Corria o ano de 2021 quando foi noticiado o desenvolvimento do teste Galleri, criado pela empresa norte-americana Grail, que prometia ter capacidade de detetar mais de 50 tipos de cancro em estágios iniciais, através de uma análise ao sangue que procura alterações químicas em fragmentos de ADN, provocadas pelos tumores, e que passam para a corrente sanguínea.
Os cientistas revelavam que o teste estava preparado para detetar com precisão o cancro, mesmo que o doente ainda não tenha desenvolvido sintomas, e que a taxa de falsos positivos era muito baixa. Até mesmo os cancros mais difíceis de identificar – cabeça, pescoço, ovário, pâncreas, esofágico e no sangue – podiam ser detetados com este teste, afirmava a equipa.
Ao mesmo tempo, foi anunciado que, no outono de 2021, o O Serviço Nacional de Saúde inglês (NHS) iniciaria um teste piloto do Galleri direcionado a 140 mil pessoas entre os 50 e os 77 anos, sem suspeitas de cancro, e a 25 mil pessoas com 40 anos ou mais que apresentavam sinais ou sintomas suspeitos de cancro.
Agora, Amanda Pritchard, chefe-executiva do NHS, afirmou, em entrevista ao jornal britânico The Times, que, caso os resultados provisórios deste teste piloto sejam positivos, um milhão de pessoas no Reino Unido vão poder usufruir do teste já a partir do próximo verão. “Se os resultados provisórios forem bem-sucedidos, estenderemos o teste para mais um milhão de pessoas em todo o país a partir do próximo verão, com o objetivo de diagnosticar milhares de pessoas com cancro num estágio inicial”, garantiu.
“O nosso estudo pioneiro, agora no seu segundo ano, é o primeiro passo para testar uma nova maneira de identificar o cancro antes que os sintomas apareçam”, referiu ainda Pritchard, acrescentando que este procedimento pode vir a “transformar o tratamento do cancro para sempre”.
Uma investigação desenvolvida pela Universidade de Oxford, e que envolveu 6238 pessoas da Inglaterra e País de Gales com sintomas suspeitos de cancro, revelou que este teste foi capaz foi capaz de identificar cancro corretamente em 66% das vezes, detetando sinais em 323 pessoas (sendo que 244 foram, posteriormente, diagnosticadas com algum tipo de cancro).
O estudo deu ainda conta de que, para tumores num estágio inicial, a precisão do teste foi de 24%; para cancros avançados, no estágio IV, a sua precisão já foi de 95%. Além disso, o teste revelou-se capaz de identificar a origem do cancro com 85% de precisão, afirmou a investigação.
O The Times escreve que, segundo investigadores, o teste ao sangue para detetar cancros poderá, no futuro, ser realizado em casa pela própria pessoa. Contudo, não tem capacidade para identificar todos os tipos de cancro e não se acredita que possa substituir outros exames de diagnóstico, devendo funcionar como complemento, dizem os especialistas.
Em setembro do ano passado, a Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) também tinha concluído, a partir de um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, em Paris, que uma simples colheita de sangue pode identificar cerca de 50 categorias de cancro, mesmo em pessoas sem sintomas e, consequentemente, sem diagnóstico.
Os resultados do estudo, que incluiu uma amostra de 6621 pessoas com mais de 50 anos, assintomáticas e sem qualquer diagnóstico de cancro, mostraram que 99% dos voluntários tiveram resultado negativo para o cancro. Pelo contrário, foram detetados sinais de cancro em 1,4% da amostra e, deste valor, 38% tiveram diagnóstico de cancro confirmado após a realização de outro teste para confirmar as suspeitas, o que os investigadores consideraram ser uma “uma boa percentagem”.
Na altura, a equipa também referiu que, como esta análise, criada por oncologistas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC), em Nova Iorque, conseguia descartar imediatamente 99% da população, constituía um “excelente” procedimento para evitar o desenvolvimento de cancros.
Os especialistas alertavam, contudo, para as possíveis desvantagens do estudo, afirmando que, na existência de falsos positivos, podiam ser realizados procedimentos demasiado invasivos para as pessoas, tal como as biópsias.
Relativamente ao teste Galleri, está, neste momento, disponível nos EUA e tem sido recomendado a pessoas com alto risco de cancro, incluindo pessoas com mais de 50 anos. Quando foi anunciado, o teste custava 949 dólares (795 euros) nos EUA e levava cerca de 10 dias úteis para gerar os resultados, segundo Julia Feygin, Cientista Médica Sénior no Instituto Grail.