
Quando se escolhe para nome de banda a palavra “nova” correm-se riscos a longo prazo. Convenhamos que, por norma, quem escolhe o nome da sua banda não está a pensar em carreiras de dezenas de anos, mas antes na urgência de um primeiro disco e dos próximos concertos. Os New Order nasceram há 35 anos, e a expressão “nova ordem” ganhava um sentido forte e particular nesse contexto, em 1980. O grupo erguia-se a partir dos escombros dos Joy Division, depois do suicídio de Ian Curtis a 18 de maio de 1980, e tanto queria cortar com o passado como honrá-lo. A identidade sonora dos Joy Division e dos New Order tinha, pelo menos, uma coisa em comum: o baixo bem marcado, poderoso, de Peter Hook. Em 2007, Hook deixou a banda por se sentir excluído da decisão de avançarem para um novo disco, e nos últimos anos tem combatido, mesmo juridicamente, a ideia de que os New Order podem existir sem a sua presença. Foi com alguma surpresa e desconfiança que se assistiu ao anúncio de um disco novo dos New Order em 2015. As expectativas não eram muito altas, como acontece quase sempre em casos de regressos tardios de bandas com personalidade bem marcada (o último disco, Waiting for the Sirens’ Call, já era de 2005) – tudo agravado, desta vez, pela saída do pilar Hook.
Surpreendentemente, Music Complete é um belo disco, onde os New Order pegam na herança do seu material mais dançável. Tom Chapman (que era uma criança de oito anos quando os New Order se formaram) substituiu Hook e saiu-se bem, ainda que a eletrónica e os sintetizadores ganhem agora protagonismo. A voz de Bernard Sumner (quase, quase, sexagenário) está no seu melhor e há em todo o disco uma energia genuína que consegue trazer para o presente a velha ordem e identidade de uma banda com mais de três décadas. Aqui e ali faz-nos pensar nos seus contemporâneos, e também britânicos, Pet Shop Boys (comparação que nos anos 80 não seria nada óbvia…).E há uma frescura trazida por novos cúmplices, convidados a juntarem a sua voz a este regresso: Elly Jackson (La Roux), em Tutti Frutti; Iggy Pop, em Stray Dog; Brandon Flowers (The Killers), em Superheated.
Veja o vídeo de Restless