A placa quase passa despercebida a quem circula na estrada que conduz ao Piodão. É de madeira e tem a inscrição “Fraga da Pena”, a apontar para um caminho de xisto ladeado por manchas de carvalho alvarinho, castanheiros, medronheiros… A água, por enquanto, não se vê, mas acompanha-nos, no ouvido, articulada com o canto dos pássaros, numa espécie de comissão de boas-vindas pura, natural.
Avançamos e rapidamente nos esquecemos da civilização. Ficamos (pensamos nós…) em comunhão com a Natureza, antes ainda do fim do caminho nos surpreender com uma imensa fraga de xisto, onde uma cascata de água límpida corre, precipitando-se numa encantadora piscina natural. Os 26 graus não são suficientes para mergulhar… A água é muito fria. Abandonou a nascente, ali na serra do Açor, poucos metros antes, e a sombra (naquele local nunca bate o sol) não ajuda a pensar em ir a banhos, até o termómetro marcar os 35 graus habituais nesta época.
Ficar sentado num dos bancos de xisto a contemplar o cenário é, por si só, retemperador. E seria um sacrilégio não explorar o terreno. Esta é apenas a última de uma sequência de piscinas naturais. Para observar as outras, e o serpentear da água pela fraga, há que subir escadas íngremes, onde nos cruzamos com um moinho antigo.
Há lagoas de difícil acesso e com muito musgo, mas a última, onde o percurso termina, é de novo tentadora. Observamo-la quando, do meio das árvores, surge um homem de calções, sandálias e chapéu. Peter Bampton é inglês, tem 47 anos e vive numa quinta ali perto. Exclama: “Aqui é o paraíso!” Depois, pede-nos licença para tomar banho: “Vou despir-me, importam-se?” Isto, sim, é estar em perfeita comunhão com a Natureza…
Como lá chegar: Na A1, apanhar o IC3 e sair em direção a Arganil. Depois, seguir as placas que indicam a vila de Coja. Aí, depois da ponte, virar à esquerda, no sentido Benfeita/Piodão. A Fraga da Pena fica a cerca de dez quilómetros. Mais informações úteis: não é aconselhável para pessoas com pouca mobilidade. O percurso até à cascata não é muito longo, mas só se pode fazer a pé. Recomenda-se calçado com sola de borracha, devido às escadas íngremes. Convém, ainda, levar comida e água, uma vez que não há qualquer ponto de venda. E não esquecer a máquina fotográfica, para captar a beleza do local