Podíamos começar com um mergulho, para falar das duas piscinas (uma de água doce, outra salgada), onde em tempos tocava uma orquestra durante as horas do banho. Ou por um passeio até ao cais de desembarque, transformado em solário com acesso direto para o mar, para dizer que este foi, durante muitos anos, a entrada dos hóspedes do hotel. Do navio ancorado ao largo do Funchal para o bote; do bote para o cais e depois escada acima, não havendo estatuto que lhes valesse.
Aberto em 1891, faz 125 anos no próximo dia 1 de novembro, o Belmond Reid’s Palace tem história, e histórias, de sobra para contar. Mas há algo que o torna único: o chá das cinco, servido à melhor maneira inglesa na varanda principal, e que vale a experiência, para fazer pelo menos uma vez na vida. É nestas cadeiras, onde já se sentaram figuras ilustres como Winston Churchill, Sissi da Áustria, George Bernard Shaw, John Houston e Gregory Peck, que nos encontramos. À hora marcada – viva a pontualidade britânica –, começa o rodopio de empregados vestidos de casaca branca, para trazer à mesa os pratos de três andares com uma seleção de finger sandwiches (pepino, queijo, salmão, abacate e camarão), deliciosas miniaturas de bolos, e ainda manteiga, compotas e natas batidas para os scones, que hão de chegar depois. Escolhido o chá (a lista inclui 23 variedades), dizem as regras que só depois de comer os salgados se está autorizado a tocar nos doces. Vem tudo explicado no livro I Had Tea at Reid’s, da coleção The Most Famous Hotels in the World, à venda no hotel e que se apresenta como a companhia ideal para o caso de estar sozinho (o chá das cinco custa €33,50 por pessoa e está aberto a não hóspedes, sendo necessário fazer marcação). Ali se lê que o leite deve ser deitado na chávena depois do chá, como prova da qualidade da porcelana (quanto mais fina, mais resistente ao calor). E que, no final, o guardanapo não deve ser posto em cima da mesa, mas no braço da cadeira.
Muitos dos que hoje se sentam na varanda são repetentes, habituados a vir todos os anos. E entre os turistas (na maioria ingleses) que ficam no Reid’s, apenas 20% são portugueses. Números que o hotel gostaria de mudar, tendo lançado recentemente uma tarifa especial para o mercado nacional. Já no “novo” restaurante William – assim chamado numa homenagem ao fundador, o escocês William Reid –, servem-se os melhores ingredientes da Madeira, confecionados pela equipa do chefe executivo Luís Pestana, sob a supervisão de Joaquim Koerper (do restaurante Eleven, em Lisboa). O preço médio da refeição ronda os 80 euros e exige-se dress code. Afinal este é um hotel de cinco estrelas e à antiga, onde não faltam as salas de bridge e de snooker e até se dança a valsa num grande salão, com direito a professor
À quarta-feira e domingo, a partir das 15 e 30, os jardins do Reid’s estão abertos ao público para visitas (€15 por pessoa). Ao todo são quatro hectares repletos de plantas tropicais e espécies raras para explorar, sempre com o Atlântico em redor.
Belmond Reid’s Palace > Est. Monumental 139, Funchal, Madeira > T. 291 717 171 > €215 (quarto clássico), €265 (quarto superior), com pequeno-almoço