De vez em quando, ouve-se um apito, sinal de que a fábrica está em laboração. As caldeiras, fermentadores e tanques de serviço metálicos da Browers Beato estão à vista de todos, mas o mundo da cerveja artesanal ainda é desconhecido para a maioria dos portugueses.
“Convidamos os amigos para beber uma cervejinha, ao passo que somos capazes de lhes oferecer um branco do Douro ou um tinto do Alentejo”, constata Tiago Brandão, diretor-geral desta empresa-satélite do grupo Super Bock. A ambição, diz o engenheiro bioquímico, é fomentar a cultura da cerveja, criar um hábito, e é por isso que esta microcervejeira é uma fábrica aberta. “Existem mais de 130 estilos de cerveja, um manancial de experiências enorme”, sustenta.

Os arquitetos Eduardo Souto de Moura e Nuno Graça Moura mantiveram o ar industrial do pavilhão de 700 metros quadrados onde antes se produzia a energia que alimentava o complexo da Manutenção Militar. Hoje, o conjunto de edifícios está transformado em Beato Innovation District, um centro de inovação na zona oriental de Lisboa.
Maridagens
O projeto da Browers Beato desenvolve-se a partir de uma peça central: um longuíssimo balcão, de 32 metros, que Souto de Moura traçou como uma linha que divide a fábrica da zona de restauração, com 110 lugares sentados.

Ao chefe Luís Gaspar (dos restaurantes Sala de Corte e Pica-Pau, do grupo Plateform, parceiro do projeto) coube pensar a ementa que casa com as cervejas artesanais – são sete, de diferentes estilos, servidas em copo (€2-€6). Aliás, no menu (em forma de individual, em papel) é dada a indicação dessa maridagem.
O pão de Mafra, manteiga dos Açores e azeitonas marinadas abrem o desfile de alguns clássicos de uma cervejaria portuguesa: o casco de sapateira (€12) vai bem com a brown ale, de cor âmbar, inspirada na tradição britânica; a gamba da costa (€9) com a Beato lager, a “loirinha” da Browers, de sabor suave e refrescante, enquanto a saladinha de polvo (€12) e a açorda de gambas (€16) combinam melhor com a blanche, uma cerveja de malte de trigo ao estilo belga, ligeiramente turva e de espuma cremosa, cujo sabor a sementes de coentros e casca de laranja corta a acidez e o amargor.

Nas carnes, para os croquetes de novilho (€4) sugerem uma IPA (India Pale Ale) de sabor amargo, para o pica-pau do lombo (€18) a kellerbier, uma lager equilibrada. E se alguém disser que a cerveja não é uma bebida para acompanhar uma sobremesa, provavelmente vai mudar de opinião quando provar umas natas do céu (€4) com uma nitro stout, de cor preta e espuma cremosa, com pouco gás (utiliza-se nitrogénio em vez de dióxido de carbono para carbonatar a cerveja) e notas de café torrado e chocolate.

Os adeptos do balcão vão gostar de saber que os petiscos frios e quentes são servidos a qualquer hora, a partir do meio-dia. Já os pratos de peixe e carne servem-se dentro dos horários de almoço e jantar, e apenas nas mesas.
Nos planos da equipa da Browers Beato está a possibilidade de pedir um tabuleiro de prova com quatro cervejas (nas 12 torneiras, há também lugar para edições limitadas da Browers). Na antiga central de controlo transformada em palco querem ter uma programação regular com concertos e workshops, e estão ansiosos para abrirem a esplanada, assim a chuva dê tréguas de vez.
Será também ao ar livre que querem voltar a organizar o Beer Ato, festival que junta comidinhas, concertos, DJ sets e muita, muita, cerveja da casa e de umas quantas marcas convidadas.
Browers Beato > Beato Innovation District > Tv. do Grilo, 1, Lisboa > dom-qua 12h-23h, qui-sáb 12h-24h
