É quase impossível falhar a entrada do Grand Hotel Açores Atlântico, na marginal de Ponta Delgada, junto às Portas do Mar. As arcadas da fachada distinguem este edifício histórico da cidade que, no século XIX, foi a casa de Thomas Hickling, o primeiro cônsul norte-americano em São Miguel, e mais tarde, em 1965, transformado pelo Grupo Bensaúde no hotel São Pedro, um dos mais elegantes e luxuosos na Europa à época.
O guardião da porta deste cinco estrelas é o jovem trintanário Hugo Miranda, que de sorriso rasgado dá as boas-vindas aos hóspedes. A hospitalidade açoriana há de sentir-se ao longo da estada e a herança marítima transparece a cada canto. “As pessoas vivem muito a história do hotel, inspirada na Empresa Insulana de Navegação, fundada em 1871 pelos proprietários”, destaca o diretor, Jorge Xavier, chegado há unidade há pouco mais de um mês.
Do hotel, partimos a pé à descoberta de Ponta Delgada, com paragens sugeridas no Museu Carlos Machado, nas Portas da Cidade e na Igreja Matriz de São Sebastião. De carro, num fim de semana prolongado, pode explorar-se a ilha de São Miguel, a maior dos Açores, com toda a calma.
A todo o vapor
Das varandas dos quartos virados para o mar arregala-se a vista, com o imenso espelho de água do Atlântico. Ao mesmo tempo, apreciam-se os mergulhos no pesqueiro, nome dado pelos locais à piscina natural das Portas do Mar, localizada do outro lado da avenida, junto ao porto onde também atracam os navios de cruzeiro. O hotel até tem uma apetecível piscina interior de água quente, mas dar um mergulho de mar, estando a tão curta distância, é coisa a que poucos hóspedes resistem.
Os 140 quartos, de várias tipologias, estão decorados com gosto, numa combinação de madeira escura e pormenores originais, como a estrutura de veludo em verde-sálvia que serve de cabeceira e se repete na parede oposta, melhorando a insonorização e, por conseguinte, a qualidade do sono, já beneficiada pela superioridade dos têxteis de cama.
Por onde quer que se passe, do hall de entrada ao sexto andar, sucedem-se as memórias da Empresa Insulana. Maquetas de navios, mapas, um escafandro, retratos antigos e outros objetos da vida a bordo integram a decoração da autoria de Paulo Lobo, contando a história dos navios, portos e viagens feitas pela companhia marítima.
Sugere-se um percurso com início no piso 1, onde está o restaurante Balcony, aberto ao público. Depois, subir ao sexto andar e vir descendo até ao segundo, deixando o rés do chão para o final. Aqui, a ondulante escadaria central do hall faz sonhar com glamorosas viagens de paquete, assim como o ritual de ir tomar uma bebida ao final da tarde no Vapore Bar e Lounge. Fica uma curiosidade: no início do século passado, a chegada do navio da Insulana aos portos açorianos designava-se como Dia de São Vapor, e era uma festa. Que assim seja a estada no Grand Hotel Açores Atlântico, onde todos são bem-vindos a bordo.
Grand Hotel Açores Atlântico > Av. Infante D. Henrique, 113, Ponta Delgada, São Miguel > T. 296 302 200 > a partir de €180
Viajar no prato
O Balcony, restaurante do hotel, merece uma visita por si só
Os jantares vínicos acontecem duas vezes por ano, em março e em novembro. Consecutivamente esgotados, convidam a uma viagem enogastronómica sempre diferente, com um menu especial e um produtor vinícola convidado. “Muitas vezes começam e terminam nos Açores, mas vamos a outras regiões, aliando muito daquilo que é o nosso produto local. Têm um quê de vinho, produto e cultura e implicam uma investigação profunda”, diz o chefe de cozinha, José Gala. Nesta edição, viajou-se pelo Tejo, ao sabor de ostras, salicórnia e algas, peixe seco, codorniz, coelho, marmelada e café da ilha Terceira. Para acompanhar, os vinhos de influência atlântica da Quinta do Chocapalha, “arintos com frescura, um branco com mais madeira, um tinto feito com castelão”, explica o chefe de sala, Acácio Oliveira, que criou a carta de vinhos do Balcony com base na diversidade. Tem cerca de 150 referências “e algumas coisas pelas quais marcamos a diferença, caso dos vinhos sem álcool e dos sem sulfitos”.
O Balcony serve jantares à carta ou com menu de degustação. “É uma cozinha de sabor com identidade, um fine dining de conforto. Os Açores têm muitos produtos, chamamos a atenção para isso, depois vamos ao que o País também tem de bom”, diz o chefe. No final de novembro, a nova carta há de trazer outros sabores, “mas há coisas que não retiramos, como o nosso arroz cremoso feito com as algas do Faial”, garante o chefe. Nos vinhos, Acácio Oliveira vai incluir “o orange wine e o primeiro espumante certificado dos Açores, 100% arinto brut nature de 2017”. Seg-dom 19h-22h > menus de degustação €75 a €150 (inclui um copo de vinho, escolhido pelo sommelier, para acompanhar cada um dos pratos), suplemento de vinhos €15