Costuma-se dizer que a necessidade aguça o engenho. E no caso de Ana Fernandes Rodrigues, formada em Ciências de Comunicação, pela Universidade Nova, e pós-graduada em Digital Experience Design, pela Faculdade de Belas-Artes, a máxima aplica-se na perfeição. Ana lançou o Go Small or Stay Home, uma plataforma online que agrega pequenos negócios de bairro, desde mercearias, peixarias, talhos e padarias. A ideia surgiu, conta esta alentejana de 27 anos, “porque não conseguia encontrar na zona onde moro, em Lisboa, alternativas às grandes superfícies comerciais”. Lançou o desafio nas redes sociais e o projeto rapidamente foi encontrando bases e um propósito.
Depois de ter explorado o comércio local na sua zona de residência, lembrou-se de acrescentar os negócios que conhecia em zonas de Lisboa onde já tinha vivido, entre elas Estefânia, Rego, Graça e Avenidas Novas. Nesta fase, explica, “contei com o contributo dos meus cinco melhores amigos e com uma folha de cálculo”, mas rapidamente “percebi que precisava de criar outro tipo de ferramenta para agregar toda a informação.”
Assim nasceu, no passado domingo, 15, a Go Small or Stay Home, com apenas 20 moradas. Nesta quinta, 19, contava já com 300 e, para lá de mercearias, peixarias, talhos e padarias, inclui agora lojas de animais, de roupa e acessórios, garrafeiras, lavandarias e ainda alguns restaurantes e cafés. Ana Rodrigues conta também com a ajuda de voluntários na melhoria da Go Small or Stay Home : “O contributo deles é fundamental”, sublinha.
Na plataforma online (gosmallstayhome.com), todos podem deixar o seu contributo, preenchendo um formulário com informação sobre o funcionamento do comércio local. Ao final de cada final de dia, no pouco tempo livre que tem, Ana, que neste momento está a trabalhar a tempo inteiro como designer de produto, tenta “confirmar tudo e acrescentar notas”. “Criar uma plataforma para a comunidade e pela comunidade foi o meu objetivo”, assegura. E dentro de Go Small Stay Home cabe um País inteiro. De norte a sul, estão reunidos os pequenos negócios que nos fazem falta no dia a dia.
Entrega à porta de casa
Foi a preocupação aliada à dificuldade em manter pais e avós em casa, a cumprir o isolamento social, que levou um grupo de amigos a desenvolver a Quietinho em Casa, uma plataforma que permite a aquisição de bens e serviços online, incluindo medicamentos, refeições, mercearia e até combustível, com entrega à porta (www.quietinhoemcasa.pt). O projeto começou por reunir seis amigos, agora conta com 12, todos voluntários, com formação em diversas áreas e menos de 30 anos de idade. “Reunimos empresas do País inteiro que garantem entrega ao domicílio de bem essenciais”, conta João Pinho, 27 anos, em nome deste grupo, que “não conseguiu ficar quietinho”, na tentativa de ajudar quem, neste momento, corre mais riscos nas saídas à rua.
Além de cerca de meia centena de empresas – o número cresce todos os dias –, a Quietinho em Casa reúne iniciativas de voluntariado, como a Vizinho amigo e a SOS vizinho. Por outro lado, na plataforma encontram-se uma série de tutoriais, muito simples, direcionados para quem não costuma usar as ferramentas digitais, mostrando, em cada página, como fazer pedidos de entrega ao domicílio, seja em farmácias, supermercados, mercearias de bairro ou restaurantes. “Além de mostrar o que está disponível queremos ensinar quem não está habituado a usar o digital e explicar passo a passo”, continua João. Por outro lado, estão a reunir pequenos comerciantes, que, geralmente, não fazem entrega, mas estão recetivos a fazer isso no bairro ou na rua.
Além de informar e incluir, a plataforma tem também como objetivo consciencializar, por isso apela ao consumo moderado de todos. “Não devemos pedir só porque nos apetece, mas por ser necessário. É preciso ponderar, ver que há na despensa e no frigorifico, e só depois encomendar”, aconselha.
O projeto – que conta com a colaboração da tech4COVID, uma comunidade que reúne muitas startups e criativos portugueses que se juntaram para combater o vírus, de forma voluntária –, está aberto a integrar outros negócios. Os interessados podem preencher um formulário ou enviar um e-mail para quietinhoemcasa@gmail.com. “É o nosso contributo para ajudar dentro desta catástrofe, tal como estão a fazer outros profissionais, deixando transparecer o melhor da nossa sociedade”, sublinha João Pinho. A Quietinho em Casa é uma nova forma de adquirir bens e serviços, acessível a todos, com entrega à porta de casa, sem risco ou grandes complicações para pais, tios e avós. Mas é também mais um soldado a ajudar nesta guerra que é de todos.