Muito estudados pela ciência nas últimas décadas, os benefícios do exercício físico já estão bem documentados. De baixa ou alta intensidade, de curta ou longa duração, a prática física está comprovadamente associada a benefícios para o organismo, como a diminuição do risco de doenças cardiovasculares ou respiratórias, e para a saúde mental, ao ajudar a combater problemas como a depressão. O exercício físico é também sempre tido como um dos principais aliados de quem quer perder peso, mas um especialista em metabolismo explica, em declarações ao jornal The Washington Post, porque o resultado nem sempre corresponde a essa expectativa, sobretudo se for a única estratégia para emagrecer.
De acordo com Herman Pontzer, que é também antropólogo, o exercício físico – por si só – raramente resulta numa grande perda de peso. A explicação para este fenómeno é um mecanismo de “compensação do organismo”. Ou seja, o corpo humano, quando habituado a atividade física regular, “compensa” o esforço energético provocado pelo exercício físico ao reduzir a energia despendida durante outros períodos do dia de menor atividade – por exemplo, ao dormir.
Pontzer e a sua equipa de investigadores da Universidade de Duke chegaram a estas descobertas pela primeira vez em 2012, num estudo em que se dedicaram a analisar o metabolismo de uma tribo de caçadores-recolectores na Tanzânia, partindo do princípio que o número de calorias que a tribo queimaria por dia seria elevada, dada a prática física que demonstravam diariamente. Contudo, o gasto energético da tribo, quando comparado ao de uma pessoas norte-americana – com um trabalho de escritório e estilo de vida sedentário – foi praticamente idêntico. As conclusões da investigação, publicadas na revista Current Biology, mostraram como os organismos dos elementos da tribo foram capaz de reduzir os gastos de energia despendidos ao executar outras funções corporais importantes, apesar da intensa atividade, de forma a manter o consumo diário total de calorias estável.
Desde esse estudo que o especialista tem realizado diversas investigações sobre a forma como o metabolismo funciona. A sua investigação levou-o, em 2021, a publicar o livro “Burn”, em que reuniu as últimas descobertas sobre a sua pesquisa acerca da forma como queimamos calorias. “O que os nossos dados estão a mostrar é que o gasto calórico é difícil de mudar. O corpo não quer mudar muito isso. Portanto, o que isto diz é que o aumento de peso, a obesidade, o excesso de peso, estes problemas com que nos debatemos nos EUA, têm a ver com a energia que entra”, referiu o especialista num podcasts promovido pela Universidade de Harvard, em 2022.
Também em 2021, numa investigação publicada na revista Science Advances, o antropólogo constatou que, muitas vezes, pessoas sedentárias e pessoas muito ativas estão, na verdade, a queimar o mesmo número de calorias, o que ajuda a explicar o porquê de algumas pessoas, mesmo praticando exercício físico regularmente, raramente perdem muito peso. “O metabolismo é trabalho que os 37 triliões de células do corpo fazem todos os dias. Esse trabalho pode ser medido em termos de energia necessária. É por isso que medimos o nosso metabolismo em calorias, uma medida de energia”, acrescentou.
O que é que isto significa?
Para o cientista, é tudo uma questão de hábito. “Se fizer exercício hoje, vai queimar mais energia hoje. Mas se mudar realmente o seu estilo de vida e começar a fazer exercício regularmente e isso se tornar o seu novo normal, o seu corpo ajusta-se e acaba por não queimar mais calorias em geral”, disse ao jornal norte-americano. Ou seja, quando a prática física se começa a tornar regular, o organismo encontra forma de gastar menos energias noutras funções básicas.
Pontzer abordou ainda outras ideias erradas relacionadas com este tópico como, por exemplo, o processo metabólico ser igual independentemente do género: o fator determinante no número de calorias que se queimam todos os dias é o número de células a trabalhar – quanto maior for uma pessoa, mais calorias são utilizadas. “Os homens queimam mais calorias do que as mulheres, mas isso deve-se ao facto de os homens tenderem a ser um pouco maiores e a ter um pouco menos de gordura. Se comparar um homem e uma mulher que têm o mesmo tamanho corporal e a mesma percentagem de gordura, espera-se exatamente o mesmo gasto energético por dia”, referiu.
De acordo com o especialista, o exercício físico não deve ser, por tudo isto, o único fator a ter em consideração quando se quer perder peso, sendo melhor encarar os hábitos alimentares saudáveis como a parte fundamental para ver descer os números na balança. Para além disso, os benefícios da prática desportiva não incluem apenas a perda de calorias.