Há quem chegue com a expectativa de encontrar uma loja de Louboutin. Mas dos sapatos de salto agulha e sola encarnado-vivo que celebrizaram o designer francês no mundo da moda nem sombra. Nunca foi essa a sua intenção, aliás. E é por isso que nem o seu nome aparece associado à palavra Vermelho.
Embora a cor se encontre em muitos apontamentos do hotel – no chão em mosaico do bar, nas portas e janelas –, a verdade é que o som de vermelho pode lembrar merveille (maravilha em francês), mas também vermeil, uma técnica usada na ourivesaria para dourar a prata, explica Vera Gonçalves, diretora do hotel que, recentemente, recebeu o selo da Relais & Châteaux, atribuído a pequenos projetos de luxo por todo o mundo.
A ideia inicial de Christian Louboutin era abrir um restaurante. O criador tem casa em Melides desde 2009 (depois de se ter cansado do buzz da Comporta) e gostaria de ter um sítio perto onde comer bem. Foi essa ideia que apresentou à autarquia, que lhe fez uma contraproposta: construir um hotel.
Caminhar pelos três edifícios que compõem o Vermelho (e destes, apenas o da receção não foi construído de raiz) é viajar pelos lugares de eleição de Louboutin: a Índia inspira o lounge; o balcão do bar (aberto a não hóspedes) é uma homenagem à Andaluzia, com um altar de prata feito na oficina sevilhana Orfebrería Villareal.
Dos 13 quartos (todos diferentes, com nomes de terras vizinhas de Melides), uns estão decorados com mobiliário antigo e objetos que adquiriu ao longo dos anos, outros refletem a sua admiração por artistas e artesãos (há livros espalhados pelo hotel que falam do seu trabalho).
Os portugueses (40% dos clientes) escolhem o Vermelho para uma “escapadinha de fim de semana”, já os estrangeiros ficam em Melides a meio de um roteiro por três ou quatro zonas de Portugal. Também há quem venha de Lisboa aguçado pelo apetite. O restaurante Xtian (o nome é uma abreviatura de Christian) está aberto a passantes e, desde novembro, tem um menu executivo ao almoço (€19,50), durante a semana.
Emanuel Machado inspira-se na cozinha portuguesa para levar à mesa o arroz da região feito no tacho com peixe e marisco, a garoupa à Bulhão Pato, o chambão de borrego ou a bochecha de novilho em vinho tinto. Pode não haver uma loja Louboutin por aqui, agora que se come bem, está garantido.
Vermelho > R. Dr. Evaristo Sousa Gago, 2, Melides > T. 91 528 0511 > a partir de €270
Luxo: menos formal, mais pessoal
Uma flor-de-lis dourada brilha nas fardas do staff do hotel Vermelho, em Melides. Trata-se do símbolo da Relais & Châteaux, uma associação sem fins lucrativos fundada em 1954 (celebra agora 70 anos), quando hoteleiros e chefes de oito pequenas unidades em França decidiram unir-se para divulgar os seus estabelecimentos sob o slogan La Route du Bonheur. Atualmente, a associação tem 580 hotéis e restaurantes espalhados por 65 países – são quase sempre de famílias, apostadas em promover a hospitalidade, a gastronomia, a História e a cultura locais.
Em Portugal, desde 2000, existem 13 membros com o selo da Relais & Châteaux, sendo o Vermelho a entrada mais recente. Esta não é a única novidade no hotel em Melides. Um programa de atividades foi desenhado para animar a época baixa: conversas à lareira com uma filha da terra (as datas são anunciadas nas redes sociais do hotel e qualquer um pode participar), passeios de bicicleta, com um parceiro local, e retiros de meditação.