Quando, há três anos, a arménia Karine Sarkisyan, 38 anos, chegou a Portugal, não arriscou num restaurante com a cozinha do seu país. Para aprender os gostos dos lisboetas decidiu abrir, primeiro, o Dom Afonso O Gordo, perto da Sé, especializado na cozinha portuguesa. Em setembro passado, Karine inaugurou o Ararate (nome do monte sagrado, onde, segundo a Bíblia, atracou a Arca de Noé), com pratos da sua terra preparados por Andranik Mesropyan, que conta com o apoio de uma equipa, maioritariamente arménia.
“Aqui não fazemos uma cozinha pura”, começa por explicar. “Suavizamos os temperos até porque na Arménia os sabores são mais intensos.” De lá vem o lavash (o pão típico feito de farinha de trigo, sem levedura, muito fino), o pimentão-doce, o manjericão roxo, alguns vinhos e as folhas de videira para fazer os rolos de vitelão (€9,50), um prato que remonta à Antiguidade, servido com matsoun e alho. “Trouxemos cerca de 80 quilos mas já terminaram. Para o ano queremos testar as folhas de videira de cá”, diz a proprietária.
Nas entradas, o khachapuri (€7,50) chama à atenção pelo aspeto guloso. Este pastel tradicional, em forma de barco, é simplesmente delicioso, não há outra forma de o descrever, e deve ser saboreado partindo as pontas da massa para as mergulhar depois no recheio de queijo e ovo. Também o tabulé (€6), ou salada de bulgur, é muito popular nesta região do Cáucaso. Feito com trigo moído com tomate fresco e ervas aromáticas, e servido em folhas de alface, tem um sabor fresco. A kaurmá (€8,50), um tipo de conserva de carne tipicamente arménia, é uma boa opção para partilhar na mesa. As partes mais delicadas da carne (pato, vitela, borrego) são cozidas e depois passadas por manteiga ghee, sendo posteriormente postas em tachos de barro e enterradas no chão fresco. Antes de chegarem à mesa, são cortadas em fatias muito finas, acompanhando com um molho picante.
Nos pratos principais, a escolha recai no tjvjik (significa fígado, €6,50), que não agradará a todos os paladares. Trata-se de um guisado de miúdos de cordeiro ou de vitela (fígado, pulmões, corações e rins), com cebola e tomate. A refeição pode continuar com o khinkali (€6), uns saquinhos de massa recheados com carne picada e moldados à mão. Passando aos peixes (na Arménia só existem duas espécies de rio, o esturjão e a truta), destaca-se a truta em papelote com ervas aromáticas assada no forno a lenha (€14). Para terminar, uma fatia de pakhlava (€6), doce típico do Oriente, feito com massa folhada, mel e nozes. “Pensava que não havia arménios por cá mas afinal há”, diz Karine, recordando um casal que ali chegou de surpresa a convite do filho e que hoje são clientes habituais.
Ararate > Av. Conde Valbom, 70, Lisboa > T. 92 545 1509 > seg-sáb 12h-24h