Marisa Jo Mayes, criadora de conteúdos para o TikTok e fundadora de startups, como se intitula, ficou conhecida por criar o conceito de Bare Minimum Mondays , que significa, na tradução livre, “segundas-feiras mínimas”.
A jovem defende que as pessoas devem tomar a decisão consciente de não fazerem tanto no primeiro dia da semana de trabalho, poupando desta forma energias para o resto da semana “Foi como se um feitiço mágico caísse sobre mim”, explicou Mayes, em entrevista ao Business Insider, acrescentando que se sente “muito melhor”, deixou de estar “sobrecarregada” e acaba por fazer mais do que esperava, sem sentir a pressão do regresso ao trabalho no domingo.
Na mesma entrevista, Marisa Jo Mayes contou que começou a praticar as “segundas-feiras mínimas” em 2022, depois de sofrer um burnout em 2020, momento em que fazia vendas de dispositivos médicos. “Estava completamente infeliz e exausta”, disse. Despediu-se e começou a trabalhar de maneira independente e foi durante esse período que percebeu o que se passava, verdadeiramente, com ela.
“Tinha um problema de “cultura apressada”, de perfecionismo. Ainda estava a trabalhar da mesma maneira, era um ciclo de stress e esgotamento”, contou. Mayes explicou que “fazia uma lista de tarefas insanamente longa para as segundas-feiras”, na esperança de se sentir bem consigo e com tudo o que estava a conseguir fazer.
Contudo, a pressão que sentia por saber o que a esperava às segundas-feiras teve nela o efeito completamente oposto. Esta nova forma de viver as segundas-feiras ajudou a criadora de conteúdos a evitar os “domingos assustadores”. Como referiu, é “uma maneira de começar a semana priorizando-se a si mesmo, em detrimento de pôr em primeiro lugar o “eu” funcionário [de uma empresa]”.
“Numa uma segunda-feira mínima, não faço reuniões e começo devagar nas primeiras duas horas (…) São duas horas sem tecnologia – sem ver o e-mail – apenas a fazer o que preciso para me sentir bem”, esclareceu, acrescentando que, apesar de trabalhar menos do que as 8 horas diárias de antes, “como é um trabalho realmente focado”, acaba por ser igualmente produtiva.
Bare Minmum Mondays e desistência silenciosa: uma vontade de os mais novos se defenderem do trabalho insano e mal pago?
As Bare Minimum Mondays surgem no seguimento do quiet quitting, ou desistência silenciosa, que basicamente se trata de não executar tarefas para as quais não se recebe compensação financeira, ou, como resume o The Wall Street Journal, não fazer mais do que o necessário para manter o emprego. No rescaldo pandémico, muitos começaram a dar outra importância ao bem-estar e à saúde mental, o que pode explicar esta tendência emergente nas gerações mais jovens, dispostas a dizer “não” ao burnout e a mudar o statu quo.
Para a jornalista da CNN Holly Thomas, ambos os conceitos são evidências “de que a geração mais jovem é composta por mimados obsessivos por autocuidado”. “Sou da geração millennial e, tal como os trabalhadores iniciantes de hoje, formei-me em condições abaixo da média”, escreve a jornalista. “Ganhava menos dinheiro por mês do que seria cobrado numa renda uma década depois e geria os meus relacionamentos num estado permanente de exaustão”, refere ainda, acrescentando que, ao contrário da Geração Millennial, que ainda acredita em melhorias, “a Geração Z não tem tais ilusões”.
“Além disso”, escreve, “os amigos e colegas mais velhos da Geração Z, os millennials, não trazem consigo as mensagens de esperança que herdaram dos seus antepassados da Geração X”. “Dez anos depois de começarem a trabalhar, muitos millennials permanecem financeiramente precários, ainda têm de arrendar, não podem ter filhos e reclamam insistentemente que a pandemia de Covid-19 lhes roubou os últimos vestígios de juventude”, remata.
Da mesma forma, Mayes, que tem recebido várias críticas desde que abordou as Bare Minimum Mondays, admitiu que esta maneira de viver o início da semana “não é realista para todos”. “Sou autónoma, trabalho em casa, não sou mãe”, disse, referindo que leu comentários como “os millennials não sabem o valor do trabalho duro”.
Por outro lado, Holly Thomas escreve que, apesar de os mais novos defenderem e “republicarem TikToks a elogiarem as tendências que promovem menos trabalho”, trabalham, mesmo assim, mais por menos relativamente aos seus pais da Geração X e avós baby boomers. “E ao contrário dos millennials, que foram pelo menos motivados pela esperança de que tudo valeria a pena no final, não existe tal luz no horizonte para a Geração Z”.