Os especialistas estão a recomendar às mulheres grávidas que utilizem apenas garrafas de vidro ou metal e não as de plástico, devido ao crescente medo de que pequenas partículas presentes nos recipientes deste material possam ser prejudiciais à saúde do bebé.
Isto acontece depois da apresentação de um novo estudo realizado em ratos, na conferência anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (American Association for the Advancement of Science), e publicado no mês passado na revista Nanomaterials, que mostrou que os plásticos ingeridos pela mãe podem chegar aos órgãos do próprio feto. Acredita-se que os resultados desta investigação sejam a primeira evidência de que os plásticos ingeridos ser, de facto, passados para o feto.
“Existem indícios de que o feto é, provavelmente, um alvo das partículas de plástico, porque a placenta também é”, afirma Luisa Campagnolo, especialista em histologia e embriologia na Universidade de Roma Tor Vergata, citada pelo Daily Mail, que não esteve envolvida no estudo.
“Não precisamos de ficar ‘loucos’ se nos sentarmos numa cadeira de plástico, mas acho que devemos evitar tudo o que é descartável, tudo o que está em contacto com alimentos, como usar recipientes de plástico no microondas”, aconselha a especialista, acrescentando que, “apesar de menos prático”, também não devemos beber água engarrafada em garrafas de plástico.
Philip Demokritou, especialista em nanociência e bioengenharia ambiental da Universidade Rutgers, em New Jersey, EUA, e autor do novo estudo, afirmou que as descobertas recentes de estudos com animais são “muito alarmantes”. “Do estômago do animal grávido, encontrámos, 24 horas depois, esses micro e nanoplásticos na placenta. Mais importante ainda, encontrámo-los em todos os órgãos do feto, o que aponta para possíveis efeitos no seu desenvolvimento.”
Já se sabia que os microplásticos estão a ser consumidos e inalados pelos seres humanos, apesar de ainda se desconhecer a verdadeira dimensão do seu impacto na saúde.
Um estudo italiano de 2020, publicado na na Environment International, analisou seis placentas humanas recorrendo à espectroscopia Raman, uma técnica de alta resolução que pode proporcionar, em poucos segundos, informação química e estrutural de praticamente qualquer material orgânico ou inorgânico. Ao todo, foram encontrados 12 fragmentos de microplásticos em quatro das placentas analisadas (5 no lado fetal, 4 do lado materno e 3 nas membranas corioamnióticas).
Sendo a placenta o órgão que garante e regula a chegada de nutrientes e oxigénio ao feto, atuando como um “interface complexo através de diferentes mecanismos”, como destacavam os investigadores, a presença de microplásticos – que contêm substâncias que podem agir como disruptores endrócrinos – pode traduzir-se numa série de consequências para o desenvolvimento fetal.
Demokritou referiu que é necessário haver mais investimento em investigação de forma a entender efetivamente o impacto que os micro e nanoplásticos têm na saúde e, especialmente, na dos fetos. “Cada pessoa consome cerca de 5g de micro e nanoplásticos por semana. Isto é o equivalente a um cartão de crédito a entrar no estômago semanalmente”, acrescenta, rematando: “não podemos voltar à Idade da Pedra, mas como sociedade precisamos de nos tornar mais inteligentes, abraçar conceitos sustentáveis, para evitar crises como esta”.