É quase impossível falhar a entrada do Grand Hotel Açores Atlântico, na marginal de Ponta Delgada, junto às Portas do Mar. As arcadas da fachada distinguem este edifício histórico da cidade. O guardião da porta deste cinco estrelas é o jovem trintanário Hugo Miranda, que de sorriso rasgado dá as boas-vindas aos hóspedes. A hospitalidade açoriana há de sentir-se ao longo da estada e a herança marítima transparece a cada canto. “As pessoas vivem muito a história do hotel, inspirada na Empresa Insulana de Navegação, fundada em 1871 pelos proprietários”, destaca o diretor, Jorge Xavier, chegado há unidade há pouco mais de um mês.
Do hotel, partimos a pé à descoberta de Ponta Delgada, com paragens sugeridas no Museu Carlos Machado, nas Portas da Cidade e na Igreja Matriz de São Sebastião. De carro, num fim de semana prolongado, pode explorar-se a ilha de São Miguel, a maior dos Açores, com toda a calma.
A todo o vapor
Das varandas dos quartos virados para o mar arregala-se a vista, com o imenso espelho de água do Atlântico. Ao mesmo tempo, apreciam-se os mergulhos no pesqueiro, nome dado pelos locais à piscina natural das Portas do Mar, localizada do outro lado da avenida, junto ao porto onde também atracam os navios de cruzeiro. O hotel até tem uma apetecível piscina interior de água quente, mas dar um mergulho de mar, estando a tão curta distância, é coisa a que poucos hóspedes resistem.
Os 140 quartos, de várias tipologias, estão decorados com gosto, numa combinação de madeira escura e pormenores originais, como a estrutura de veludo em verde-sálvia que serve de cabeceira e se repete na parede oposta, melhorando a insonorização e, por conseguinte, a qualidade do sono, já beneficiada pela superioridade dos têxteis de cama.
Por onde quer que se passe, do hall de entrada ao sexto andar, sucedem-se as memórias da Empresa Insulana. Maquetas de navios, mapas, um escafandro, retratos antigos e outros objetos da vida a bordo integram a decoração da autoria de Paulo Lobo, contando a história dos navios, portos e viagens feitas pela companhia marítima.
Sugere-se um percurso com início no piso 1, onde está o restaurante Balcony, aberto ao público. Depois, subir ao sexto andar e vir descendo até ao segundo, deixando o rés do chão para o final. Aqui, a ondulante escadaria central do hall faz sonhar com glamorosas viagens de paquete, assim como o ritual de ir tomar uma bebida ao final da tarde no Vapore Bar e Lounge. Fica uma curiosidade: no início do século passado, a chegada do navio da Insulana aos portos açorianos designava-se como Dia de São Vapor, e era uma festa. Que assim seja a estada no Grand Hotel Açores Atlântico, onde todos são bem-vindos a bordo.
Grand Hotel Açores Atlântico > Av. Infante D. Henrique, 113, Ponta Delgada, São Miguel > T. 296 302 200 > a partir de €180
Viajar no prato
O Balcony, restaurante do hotel, merece uma visita por si só
Os jantares vínicos acontecem duas vezes por ano, em março e em novembro. Consecutivamente esgotados, convidam a uma viagem enogastronómica sempre diferente, com um menu especial e um produtor vinícola convidado. “Muitas vezes começam e terminam nos Açores, mas vamos a outras regiões, aliando muito daquilo que é o nosso produto local. Têm um quê de vinho, produto e cultura e implicam uma investigação profunda”, diz o chefe de cozinha, José Gala. Nesta edição, viajou-se pelo Tejo, ao sabor de ostras, salicórnia e algas, peixe seco, codorniz, coelho, marmelada e café da ilha Terceira. Para acompanhar, os vinhos de influência atlântica da Quinta do Chocapalha, “arintos com frescura, um branco com mais madeira, um tinto feito com castelão”, explica o chefe de sala, Acácio Oliveira, que criou a carta de vinhos do Balcony com base na diversidade. Tem cerca de 150 referências “e algumas coisas pelas quais marcamos a diferença, caso dos vinhos sem álcool e dos sem sulfitos”.
O Balcony serve jantares à carta ou com menu de degustação. “É uma cozinha de sabor com identidade, um fine dining de conforto. Os Açores têm muitos produtos, chamamos a atenção para isso, depois vamos ao que o País também tem de bom”, diz o chefe. No final de novembro, a nova carta há de trazer outros sabores, “mas há coisas que não retiramos, como o nosso arroz cremoso feito com as algas do Faial”, garante o chefe. Nos vinhos, Acácio Oliveira vai incluir “o orange wine e o primeiro espumante certificado dos Açores, 100% arinto brut nature de 2017”. Seg-dom 19h-22h > menus de degustação €75 a €150 (inclui um copo de vinho, escolhido pelo sommelier, para acompanhar cada um dos pratos), suplemento de vinhos €15