will Be Asked to Retrieve Them