A VISÃO escreveu, em abril deste ano, que existem hábitos comprovados cientificamente que podem ajudar a diminuir a quantidade de vezes em que temos sonhos recorrentes, ou seja, sonhos repetidos, que podem não ser idênticos, mas ter elementos ou temas repetidos, representando o mesmo tipo de cenários ou preocupações.
Normalmente, estes sonhos são pesadelos e é “mais provável” que sejam sobre “sobre experiências de vida muito profundas ou apenas sobre questões de lógica de caráter que ocorrem certamente enquanto estamos acordados” já que são parte de nós, explica à CNN Deirdre Barrett, investigadora e professora de psicologia do departamento de psiquiatria da Harvard Medical School, em Boston, Massachusetts, nos EUA.
Estima-se que entre 60% e 75% das pessoas têm sonhos repetidos e que aconteçam com mais regularidade na infância, mas Nirit Soffer-Dudek, professor do departamento de psicologia da Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel, diz, em declarações à CNN, que “é difícil avaliar a prevalência de sonhos recorrentes porque não é algo que acontece regularmente para a maioria das pessoas”.
Além disso, “quando as pessoas são questionadas sobre os seus sonhos passados, podem ser influenciadas por distorções de memória” acrescenta.
Já Alex Dimitriu, psiquiatra e fundador de uma clínica de psiquiatria e medicina do sono em Menlo Park, na Califórnia, EUA, explica que pessoas com transtorno de stresse pós-traumático (SPT) ou ansiedade são mais propensas a ter sonhos recorrentes, especialmente as que sofrem de ansiedade.
“Nas pessoas com SPT, os seus sonhos são tão vívidos que elas acordam. E isso torna-se um problema porque o sonho nunca é processado… e é por isso que é recorrente, é um trabalho inacabado”, esclarece o especialista.
Os sonhos recorrentes também podem acontecer devido a fatores ambientais – uma torneira a pingar com frequência, por exemplo -, a uma má higiene do sono ou ainda a fatores biológicos, defende Dimitriu, acrescentando que pessoas com apneia do sono relatam frequentemente, devido à sua condição, “sonhos relacionados com afogamentos, falta de ar, estar debaixo de água ou a ficarem sufocadas”.
Que significados podem ter os sonhos recorrentes?
Barrett explica que, como os sonhos normalmente não se repetem, se tivermos o mesmo sonho duas vezes já pode ser considerado recorrente, sendo que podem acontecer em diferentes intervalos – pode ser uma vez por mês ou até com anos de diferença.
Dimitriu diz que “existe alguma mensagem que pode estar a tentar ser transmitida” e que a resposta pode passar por descobrir que coisa é essa, para que isso possa ser ultrapassado.
Em relação a sonhos recorrentes relativos a preocupações do dia-a-dia, como por exemplo chegar-se atrasado ao trabalho, os especialistas explicam que podem acontecer devido à ansiedade diária de que uma situação dessas ocorra.
Barret explica que há pessoas que, mesmo não estudando há anos, continuam a sonhar frequentemente com momentos em que entram numa sala para realizar um teste de uma disciplina qualquer, o que pode, segundo a especialista, refletir o medo do fracasso ou uma sensação de ser julgado por figuras de autoridade.
Já sonhos relativos a perdas de dentes podem ter a ver com outra perda, sentimentos de desesperança ou indefesa, ou problemas de saúde, afirma a especialista. “Acho que não há problema em fazer uma interpretação informal de sonhos, seja sozinho ou com uma pessoa próxima e de confiança, que pode ver e questionar coisas” que nós podemos não questionar, defende Barrett.
Não existem, contudo, provas concretas de que sonhos com o mesmo conteúdo ou temas tenham o mesmo significado, mas examinar os seus significados pode ser benéfico, principalmente quando é feito de uma forma terapêutica.
O que fazer para lidar com este tipo de sonhos?
Dimitriu explica que, quando se tem um sonho repetido, é importante refletir acerca dos possíveis significados desse sonho, respondendo a questões como: “Qual é a sua relação com as coisas ou pessoas no sonho?”; “Quais são os seus medos e sistemas de crenças sobre essas coisas?”; “O que o preocupa mais neste momento?”.
Além disso, o especialista diz que escrever num caderno, por exemplo, sobre aquilo que nos preocupa antes de dormir pode ser útil para diminuir o stress e a probabilidade da ocorrência de sonhos recorrentes.
A terapia de ensaio de imagens, que passa por escrever de forma detalhada os elementos narrativos do sonho e depois reescrevê-lo para que termine positivamente, pode ser muito eficaz.
Dimitriu explica ainda a importância de não preencher sempre os momentos de silêncio e reflexão necessários, a mexer no telemóvel, por exemplo, já que, quando temos sempre a cabeça ocupada, “o que acontece é que todo esse processamento precisa de acontecer em algum lugar”, ou seja, nos sonhos.