Numa Lisboa cravada de gruas, é bom saber que ainda há quem esteja interessado em recuperar o edificado antigo, ao invés de esventrar o seu miolo deitando abaixo anos de História. Pensamos nisto, enquanto caminhamos pelas ruas da Baixa, onde o comércio tradicional sucumbe a lojas de marcas, restaurantes de toldos pretos, todos iguais, e hotéis. Não somos contra o turismo, é aliás graças a ele que se recuperou esta parte da cidade que estava podre, mas não vale tudo.
Quando Maria Eugenia Ocantos e Pedro Ramos encontraram um prédio na Rua dos Douradores, este nunca tinha tido obras desde a sua construção no primeiro quartel do século XIX. Os amigos (ela argentina, ele português) ambicionavam transformá-lo num alojamento-boutique e o achado revelar-se-ia melhor do que a encomenda. Um sem-fim de frescos de diferentes épocas, descobertos durante as obras, dão o tom para a decoração dos 13 apartamentos que compõem a Antiga Casa Pessoa.
A reabilitação foi entregue ao arquiteto José Adrião, que procurou honrar o passado e a história do edifício – reformou-se a gaiola pombalina, alguns dos apartamentos têm intactas as vigas dos tetos, agora pintadas de branco, as enormes portadas das janelas também foram mantidas e as chaminés de pedra transformadas em armários abertos para a roupa.
As pinturas a fresco nas paredes não foram restauradas, mas apenas limpas e deixadas assim mesmo. Em 2021, estava o edifício pronto, o projeto de reabilitação era destacado pela Fundação Calouste Gulbenkian, com uma Menção Honrosa do Prémio Gulbenkian Património – Maria Tereza e Vasco Vilalva.
A Antiga Casa Pessoa (o nome deve-se a uma casa de pasto que existiu no rés do chão) tem apartamentos T1, T2 e um T5 (este em duplex), com cozinha completa. A decoração é simples e bonita, feita de peças diferentes e apontamentos de marcas portuguesas. Depois de uma noite bem dormida, abrimos as janelas viradas para as tílias em flor e sorrimos.
Antiga Casa Pessoa > R. dos Douradores, 192, Lisboa > Reservas: antigacasapessoa.com > a partir de €199,50
Aqui à volta
A Lisboa dos turistas ainda guarda boas surpresas
Restaurante Dois Arcos Comida portuguesa bem feita, a preços que já não se encontram por aí. Por uns jaquinzinhos (do Mercado da Ribeira) fritos com arroz de tomate, que era prato do dia, uma imperial e um leite-creme, pagámos 11 euros. R. dos Douradores, 192 > encerra dom
Arco da Rua Augusta Subindo ao terraço, com passagem pela Sala do Relógio, a panorâmica de 360º do centro histórico e ribeirinho é espetacular. Seg-dom 10h-19h > €3,50, crianças até aos 5 anos grátis
Franco Gravador Nesta loja onde se gravam placas, Dulce Franco Matos, filha do fundador e gerente, guarda um segredo: carimbos com desenhos de grafismo popular, como andorinhas, barretes, bacalhaus, joaninhas. Uma delícia. R. da Vitória, 40 > seg-sex 10h-13h, 15h-19h