Após muitas curvas e contracurvas, na Estrada Nacional 222, quase sempre com o rio Douro a correr ao lado, chega-se ao Pinhão. Junto ao centro da vila, fica a Quinta do Bomfim, propriedade da Symington Family Estates, onde Pedro Lemos e Joana Espinheira, a mulher, acabam de abrir um restaurante temporário. Em três semanas, instalaram-se na Casa dos Ecos, para servir 60 pessoas, entre a sala e o terraço. Ali, revela o chefe de cozinha, compôs uma carta com a “gastronomia de quinta”.
“Sentimos necessidade de explorar outros caminhos, de mostrar o outro lado”, dirá Pedro Lemos, já depois do nos sentarmos. No restaurante homónimo da Foz, no Porto, com uma Estrela Michelin, mantém o fine dining, para no Douro – onde esteve, há 12 anos, na cozinha da Quinta da Romaneira – fazer “o elogio da cozinha típica da região duriense”, em pratos confecionados de acordo com técnicas tradicionais, incluindo o forno a lenha.
É preciso subir entre os vinhedos, até ao cimo da propriedade, para encontrar a Casa dos Ecos, onde já nos espera um Porto Tónico (Graham’s Blend nº 5), fresquíssimo. No terraço, com vista sobre o rio Douro e a vila do Pinhão, o tempo parece parar. Ninguém fica indiferente a este lugar, nem à longa história da produtora de vinhos ligada ao Douro, desde que o escocês Andrew James Symington chegou à região, em 1882. “É um lugar espetacular”, afirma Pedro Lemos, “para quem quer fugir dos centros urbanos”.
Até novembro, na Casa dos Ecos, provam-se os genuínos produtos da terra e os vinhos da Symington, grande parte produzidos na Quinta do Bomfim. Já à mesa, guarde-se a máscara e deixe-se o vírus de lado por umas horas, para dar início à refeição que começa com broa de milho, azeite da quinta e folar transmontano, sem carnes (couvert €6).
A “carta de comidas”, como lhe chamam, lembra-nos que não há melhor do que pessoas simples, a praticar a arte de bem receber. E aqui serve-se o Douro à mesa, sem complicações, em pratos como o carapau de escabeche (€8) e a sopa do lavrador (€7), acompanhados de um Altano Branco Reserva 2018.
Por esta altura, já a tarde vai longa e o sol mantém-se firme no horizonte. É preciso refrescar o palato com um Quinta do Vesuvio 2016. Ainda falta provar os milhos com costelas em vinha de alho assadas no forno e grelos de couve (€18 a €30) e o arroz de pato (€20 a €35), dois clássicos, com um toque aprimorado, se assim se pode dizer, a saber como antigamente. “Muitos dos pratos, como os milhos e o arroz de pato, já os fazíamos para o pessoal, ao fim de semana”, conta o chefe de cozinha. E nós, só temos a agradecer.
Para sobremesa, chega uma tarte de maçã, ligeiramente caramelizada, com uma base folhada e nata batida com creme de limão (€6), mas não saímos da mesa sem provar a queijada de alfazema (€6) e o Quinta do Bomfim 2006 Vintage Port. Pedro Lemos regressa a um lugar onde já foi muito feliz, tanto mais que a região duriense faz parte da sua vida. “Não há como fugir disso. Aqui, o tempo e os dias parece que não acabam”, confessa.
Ao contrário de outros anos, não há grupos de visita às vinhas da quinta. No entanto, adianta Johnny Symington, chairman da Symington Family Estates, os turistas estrangeiros já começam a chegar, aos poucos, depois de meses de confinamento. “Os portugueses também procuram esta tranquilidade e paz, ao ar livre, em alternativa à praia”. Afinal, o Douro tem outro encanto, mais ainda depois de um repasto assim.
Casa dos Ecos > Quinta do Bomfim, Pinhão > T. 93 545 2975 > ter-dom 12h-20h30