O que têm em comum uma menina que estranha a irmã mais velha e um menino que vive sozinho com o pai e, certo dia, encontra uma baleia na praia? O Que Aconteceu à Minha Irmã?, de Simona Ciraolo, e A Baleia, de Benji Davis, foram editados este mês pela Orfeu Mini, a chancela da Orfeu Negro para pequenos leitores, que tem trazido para Portugal alguns dos mais entusiasmantes livros infanto-juvenis que se vão publicando lá fora. Com ilustrações bem diferentes e histórias distintas, os dois livros falam sobre os laços familiares e de amizade – e ainda da falta que nos fazem aqueles de quem gostamos.
Em O Que Aconteceu à Minha Irmã?, a escritora e ilustradora italiana Simona Ciraolo (de quem a Orfeu Mini publicou, no ano passado, o ternurento Quero Um Abraço) conta-nos a história de uma menina com a certeza de que a sua irmã mais velha, que “nunca foi tão alta”, acordou trocada por outra – uma que não quer brincar com ela, que fica o tempo todo colada à televisão, ao computador, ao telefone ou às revistas, que anda cheia de segredinhos (“mesmo quando ainda faltava muito tempo até ao meu aniversário”, diz), que adotou “o hábito irritante de bater com a porta do quarto. Sempre!”. Uma adolescente, percebemos nós logo nas primeiras páginas. Com suaves cinzentos e verdes a denunciar a tristeza (e uns fortes laranjas pelo meio e sobretudo no final feliz), Simona Ciraolo fala da transição da infância para a adolescência e da desorientação que esta provoca, não do ponto de vista habitual (o dos pais ou do adolescente), mas sim daquele dos irmãos mais novos. Confusa, com saudades e a sentir-se sozinha, a ver fotografias antigas das duas, assim está esta menina… Mas, na verdade, e já sabemos isso, todas as crianças crescem e todas elas, um dia, vão ser mais altas do que alguma vez foram, lembra-nos Simona Ciraolo no final da história.
Já em A Baleia, a estreia em português do ilustrador britânico Benji Davis e também a sua estreia na escrita, encontramos Noé, um menino que “vivia com o pai à beirinha do mar” – e com seis gatos (sim, no livro anterior também existe um gato fiel). Não há uma mãe nem mais ninguém à vista, só umas vagas casas ao longe, a areia da praia e um vasto e tempestuoso mar azul-escuro. A solidão do rapaz vê-se nos desenhos de Benji Davis, que, apesar disso, conseguem não ser tristes – por exemplo, quando Noé toma o pequeno-almoço na ponta de uma grande e vazia mesa de madeira, enquanto o pai, já à porta, veste o impermeável amarelo para sair para o mar. Ou quando, todas as manhãs bem cedo, Noé vê partir o pai do lado de cá da janela. A tempestade desta história trará uma pequena baleia, que o rapaz descobre no areal e decide levar para casa e pôr na banheira: “E fez tudo o que podia para que a baleia se sentisse confortável. Contou-lhe histórias sobre a vida na ilha. A baleia gostava muito de o ouvir”, escreve-se (e nas ilustrações descobrimos que até lhe deu a ouvir discos de Sons do Mar e de Música Aquática). Mas será preciso devolver a baleia ao oceano e, sabemos também, as despedidas nunca são fáceis. Num barquinho no meio do mar, hão de estar Noé e o pai, lado a lado, ambos de impermeáveis amarelos, com a certeza de que as últimas páginas serão bem mais soalheiras depois disso.
O Que Aconteceu à Minha Irmã? > De Simona Ciraolo > 40 págs., > €13,50
A Baleia > De Benji Davis > 32 págs. > €13,50