As alterações climáticas podem estar a favorecer a proliferação de uma bactéria potencialmente mortal, capaz de causar infeções que “devoram a carne” ao longo da costa leste dos Estados Unidos.
Esta é a conclusão de um estudo recente, publicado na revista científica Scientific Reports, que afirma que as infeções causadas pela vibrio vulnificus ao longo dessa costa podem duplicar nos próximos 20 anos, devido à subida da temperatura média da água do mar, que permite que a bactéria prospere em locais mais a norte do que o habitual.
Nesta investigação, os cientistas procuraram mudanças na distribuição da doença entre 1988 e 2018. Os resultados apontam para o aumento anual do número de infeções por vibrio vulnificus de 10 para 80 por ano. Além disso, programaram diferentes modelos de emissões de gases de efeito de estufa para medirem o efeito das infeções por vibrio vulnificus, nas décadas vindouras, concluindo que, no cenário de maiores emissões de gases de efeito de estufa, que provocam o aquecimento global, poderiam ocorrer cerca de 140 a 200 infeções por ano.
Os investigadores acreditam que, nos próximos 20 anos, as infeções irão alastrar mais de 11 mil quilómetros para norte da costa leste dos EUA. Adicionalmente, nos próximos 70 anos, as infeções podem atingir a baía do rio de São Lourenço, no Canadá, espalhando-se até 14400 quilómetros do sítio a que estavam normalmente circunscritas. Isto significa que, em 2100, cerca de 90 a 210 milhões de pessoas podem passar a estar em risco.
A vibrio vulnificus é uma bactéria da mesma família das que provocam a cólera, e prosperam em zonas de água salobra, com temperaturas mais quentes. Podem ser encontradas um pouco por todo o planeta, sendo que, nos EUA, concentram-se, normalmente, na zona do Golfo do México.
A infeção pode ocorrer quando uma pequena lesão na pele é exposta às bactérias presentes na água do mar. Enquanto um caso ligeiro de vibriose se traduz em arrepios, febre, diarreia, dores de estômago, ou vómitos, infeções mais graves podem fazer com que o doente precise de uma intervenção cirúrgica para remover o tecido ou amputar a zona afetada. As taxas de mortalidade são elevadas, cerca de 18%, e a maioria das fatalidades ocorre 48 horas após a exposição.
Os cientistas receiam que as infeções continuem a aumentar com as alterações climáticas: os oceanos tornam-se mais quentes, formando-se um ambiente mais propício à multiplicação das bactérias; e o aumento da frequência dos furacões expõe as populações costeiras a uma maior quantidade de água contaminada.