1 Como começou a interessar-se pelo tema do pão português?
Quando descobri que, em Portugal, as mulheres ainda faziam o seu pão, coisa que em França já não acontecia há muito tempo. Ao estudar o tema do pão caseiro nas várias regiões de Portugal, descobri também que, entre o Norte e o Sul do País, existem diferentes técnicas, utensílios, formas de amassar e de cozer o pão.
2 O que tem o pão português de especial?
A maior parte dos pães portugueses contém bastante água, são pães de consistência mole, o que não acontece em Espanha ou Itália, onde o pão é bastante compacto de modo a durar mais tempo. Outras características do pão português são a multiplicidade de pães individuais (papo-secos, carcaças, bijus, moletes, padas, bicas, pão da Mealhada) e a importância do pão de milho.
3 Quais as variedades que destaca?
O pão alentejano (um pão de trigo com fermento que privilegia o miolo), o pão de centeio da serra da Estrela (e também das terras frias de Trás-os-Montes, onde se mantém a cultura do centeio), o pão de Mafra (um pão de trigo feito em comprimento, com formato de uma gravata), a broa d’Avintes e todas as outras broas.
4 O que é que o pão conta sobre a História do País?
Muito. No caso português, onde a produção cerealífera era insuficiente, acabou por se importar trigo ou por ir à sua procura, sobretudo durante o período da expansão marítima.
A cultura do trigo nos Açores e na Madeira também permitiu, durante uns tempos, abastecer a capital e, nos séculos XIX e XX, o Alentejo tornou-se no “celeiro de trigo de Portugal”.
5 Com a crise, há um regresso ao essencial da nossa alimentação?
O pão, alimento base das populações há milénios, sempre teve um papel fundamental na história da alimentação, graças às suas qualidades nutritivas. Nos períodos de crise, o povo reclama o pão primeiro que tudo. A Revolução Francesa foi desencadeada, justamente, por causa da falta de pão.
Em Portugal, a seguir ao 25 de Abril, e graças ao aumento de salários, vi mulheres a abandonar a confeção do pão e a voltar a amassá-lo assim que os salários baixaram. O pão é, sem dúvida, o alimento a que recorremos em tempos de crise. Aposto que as pessoas vão consumi-lo cada vez mais. E, por razões económicas, algumas mulheres podem porventura voltar a amassar o seu pão.