1. Anomaly, em Lisboa
Joana Matos trabalhou durante anos numa empresa de venda de roupa em segunda mão ao quilo até que, em 2023, decidiu investir num negócio próprio e abriu a Anomaly, no 8 Marvila, em Lisboa. “É mais do que uma loja vintage tradicional, com peças desde as décadas de 70 a 90; é um espaço para despertar consciências e descobrir peças em segunda mão de qualidade”, diz-nos Joana, a partir de Itália, onde se encontra à procura de artigos, que podem ser de marcas como a Maison Margiela, Burberry ou Rabanne, para a loja. A ideia será sempre colaborar com projetos ligados à economia circular, nomeadamente os blazers com pequenos defeitos a que Marta Maia Loureiro dá nova vida com bordados, patchwork e outras técnicas. “Há um valor acrescentado ao comprar este tipo de peças. São únicas, têm personalidade e qualidade, como uma camisola de malha em lã de alpaca, que dura várias décadas e se compra por um valor mais baixo”, defende. “Não há regras para vestir, não sigo as tendências, cada um deve usar o que o faz sentir confortável.” Cerca de 60% das peças da Anomaly são clássicos intemporais, como camisas, blazers, bijuteria, artigos em pele e raridades. 8 Marvila > Pç. David Leandro da Silva, 8 > qui-dom 12h-20h
2. Calli Fashion, em Lisboa
Se há coisa que distingue as duas lojas Calli Fashion, ambas na Avenida Almirante Reis, são os descontos e a variedade. Desta quinta, 1, a sábado, 3, quem passar pelo número 127 A pode encher um saco de roupa e acessórios por apenas dez euros, mas costuma haver descontos a partir de 20% até aos 50%. Estas iniciativas, segundo Farrah Keddeh, libanesa, a viver em Portugal, e uma das responsáveis pelo negócio, permitem que mais pessoas possam comprar e, ao mesmo tempo, criam um espírito de comunidade. E há de tudo e a preços bastante acessíveis, a começar nos três euros. “A ideia é reciclar o mais possível e encorajar a mudar para um estilo de vida mais sustentável. Aliás, também doamos a associações muitos artigos que não fazem sentido pôr na loja e emprestamos peças a projetos culturais”, conta. A oferta é diferente em cada Calli Fashion – abrirão mais três ainda neste ano, em Lisboa e nos arredores. No número 77 da Almirante Reis, os charriots enchem-se de básicos, dos tops aos artigos desportivos, calças ou sweatshirts, enquanto no 127 A se encontram casacos, jeans, camisas, malhas e vestidos. Todas as semanas, há novidades. Av. Almirante Reis, 127 A e 77, Lisboa > seg-dom 10h-19h
3. Pop-Closet, em Lisboa
Poucos passos separam as duas lojas Pop-Closet no Chiado: a primeira, na Calçada do Sacramento, abriu em 2017; a segunda, na Rua Almirante Pessanha, fará dois anos em março. No conjunto, já venderam 30 mil peças de roupa e acessórios em segunda mão, contabiliza António Branco. A oferta, baseada em peças entregues à consignação, considera o dono da Pop-Closet, é o grande fator diferenciador das lojas. “Conseguimos ter artigos em segunda mão mais atuais, outros de marcas boas que deixaram de existir e, fruto das entregas de estrangeiros, marcas que não existem cá.” A curadoria é feita peça a peça, tendo em conta o design e a qualidade, assim como as marcas – etiquetas de fast fashion não entram, claro. Se na Pop-Closet da Calçada do Sacramento se encontram peças a partir de 15 euros (até meados de fevereiro ainda há saldos), a loja mais recente é dedicada às marcas de luxo (mais caras), para responder à crescente procura. “Estas pessoas querem ver só estas peças, sem terem de andar à procura no meio de outras”, explica António. Nos expositores tanto mostram lenços de seda Hermès como um tote bag Gucci, umas botas Chanel ou uma peça de arquivo (que já não se produz mas é icónica pelo design ou materiais). R. Almirante Pessanha, 10, Lisboa > Cç. do Sacramento, 48, Lisboa > seg-sáb 12h-20h, dom 12h-18h
4. Sons of the Silent Age, em Lisboa
Um dos segredos da Sons of The Silent são os casacos de estilo motard, em pele e pintados à mão. Verdadeiras obras de arte que já correm mundo, seja na mala de um turista seja vestidos por elementos da banda rock zambiana Witch. “Começámos em casa, durante a pandemia, e agora até já somos procurados para fazermos colaborações”, conta Tiago Andrade, um dos responsáveis desta loja, na Baixa de Lisboa, e uma referência no mundo do vintage e da segunda mão. “Quando eu e o Bruno Lopes abrimos a Ás de Espadas, em 2010, ninguém conhecia o conceito das lojas vintage e de segunda mão”, diz. Hoje, têm sete lojas, cada uma com a sua especificidade. Na Rua Áurea, a última a abrir, a oferta está dividida em três categorias: Vintage, com uma seleção de peças especiais, como os casacos em malha mohair; Red, que reúne artigos fetichistas, confecionados, por exemplo, em látex; e a Gold, com marcas como a Miu Miu, Alexander McQueen ou Dolce & Gabbana. Para Tiago, “o mais interessante nestas lojas é a surpresa de encontrar uma peça especial e a certeza de que ninguém vai ter igual”, e acrescenta: “Há também o lado poético da peça, da história que esta nos conta.” A oferta é variada e ousada, sempre atenta às tendências atuais, mas é a curadoria de Tiago e de Bruno que dá o cunho especial a esta Sons of the Silent Age, que tem uma “irmã” na Calçada do Combro. R. Áurea, 172-174, Lisboa > Cç. do Combro, 99, Lisboa > seg-dom 10h30-19h
5. Yeahllow, no Porto
Beatriz Rei Lima, de 30 anos, trabalhou na área de comunicação e marketing de moda, mas foi depois de viver em Londres que teve a ideia de abrir uma loja de artigos de luxo em segunda mão. A Yeahllow nasceu há quatro anos, através do online e de lojas temporárias na zona do Grande Porto. Desde abril de 2023, ganhou um espaço próprio na zona do Aviz. O trabalho de “curadoria das peças” é um dos pontos fortes deste projeto: “Só vendemos peças de marcas de luxo, avaliadas e testadas pela equipa de autenticação”, diz Beatriz. Dos 25 designers internacionais no portefólio (em que se incluem Balenciaga, Chloé, Prada, Fendi ou Dior), há cinco no topo de vendas: Louis Vuitton, Chanel, Burberry, Gucci e Hermès, sobretudo malas e acessórios, mas também roupa de mulher, homem, criança e decoração. Em lista de espera tem sempre clientes para as malas Birkin ou Kelly da Hermès. O cliente da Yeahllow é maioritariamente feminino, com uma média de idades entre os 25 e 45, mas 70% das vendas resultam da loja online para os Estados Unidos da América, França, Itália, Espanha e Suíça. F.A. Edifício do Infante, Av. da Boavista, 3769, loja 10, Porto > T. 93 600 8603 > seg-sex 10h-13h, 14h-19h
6. Refuse, em Lisboa
Há 13 anos, numa viagem a Amesterdão, Laura Vieira comprou uma carteira muito especial, em segunda mão, que viria a inspirar a abertura da Refuse. “Nessa altura, eles já estavam muito à frente neste negócio. A carteira não era o último grito, mas era de uma época diferente e de qualidade”, conta a mentora desta loja de roupa e acessórios de luxo em segunda mão, no Bairro Alto. Laura pensou na Refuse “como uma boutique com atendimento personalizado”. Há vestidos de festa e peças para ocasiões especiais, casacos e blusões, calças (à exceção de jeans), saias, camisas e muitas carteiras de marcas como a Maje, Sandro, Ba&sh, Ulla Johnson, Max Mara, Louis Vuitton, Prada, Céline ou Givenchy. São maioritariamente peças entregues à consignação (ficam por três meses) e outras que Laura adquire para completar e diversificar a oferta. “Estamos sempre a falar de coisas de qualidade e com um toque de originalidade, que tanto dão para o dia a dia como para um jantar formal.” R. da Horta Seca, 24, Lisboa > seg-sáb 11h-15h, 16h-18h, dom 13h-19h
7. O’Kilo, no Porto e em Guimarães
A ideia é simples: percorrer os dois pisos desta loja, na Rua de Santa Catarina, no Porto, escolher o que se quer (entre roupa e acessórios para homem, mulher e criança, divididos por cores) e pousar tudo numa balança. O preço é feito de acordo com o peso: dez euros por cada quilo de roupa em segunda mão – trazida de França, tratada e desinfetada em Portugal. Para perceber melhor, pesámos seis peças avulsas: um blazer, dois calções de homem, duas blusas de senhora e um vestido, o que somou 16,95 euros (as seis peças pesavam 1,695 gramas). O negócio de O’Kilo foi trazido para o Porto, em dezembro de 2021, pelo francês Matheo Carvalho. Apesar de reconhecer que há um caminho a percorrer, “porque os portugueses não estão habituados a comprar roupa usada”, há cerca de dois meses abriu uma segunda loja, em Guimarães, e outra em Cormeilles-en-Parisis, Paris. Em 2024, a marca conta expandir-se para Amesterdão e Luxemburgo. F.A. R. Santa Catarina, 601, Porto > T. 22 112 4255 > seg-dom 10h-19h > Al. São Dâmaso, 43, Guimarães > ter-sáb 10h-19h
8. Black Mamba, em Lisboa
Desde 2014 que Carlota Capitão de Sousa, de 33 anos, se move no mundo da roupa em segunda mão. Em dezembro passado, instalou-se no novo 8 Marvila, numa das lojas que apetrechou com móveis antigos e varões feitos com galhos de árvore pendurados em cordas. “Comecei com um showroom à porta fechada, nas Amoreiras. Só quem me seguia nas redes sociais e os amigos é que sabiam onde era”, conta. Ao mesmo tempo, fazia figurinos e styling como hobbie, mas foram os elogios ao que Carlota vestia e comprava em mercados que a fizeram pensar que podia ter ali um negócio. Da antiga localização trouxe o que tinha (blazers, camisas, vestidos, malhas…), mas a ideia é apostar no vintage. “A qualidade é melhor, dos tecidos às costuras, por isso duram mais”, defende. Além disso, tem peças diferentes, que já não se fazem, desde os cortes mais clássicos ao estilo roqueiro e desportivo. Na Black Mamba, a oferta não se distingue pelo género. “Se uma pessoa gosta e se lhe serve, é porque é para ela. Gosto de ver homens com camisas de mulher e mulheres com casacos de homem, por exemplo”, afirma Carlota. Ainda a perceber o que sai melhor, por agora já pode dizer que são os coletes. “Não estava à espera, mas será por estarem na moda, embora aqui não se sigam tendências.” 8 Marvila > Pç. David Leandro da Silva, 8 > qui-dom 12h-20h
9. Aq2, em Lisboa
Julie Nobrega e Anthony Bogas da Costa são os responsáveis pela Aq2, uma loja de roupa em segunda mão, em São Bento, onde a seleção de artigos, feita peça a peça, é o segredo. “É para um público a partir dos 30 anos, homem e mulher, que gosta de peças clássicas, de qualidade e de marcas reconhecidas”, diz Julie. Com o mercado de segunda mão pouco desenvolvido em Portugal, o casal apostou primeiro, em maio do ano passado, na Arquívos, uma loja vintage, onde o destaque é o streetwear, com artigos de tendência e para uma geração mais jovem. Em dezembro passado, abriram a Aq2. “Acho que tenho olho para encontrar peças que se destacam. É importante escolher artigos que assentem bem e não fiquem só bonitos no cabide”, diz Julie. R. de São Bento, 394, Lisboa > Arquívos > R. de Santo Amaro, 6 A, Lisboa > seg-sáb 11h-19h30, dom 11h-18h
Menos é mais: Vender e comprar roupa usada em plataformas online
Todos os anos, os portugueses deitam 200 mil toneladas de roupa para o lixo, indica a Agência Portuguesa do Ambiente. Mas aquilo que já não usamos pode (e deve) ter outro fim. Sim, a indústria têxtil é das mais poluentes do mundo, desde a produção até ao fabrico, transporte e uso.
Nas plataformas de compra e venda de roupa usada, como a lituana Vinted ou a espanhola Wallapop, qualquer pessoa pode anunciar coisas tão diversas como vestuário, calçado ou até livros. O caminho da economia circular também começa a ser trilhado pelas marcas de moda de consumo rápido (fast fashion). No final do ano passado, a gigante Zara lançou em 14 mercados europeus, incluindo Portugal, a plataforma Pre-Owned, onde os clientes podem prolongar a vida da sua roupa através de serviços como reparação, venda de artigos da Zara entre clientes ou doação, disponíveis no site, na aplicação móvel e nas lojas físicas da marca. Já a francesa Kiabi tem à disposição o 2ª Mão by Kiabi em todas as lojas nacionais, com artigos usados de homem, mulher e criança em bom estado.
O compromisso com a sustentabilidade e o ambiente também levou a grande distribuição a seguir um caminho mais verde. Hipermercados como o Continente e o Auchan, em parceria com plataformas de venda nacionais, criaram em algumas das lojas zonas dedicadas à roupa em segunda mão. O [Re] Style do Continente é promovido com a ajuda da Retry e vende vestuário de homem e mulher de várias marcas, já o Auchan associou-se à My Cloma para disponibilizar roupa de homem, mulher, criança e acessórios.