Aqui não há ideias esquisitas. E quanto mais “fora do baralho”, melhor. Do ID Pool – International Design Pool, o laboratório criativo da Vista Alegre, a funcionar desde 2011 no bairro operário de Ílhavo, têm saído alguns dos objetos premiados da marca: o serviço Orquestra, criado por David Raffoul e Nicolas Moussallem e distinguido pela revista Wallpaper na categoria Best Coffee and Cake, as caixas Plissé, de Diana Borges, vencedoras em 2015 de um Red Dot Award, ou o serviço Transatlântica, um best-seller, desenvolvido pelo designer brasileiro Brunno Jahara em 2013. Todas concebidas durante as residências artísticas no ID Pool e todas peças originais, inovadoras e modernas, adjetivos que até há poucos anos não assentavam na produção da centenária Vista Alegre –VA.
Criado há cinco anos com o objetivo de trazer sangue novo e contemporaneidade ao portfólio da marca, o ID Pool tem sido procurado por vários artistas, designers e estudantes que aqui vêm mostrar do que são capazes, durante um período de tempo que pode ir de um a três meses. Os escolhidos para integrar as residências têm direito a alimentação, a viver num palacete recuperado no centro do bairro operário, e a trabalhar numa sala junto à equipa de designers da marca e em grupo com os outros residentes, num máximo de cinco pessoas. “No ID Pool a imaginação não tem limites. Criam-se peças experimentais, fora do que seria habitual na Vista Alegre”, afirma Nuno Barra, diretor de marketing e de design externo do Grupo Vista Alegre Atlantis. Em 4 anos, já passaram por ali cerca de 50 ou 60 artistas de várias partes do mundo, contabiliza Alda Tomás, uma das 11 designers da casa e coordenadora deste departamento.
Flávia Del Pra, paulistana de 43 anos, chegou há cerca de um mês. Veio inspirada pelo sucesso do trabalho de Brunno Jahara, seu conterrâneo. Ceramista, começou por pôr as mãos “na massa” e desenvolver um molde do seu projeto, um conjunto de pires e chávena. “É apenas o início, ainda tem que ser trabalhado”, esclarece. No final, a peça de Flávia refletirá a influência da azulejaria portuguesa e da obra do ceramista brasileiro Athos Bulcão. “Ainda estou a experimentar, mas estou muito feliz de estar aqui”, diz, com um sorriso.
Em cima de um armário do ateliê repousa outro molde, feito por Karina Mir, 26 anos, natural da Cidade do México. É um porquinho mealheiro, um dos primeiros presentes que se dá a uma criança no seu país e pensou trabalhá-lo para a linha gift da marca. “Ainda não está acabado, vou incorporar um destes desenhos”, explica, apontando para uns esboços coloridos pendurados na parede que misturam a azulejaria tradicional mexicana e a história da Vista Alegre. Também a holandesa Mieke Cuppen, 31 anos, está por cá agora em residência. O fascínio pelos chefes de cozinha e pela forma como estes apresentam os seus pratos levou-a a desenvolver peças que possam vir a ser utilizadas por estes nos seus restaurantes.
Se tudo correr bem e as peças destas três designers forem aprovadas, seguirão para a linha de produção e, mais tarde, para as lojas Vista Alegre. Nesse caso, os royalties estão assegurados e os seus nomes passam a estar para sempre associados à marca portuguesa. Caso contrário, levam de Ílhavo uma experiência única – a de trabalhar sem amarras e com alguma dose de loucura.