O Faz Frio reabriu há um ano, feito na semana passada, após um período de incertezas, primeiro sobre a continuidade do restaurante e, depois, sobre a preservação do espaço, que é singular, e da gastronomia, que radica na tradição portuguesa e tem como emblema o bacalhau. Ao longo dos 12 meses, foi-se confirmando, de forma tão progressiva como consistente, o respeito por esse historial, conforme prometera o novo proprietário, Jorge Marques. Por isso, lá está o balcão, diferente e melhor do que o primitivo, bem enquadrado com as lajes do chão, os azulejos dos lambris, os bancos mochos, as mesas com tampos de mármore, os desenhos com figuras lisboetas a decorar os compartimentos de madeira; e, também por isso, lá vem a comida com designações e ingredientes familiares, embora a confeção e a apresentação sejam personalizadas. O ambiente lembra o de taberna: simples e descontraído, mas com alma.
A ementa subdivide-se em dois pratos do dia – que são anunciados à segunda-feira para toda a semana (um é sempre de bacalhau, o outro de peixe ou de carne) – e perto de uma dezena de pratos da carta. Entre uns e outros, importa destacar o bacalhau à Assis, por ser o único que tem dia fixo, à sexta-feira, tal como sucedia com o bacalhau à Brás no tempo da Antiga Casa Faz Frio (curiosamente, o bacalhau à Assis lembra o à Brás, embora tenha cenoura-palha e presunto). Para começar a refeição, há camarão salteado (sem casca, do mesmo modo que o peixe não traz espinhas e a carne vem sem osso, facilitando a vida ao cliente), salada de polvo, peixinhos da horta, croquetes de alheira, pica-pau (boa carne do lombo e bons picles de chalota, couve-flor e cenoura, feitos na casa) e tábuas de enchidos, de presunto e de queijo, entre outros petiscos. Nos pratos principais, destacam-se: bacalhau à Zé do Pipo, porventura o mais vendido, feito com os ingredientes que o nome sugere, mas de modo diverso, com bacalhau fresco, maionese de coentros e puré com o toque aliciante do chefe Mateus Freire; pataniscas com arroz de tomate, este mais fiel à tradição, guloso e bem servido; ensopado de borrego com hortelã, com a carne limpa, dado que os ossos são aproveitados para fazer o molho delicioso que circunda a batata, a cenoura e o pão; cachaço de porco preto com xerém de amêijoas, numa interpretação original, com a carne muito saborosa, selada na frigideira, e excelente xerém; bitoque do lombo, naco alto e suculento com molho idêntico ao do pica-pau, ovo e batatas fritas; e cremoso de couve-flor com legumes, a opção vegetariana. Com a chegada do frio, anuncia-se o regresso da feijoada de lebre, que tem muitos seguidores.
Três doces clássicos portugueses nas sugestões para sobremesa: musse de chocolate com abóbora, laranja e amêndoa, leite-creme e pudim de gema com vinho do Porto. Garrafeira só com vinhos portugueses de várias regiões e diferentes tipos. Serviço jovem, diligente e simpático. Não se aceitam reservas, por contrariarem o espírito da casa, mas acaba de abrir uma sala, no piso de cima, para grupos de 12 a 24 pessoas.
Faz Frio > R. Dom Pedro V, 96, Lisboa > T. 21 581 4296 > ter-dom 12h-23h > €25 (preço médio)