O ideal é chegar de barriga vazia e mentalidade aberta. Logo à entrada, os visitantes encontram talheres e pratos, material do qual são feitas as composições escultóricas do espanhol Jardim de Plástico. Devidamente apetrechados, poderão “atacar” os canteiros. Pela frente, terão um menu diversificado, que não se limita aos mais previsíveis frutos silvestres e flores comestíveis. Há fast food, casinhas de chocolate, sabores mediterrânicos, massas e enlatados.
O tema deste ano do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, Jardins pra comer, revelou-se particularmente estimulante para os 11 participantes. E, como os olhos também comem, conquistam pela exuberância visual. “É fantástico ver algo que apenas existia na nossa mente a ser apreciado pelo público”, conta Hana Krizanova, um dos quatro elementos da jovem equipa austríaca.
Autores do jardim Estou a adorá-lo, nunca tinham passado por uma experiência igual. Com uma visão irónica do mundo gastronómico, recriaram a comida rápida e barata existente em qualquer ponto do planeta, comercialmente apelativa.
Conceberam bancos a imitar batatas fritas, canteiros de begónias a simular o ketchup e espelhos curvados a fazer de embalagens, que devolvem ao público imagens distorcidas dos seus corpos. Uma criação a mostrar que “nem tudo o que brilha é ouro”, dizem, na sinopse de apresentação.
O quarteto veio da universidade vienense de Boku, cujo curso de arquitetura paisagista contempla um projeto que consiste, exatamente, numa candidatura ao festival. Com bons resultados em anos anteriores. De Boku chegou também o jardim mais votado pelo público em 2011 Jardim Radiante, sobre a temática das florestas que, como é habitual, será premiado com a exibição durante mais um ano. Para os recém-chegados austríacos, conhecerem o festival, ao vivo e a cores, foi a cereja em cima do bolo nem todos os autores o conseguem fazer, controlando à distância a execução.
“É interessante ver várias pessoas a trabalhar a partir do mesmo tema e a assumir pontos de vista distintos.” Eva Barbosa, a coordenadora do festival, explica: “Procuramos ter a maior diversidade possível de propostas, para que se possa ver como se pode chegar a conceitos tão diferentes.” É dada aos concorrentes liberdade total na interpretação do tema. Há lugar para a crítica social, para a aprendizagem e para a brincadeira. À entrada de cada jardim, uma tabuleta explica a ideia por detrás de cada projeto e os materiais utilizados.
A partir, por exemplo, de um cenário à imagem do conto infantil Hansel e Gretel, o jardim A Fachada esconde uma mensagem que desmistifica bruxas más e promove uma boa alimentação. O caldeirão de bolas coloridas que serve de ratoeira aos miúdos está, afinal, rodeada de produtos hortícolas e não de guloseimas.
SEM MONOTONIA Do papel para o terreno, há sempre ajustes a fazer. “Mesmo antes de entregues as candidaturas, tiramos dúvidas aos concorrentes “, explica Eva Barbosa. Imperioso é o reaproveitamento de materiais de anos anteriores e do que a terra dá. No Festival de Jardins, nada se perde, tudo se transforma.
Nem que seja preciso fazer alterações aos projetos originais. Veja-se o caso do italiano O Ninho, onde foram utilizados restos de vides cortadas para fazer o entrançado que delimita os canteiros.
As condições de segurança são sempre revistas, para que cada exemplar se conserve em melhor estado durante os meses em que é exibido, da primavera ao outono. Aos concorrentes estrangeiros, pouco familiarizados com o nosso clima, são apresentadas alternativas quando pretendem introduzir plantas pouco adequadas. “Há uma interação muito grande com os autores e eles são sempre sensíveis às nossas sugestões.” Este ano, a qualidade das candidaturas surpreendeu. E não faltou dedicação para levar a cabo as ideias mais trabalhosas e complexas.
A coordenadora, engenheira agrónoma de formação, não se queixa. “É muito aliciante e gratificante. Nem notamos o tempo a passar, não há monotonia.” Como não é possível utilizar grandes máquinas, o trabalho é completamente artesanal. No jardim Uma realidade aumentada, construiu-se uma gigantesca pizza que se pretende associar às boas práticas da dieta mediterrânica. No Honey Scape, imagina-se o desafio ao montar a estrutura leve e transparente, uma verdadeira escultura a imitar favos de mel.
SUCESSO DE VISITAS De ano para ano, o Festival de Jardins leva o nome de Ponte de Lima mais longe. Em 2011, tiveram 105 mil visitantes. Eva Barbosa aconselha: “Vale a pena vir em diferentes fases do ano, para acompanhar o ciclo de desenvolvimento das plantas.” Mais uma vez, exportaram as suas criações outros municípios podem candidatar-se a acolher nos seus espaços públicos alguns dos projetos exibidos durante o certame, com dois jardins transplantados para Guimarães.
Este acontecimento passou de filho incompreendido a rebento predileto da população, mais habituada a jardins que ultrapassam uma imagem clássica e podem, inclusive, exibir árvores de pernas para o ar e outras propostas pouco convencionais.
Agora, são comuns as visitas de representantes de outras localidades, interessadas em fazer festivais similares.
Como é habitual, no dia da inauguração do Festival de Jardins, abriram as candidaturas ao certame do próximo ano, que terminam a 31 de outubro. Em 2013, o tema será Jardim dos Sentidos. Engenheiros agrónomos, arquitetos paisagistas ou simples leigos poderão avançar com as suas propostas. É só deixar a imaginação divagar… e estar à altura da fasquia.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE JARDINS DE PONTE DE LIMA 25 Mai-31 Out, Jun/9 Set-31 Out, Seg 13h30-19h, Ter-Sex 10h-12h, 13h30-19h, Sáb-Dom 10h-19h Jul-8 Set, Seg-Dom 10h-20h Entrada: €1, €2 passe anual
Junho em festa
FESTA DO VINHO VERDE 15-17 Jun
O vinho verde e outros produtos regionais são promovidos na 22.ª edição da festa, no recinto da Expolima, com várias provas, espetáculos, show cooking, wine party, passeios de charrete e muita mais animação.
VI FEIRA DO CAVALO 21-24 Jun
É um dos grandes festivais equestres portugueses, atraindo cada vez mais criadores nacionais e internacionais. A afluência de público também tem acompanhado este crescimento. Reúne provas de horseball, passeios a cavalo, desfile de coudelarias, derby de atrelagem, concursos, entre outros eventos. Logo na abertura, dia 21, haverá um concerto com a fadista Carminho.