Quando se diz que um produto é feito a partir de plástico reciclado, o mais certo é que o tenha sido com recurso a pellets de plástico reciclado, pequenos grânulos ou esferas produzidos a partir da reciclagem de resíduos plásticos.
O que uma equipa de investigadores das universidades de Gotemburgo e Leipzig descobriu foi que esses granulados podem libertar uma mistura de mais de 80 produtos químicos na água, alguns tóxicos, perturbando as hormonas e o metabolismo da gordura, neste caso em estudo, das larvas de peixe-zebra. Os investigadores alertam que aditivos desconhecidos e tóxicos tornam as práticas atuais de reciclagem perigosamente imprevisíveis.
Um único pellet de plástico de polietileno reciclado pode conter mais de 80 químicos diferentes.
“Este é o principal obstáculo à ideia de reciclar o plástico. Nunca temos um conhecimento completo dos produtos químicos que vão parar a um artigo feito de plástico reciclado. E há também um risco significativo de ocorrerem misturas químicas que tornam o plástico reciclado tóxico”, explica Bethanie Carney Almroth, professora da Universidade de Gotemburgo e investigadora principal do projeto.
“Identificámos químicos comuns nos plásticos, incluindo estabilizadores UV e plastificantes, bem como químicos que não são utilizados como aditivos nos plásticos, incluindo pesticidas, produtos farmacêuticos e biocidas. Estes podem ter contaminado os plásticos durante a sua primeira fase de utilização, antes de se tornarem resíduos e serem reciclados. Esta é mais uma prova da complexidade da questão dos fluxos de resíduos plásticos e dos produtos químicos tóxicos que contaminam os plásticos reciclados”, acrescenta, por sua vez, Eric Carmona, investigador do Departamento de Ciências da Exposição do Centro Helmholtz de Investigação Ambiental em Leipzig.
Para este estudo, os investigadores compraram pellets de plástico reciclado a partir de plástico de polietileno (um tipo de plástico utilizado em muitos materiais de embalagem, como tampas de garrafas, sacos de plástico, isolamento de fios e cabos, tubos, cordas, brinquedos e artigos domésticos) de diferentes partes do mundo e deixaram-nos em água durante 48 horas. No passo seguinte, larvas de peixe-zebra foram expostas a essa água durante cinco dias.
Estudos anteriores já tinham mostrado que a exposição a substâncias químicas tóxicas presentes nos plásticos poderia resultar em perturbações hormonais, com potenciais impactos na fertilidade, no desenvolvimento infantil, na ligação a certos tipos de cancro e em distúrbios metabólicos, incluindo obesidade e diabetes.