No início deste mês, uma nova investigação realizada por cientistas da Universidade de Leeds, Inglaterra, dava conta de mais um possível sintoma da Covid longa, a acrocianose, que os especialistas ponderam acrescentar à já extensa lista de problemas que caraterizam esta condição.
Trata-se de uma doença vascular que ocorre quando as veias não permitem a normal circulação do sangue, que se acumula nos vasos sanguíneos, e deixa a pele com uma coloração azulada ou roxa.
Esta é apenas mais uma investigação a juntar às centenas que têm existido desde que se começou a perceber que os sintomas da Covid-19 podiam manter-se ou aparecer depois de ultrapassada a fase aguda, tais como cansaço extremo, perda de olfato, dores musculares, dificuldades respiratórias ou até confusão mental.
Já o Serviço Nacional de Saúde chama à Covid longa condição pós-Covid-19 e carateriza esta doença pelo “conjunto de sintomas tardios em algumas pessoas com história provável ou confirmada de infeção por SARS-CoV-2”, definindo que alguns dos sintomas mais comuns podem ser depressão, ansiedade ou disfunção cognitiva.
Agora, um novo estudo que envolveu investigadores do Reino Unido, EUA e Dinamarca, concluiu que muitas publicações científicas exageraram a prevalência da Covid longa, devido a “grandes falhas”, como “definições demasiado latas, falta de grupos de controlo ou grupos de controlo inapropriados e outras falhas metodológicas”, o que criou níveis “desnecessários” de ansiedade relativamente a este tema.
O estudo, publicado no British Medical Journal’s Evidence-Based Medicine, analisou a definição desta condição por várias entidades mundiais de saúde, tal como a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com os investigadores, nenhuma das definições utilizadas por estas entidades “requer uma ligação causal” com a infeção por Covid-19.
Maiores gastos com saúde e ansiedade
Os autores desta nova investigação sublinham a importância de existirem critérios de diagnóstico “estabelecidos internacionalmente” e apelaram a que os estudos vindouros evitem “termos genéricos”, definindo “de forma restrita” os sintomas de Covid longa.
Se isso não acontecer, as consequências podem ser, por exemplo, o aumento dos gastos com saúde e um aumento dos níveis de ansiedade, assim como de erros de diagnóstico, já que, “no geral, na literatura científica, definições imprecisas resultaram em mais de 200 sintomas associados à Covid longa”, garante a equipa.
“A nossa análise indica que, além de incluir controlos adequadamente combinados, há necessidade de melhores definições de casos e critérios mais rigorosos, que devem incluir sintomas contínuos após infeção confirmada por SARS-CoV-2”, lê-se no estudo.
Para a equipa, também é essencial ter em conta “as caraterísticas básicas, incluindo a saúde física e mental”, dos indivíduos, uma vez que podem influenciar a sua experiência pós-Covid.
Apesar destes resultados, Adam Jacobs, diretor de ciência bioestatística da Premier Research, uma organização de investigação clínica, disse, em declarações à Sky News, que o artigo tira algumas “conclusões estranhas”, apesar de apresentar “alguns pontos sensatos”.
“A Covid longa não existia há quatro anos, então os investigadores tiveram de lidar com um tópico novo e desafiador a alta velocidade”. Por isso mesmo, diz Jacobs, “não é surpreendente que diferentes estudos tenham estimativas diferentes da prevalência de Covid longa, uma vez que as investigações utilizaram diferentes definições de caso, diferentes populações, etc.”