Hospitais lotados e Centros de Saúde a abarrotar. Os tempos de espera nas Urgências chegaram a atingir, no dia 26, as 18 horas no Amadora-Sintra para os triados com pulseira amarela (devem aguardar no máximo uma hora). O principal motivo para tanta afluência, que levou mesmo a um recorde de atendimentos (881) neste hospital, pode estar relacionado com a catadupa de infeções respiratórias, principalmente gripe.
O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admitiu que os elevados tempos médios de espera apenas deverão diminuir na próxima semana. “Espero que isto se comece a atenuar na primeira semana de janeiro”, disse à Lusa, lembrando que, “habitualmente, estas agudizações das infeções respiratórias ocorrem por períodos de duas a três semanas” e a situação agravou-se desde “meados de dezembro”.
Para ajudar colmatar a afluência às Urgências dos hospitais, o Ministério da Saúde comunicou que vários Centros de Saúde vão estar abertos no próximo fim de semana prolongado da passagem de ano, à semelhança daquilo que já tinha acontecido no fim de semana do Natal.
A ideia é levar quem está doente a poder recorre a três formas de atendimento: primordialmente a linha SNS24 (808242424) ou os Centros de Saúde, e, só nos casos mais graves, os hospitais.
A medida insere-se no Plano Estratégico para a Resposta Sazonal em Saúde – Inverno 2023-2024.
De acordo com o boletim de monitorização da gripe publicado semanalmente pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), desde o dia 2 de outubro e até 17 de dezembro, os laboratórios da rede notificaram 27 988 casos de infeção respiratória e 2607 casos de gripe. Até agora, 26 pessoas tiveram de ser internadas nos cuidados intensivos. Só entre 11 e 17 de dezembro, nota o relatório, “foram identificados 960 casos positivos para o vírus da gripe, dos quais 877 [91,4%] do tipo A e apenas seis eram de gripe B”.
Segundo o INSA, o vírus da gripe prevalente a circular até ao momento é o A, com duas estirpes identificadas: o H1N1 e o H3N2, sendo a primeira mais comum. O vírus A(H1N1) que está a circular apareceu na primavera de 2009 e causou uma pandemia de gripe.
Existem três tipos de vírus influenza, A, B e C. Os mais importantes, e que causam epidemias, são os A e B. Os vírus estão em constante mutação e é por isso que a vacina todos os anos é alterada. O H1N1 deste ano tem “características genéticas semelhantes ao vírus contemplado na vacina contra a gripe da época 2023/2024”. No caso do subtipo H3N2, diz o INSA, as estirpes identificadas até ao agora têm “um conjunto de mutações genéticas em relação ao vírus vacinal desta época”, sendo “considerados geneticamente diferentes da estirpe contemplada na vacina”.
Tosse e espirros
A gripe é uma infeção viral (causada pelo vírus influenza) que atinge o predominantemente as vias respiratórias. Os sintomas são, habitualmente, moderados e em uma a duas semanas está-se recuperado completamente.
No entanto, há casos em que a gripe pode levar a outras complicações. A idade e as doenças de base põem algumas pessoas no grupo de risco, como explica Marco Diogo, internista do Hospital Cuf Porto. “A asma, obesidade, diabetes, cancro, doenças cardíacas e pulmonares crónicas, doenças renais e hepáticas e o VIH são as comorbilidades que podem trazer alguns problemas quando se tem gripe.”
A complicação mais comum é a pneumonia. “É o que leva mais doentes à Unidade de Cuidados Intensivos”, diz o médico, mas podem acontecer alterações cardíacas, como a miocardite ou pericardite, mas “é raro”.
O vírus da gripe é transmitido através de partículas de saliva de uma pessoa infetada, expelidas sobretudo através da tosse e dos espirros, mas também por contacto direto com partes do corpo ou superfícies contaminadas (por exemplo, através das mãos). Com certeza isto soa-lhe familiar: transmite-se de forma semelhante à Covid-19.
Aliás, e falando no SARS-CoV-2, há auto-testes duo no mercado que permitem saber se está infetado com o coronavírus ou com o influenza A ou B. São feitos da mesma forma a que nos habituámos, ou seja, com uma zaragatoa.
Sintomas
Os sintomas da gripe A são semelhantes aos provocados pela gripe sazonal: febre, tosse, nariz entupido e dor de garganta. Podem, também, ocorrer outros, como dores corporais ou musculares dor de cabeça, arrepios, fadiga, vómitos ou diarreia. De acordo da a Direção-Geral da Saúde, a gripe A “é particularmente grave” em pessoas imunodeprimidas incluindo: infeção VIH/SIDA, diabéticos, grávidas, obesidade extrema, e para portadores de doenças crónicas do foro cardíaco, pulmonar ou renal.
O período de incubação (tempo que decorre entre o momento em que uma pessoa é infetada e o aparecimento dos primeiros sintomas) do vírus da gripe A varia entre três a 10 dias, com uma média de sete, durante o qual a contagiosidade é reduzida.