Este roteiro sabe a ostras e a foie gras, cheira a pain au chocolat e é bonito de se ver como um vestido com bom corte. Guiada por quatro franceses a viver em Portugal, a VISÃO SETE foi à procura de (ler com bastante sotaque) “la France à Lisbonne”
VÉRONIQUE LARANJO , 40 anos, Proprietária da Véronique Boutique
“Sinto-me em casa”, diz Véronique Laranjo sobre a loja de roupa que abriu há quase três anos, junto ao Largo do Carmo, em Lisboa. “O ambiente é muito petite boutique parisienne. Tenho várias clientes francesas que se identificam com a minha seleção”, nota, contente, apontando as marcas que reúne na sua Véronique Boutique, entre peças vintage e outras de coleções recentes: See by Chloé, Paul&Joe Sister, Athé by Vanessa Bruno, Orla Kiely e, desde há pouco tempo, também os portugueses Luís Buchinho e Diogo Miranda. Filha de emigrantes açorianos, nasceu em Tours e aí ficou até aos 21 anos, antes de se mudar para Londres e, mais tarde, para Paris, onde colaborou com a Prada e Marc Jacobs. A Lisboa chegou em 2010, decidida a “trabalhar por conta própria”. “Para matar saudades de França”, como diz, costuma ir à pâtisserie Praline, 5 onde, muitas vezes aos domingos, compra pains au chocolat e croissants. É também ali que, na época natalícia, consegue encontrar a sua galette des rois, feita com marzipan (“só de pensar nisso, salivo!”). Depois do trabalho, ruma frequentemente a La Parisienne, 13 “um bistrôt 100% de Paris”. “Come-se lá uma rillette e um foie gras deliciosos!”, garante. Há pouco tempo, descobriu o L’Éclair 1 e tem-se deliciado com estes bolos franceses de vários sabores: “Muito bons!”. Em breve, vai também matar saudades de casa na Festa do Cinema Francês. “Geralmente vou com uma amiga francesa. É bom de vez em quando ouvir um filme em francês”, confessa. Como diria Véronique, voilà a sua França em Lisboa.
JULIEN LETARTRE, 41 anos, Sócio-proprietário das padarias e pastelarias Eric Kayser
Apaixonado por Lisboa e por uma portuguesa, Julien Letartre quis voltar a Portugal em 2011 para abrir a primeira loja da cadeia francesa de padarias Eric Kayser. Por cá tinha estado há 18 anos para cumprir o serviço militar em França é possível fazê-lo a trabalhar numa empresa no estrangeiro, por cá conheceu a sua mulher e acabou por ficar oito anos. De volta a Paris, ficou sempre a vontade de regressar. “Queria fazer qualquer coisa em Portugal que tivesse a ver com o meu país”, diz Julien. E nada melhor do que o pão. “De qualidade, que os franceses tanta falta sentiam, e do qual os portugueses, tal como nós, tanto gostam”, afirma. Da localização não houve qualquer dúvida. A zona das Amoreiras, onde reside e gravita uma grande parte da comunidade francesa por conta do Liceu Francês, foi o local escolhido. Aos 41 anos gere um negócio que cresceu. É a fábrica no Amoreiras Plaza 4 que fornece as lojas no Chiado, El Corte Inglés, CascaiShopping e Almada Fórum. Diz sentir–se integrado, mas diz-se também “muito francês”. Da literatura, grande consumidor, não dispensa os livros na língua materna que encontra facilmente na FNAC 9 a do centro comercial das Amoreiras, apesar de mais pequena, tem uma boa secção, e das notícias, “porque as tecnologias facilitam”, mantém-se atualizado ouvindo a rádio francesa e lendo os jornais. À mesa, mata saudades de um almoço ou jantar à parisiense na Brasserie Flo, 2 restaurante do hotel Tivoli, com umas ostras e um steak tartare (tártaro de novilho). Da “sua” Lisboa, Julien deixa ainda como sugestão uma visita à Igreja São Luís dos Franceses 11 , “uma das únicas que pertence ao Estado porque a separação de poderes decretada pela Revolução Francesa não chegou ao estrangeiro”, gerida pelo chamado Conseil de Fabrique. Ponto de encontro da comunidade francófona, “muito animada e que canta muito bem”, diz, a igreja é um local cheio de história, testemunha “da presença muito antiga dos franceses comerciantes e homens de negócio em Lisboa e Portugal que a mandaram erguer no século XVI”.
BÉATRICE DUPASQUIER, 40 anos, Pasteleira do ateliê Praline e do Bistrot L’Escale par Praline
A chefe pasteleira Béatrice Dupasquier, 40 anos, não se vê propriamente como uma mulher aventureira, mas, desde que saiu de França, há 17 anos, já viveu em Londres, Melbourne e Rio de Janeiro. Há sete anos trocou o calor do Brasil pela luz de Lisboa, dando continuidade ao que mais gosta de fazer: pastelaria francesa. “Agora acho que já arrumei as malas”, diz. Por cá divide o tempo entre o seu ateliê, Praline, 5 aberto há quatro anos, e que funciona como boutique e oficina por encomenda, e a gestão do Bistrot L’Escale par Praline, 7 no interior do Institut Français du Portugal, que serve pequenos–almoços, almoços e lanches. Mais do que salgados, é entre os sacos de açúcar, as tabletes de chocolate e a fruta (a pastelaria francesa usa mais frutas frescas) que se sente melhor: “Gosto mais do cheiro da manteiga, do chocolate e dos ovos, faz-me lembrar a minha infância”. Apesar de não ser uma grande apreciadora de doces (prefere um arroz de cabidela e uma boa tábua de enchidos, acompanhada por um copo de vinho), abre exceções a uma fatia de bolo-rei, pastéis de Belém e a um bom éclair da pastelaria L’Éclair 1 : “Lá vou com prazer”. Quando não está na cozinha a fazer os seus mil folhas, éclairs ou charlottes, aproveita para visitar alguns conterrâneos que cá vivem: cortar o cabelo no salão Vincent Coiffeurs Paris Lisboa 6 ou beber um copo no bar Os Goliardos (que fechou no fim de semana passado). “Gostava do bom humor de Nadir e Silvia, de os ouvir a falar de vinho com tanta paixão”, lembra. É, também uma cliente habitual de Pascal Chesnot e do seu Le Petit Bistro, 8 onde almoça quase todos os sábados e domingos: “Vou pelo ambiente simpático e para comer o maravilhoso confit de canard”. Por fim, Béatrice fala de Marcel Pagnol, o seu escritor preferido, e lembra-se que é na Livraria Palavra de Viajante 10 que gosta de espreitar as novidades literárias. “Têm uma boa seleção de livros franceses”
PAULINE FOESSEL, 26 anos, Co-diretora da galeria Underdogs
Se há coisa de que Pauline Foessel tem tido saudades nestes quase dois anos em que vive em Lisboa é da gastronomia francesa. “Gosto muito de Portugal, mas não é pela comida”, confessa. “Para mim, a apresentação também conta e aqui ligam pouco a isso. Além disso, as doses portuguesas são demasiado grandes!”. Ainda assim, sublinha a curadora e galerista da Underdogs (a plataforma de arte urbana de Vhils), sentar-se à mesa em Portugal nunca é uma experiência tão radical como em Xangai, na China, onde viveu dois anos e meio, antes de vir para cá. No Tartine, 3 esta francesa de Grenoble conta que é lá que vai quando quer comer “bons croissants e pan au chocolat” numa “atmosfera familiar “. “Em Portugal, os croissants, na verdade, são mais brioches do que croissants….”, aponta. Para os almoços, elege Eric Kayser, 4 onde “a pastelaria é muito boa” e “as saladas são diferentes das portuguesas”. Em breve, promete, há de descobrir as iguarias do La Parisienne, 13 a que ainda não teve oportunidade de ir. “Tenho ouvido dizer muito bem”, conta. Em ocasiões especiais, opta pelo Varanda do Ritz Four Seasons Hotel, 12 do chefe francês Pascal Meynard. “A comida é incrível”, elogia. “Não costumo frequentar restaurantes assim tão caros, mas gosto de lá ir depois de um dia terrível, para compensar. Tenho é que me vestir bem.”, conta, divertida. O foie gras e as sobremesas (sobretudo uma com frutos vermelhos e baunilha) estão no topo das suas preferências. Comidas à parte, siga-se para o Institut Français du Portugal, onde, até março do próximo ano, a Underdogs tem uma exposição coletiva de arte urbana, Hors Les Murs, que junta os portugueses Vhils e ± MaisMenos ±, e os franceses Olivier Kosta-Théfaine e Remed.
“Lá dentro, na Nouvelle Librairie Française encontra-se uma grande variedade de livros em francês. Têm desde os clássicos às novidades “, destaca. Outro destino é a Véronique Boutique. “Nunca comprei lá roupa, mas gosto muito da loja e do facto da Verónique juntar moda e arte ao fazer exposições nas paredes”, diz Pauline. Véronique sorrirá ao saber, apostamos.
Direções e horários
TARTINE – R. Serpa Pinto 15 A Seg-sex 8h-20h, sáb e feriados 10h-20h
ERIC KAYSER – Amoreiras Plaza, R. Prof. Carlos Alberto da Mota Pinto Seg-dom 7h30-20h30
VARANDA – Ritz Four Seasons Hotel Lisboa, R. Rodrigo da Fonseca, 88 Seg-dom 6h30-10h30, 12h30-15h, 19h30-22h30
NOUVELLE LIBRAIRIE FRANÇAISE – Institut français du Portugal, Av. Luís Bívar, 91 Seg-sex 10h30-19h30, sáb 10h-12h30
VERÓNIQUE BOUTIQUE – Tv. do Carmo,1 Seg-sáb 12h-19h
ATELIÊ PRALINE – R. do Poço dos Negros, 51 Ter-sex 15h-19h, sáb 8h-13h, 15h-18h, dom 9h-14h30
BISTROT L’ESCALE PAR PRALINE – Institut Français du Portugal, Av. Luís Bivar, 91 Seg-sex 8h30-19h, sáb 8h30-13h
L’ÉCLAIR – Av. Duque de Ávila, 44 Seg-sex 7h30-20h, 9h30-19h
VINCENT COIFFEURS PARIS – R. Latino Coelho, 81
LE PETIT BISTRO – R. do Almada, 29 Qua-sex 19h-24h, sáb-dom 13h-16h, 19h24h
PALAVRA DE VIAJANTE – R. de São Bento, 30 Ter-sáb 10h-19h
BRASSERIE FLO – Hotel Tivoli Av. Liberdade, 185 Seg-dom 12h30-16h, 19h-23h30
FNAC – CC Amoreiras, Piso 1 loja 1148 Seg-dom 10h-23h
IGREJA DE S. LUÍS DOS FRANCESES – Beco de S. Luís da Pena, 34
LA PARISIENE – Lg. Rafael Bordalo Pinheiro, 18 Seg-sex 12h-15h, 19h-24 Sáb 19h-24h