“Na cozinha, enquanto a Maria e o António fazem tabletes de chocolate, eu e a Joaninha ficamos a olhar através de uma janela que dá para as traseiras da quinta. Às vezes ficamos muito tempo aconchegados pelos suaves raios de sol. Se quiseres posso levar-te até lá!?” O convite é de Álvaro, o narrador que dá uma mão a quem entra na Chocolataria Equador. Antes de mais, se não gosta de chocolate, avance para a página seguinte. No argumento desta história, desenhada à medida de cada coleção, quase só há espaço para o cacau crioulo, a aromática base destas iguarias de lamber os dedos. A cor escura e a textura macia que se derrete lentamente na boca despertam paixões a quem o prova. Olhar não chega, é preciso provar. Apreciadores do cacau negro desde sempre Celestino Fonseca e Teresa Almeida desenharam todo um universo delicioso à sua volta. “Criamos uma história que contextualiza todos os produtos da marca”, dizem.
Seguindo uma tendência de apelo à memória, inspirada na estética dos anos 40 e 50, desenvolveram “uma linguagem retro, com alguns apontamentos contemporâneos” para a loja. O projeto assinado pelo casal é assim “uma espécie de desenho tridimensional”. Ao lado das velhas traves de um celeiro desmantelado surgem dois candeeiros Tom Dixon. Um antigo chaveiro de hotel exibe, agora, tabletes com recheio de figo, pêssego, mirtilo. Ao lado, apenas um vidro nos separa dos cubos de ganache (chocolate com natas) com sabor a fruta, dos pauzinhos de chocolate, das trufas artesanais, dos semi-frios individuais. Toda a confeção é artesanal, sem adição de corantes ou conservantes. Tem ainda espaço reservado para doces conventuais, feitos a partir de receitas originais do Convento de S. Gonçalo, em Amarante. Em breve, poderá tomar café e chocolate quente em descartáveis, num conceito semelhante ao Starbucks.
Embora o cacau seja o protagonista desta história, não se pode esquecer os mestres que lhe dão forma e os designers que o embrulham. De fora não fica a montra de Pascal Ferreira, da Nixfuste. “A ideia é captar a atenção pela estranheza. E remeter para o espaço e a história, sem mostrar todo o produto”, explica Teresa.
O grafismo da época colonial é também visível no papel que envolve as tabletes e nas diferentes embalagens desenhadas para cada produto. Falta dizer apenas que tudo está à venda, desde os objetos decorativos aos posters assinados por Celestino.
Caminho para S. Tomé A Equador está envolvida num projeto de reabilitação de uma roça em S. Tomé. Tem 200 hectares, inclui as roças da Granja e da Soledad, e em breve voltará a produzir cacau para o mercado. Tudo está a ser reconstruído à imagem da estrutura original, uma vez que o projeto tem também uma vertente turística
CHOCOLATARIA EQUADOR R. Sá da Bandeira, 637, Porto Seg-Sáb 10h-19h