Comichão, pingo ou corrimento nasal, espirros, obstrução nasal em maior ou menor grau, frequentemente associados a sintomas oculares, são sinais de rinite alérgica, resume Mário Morais Almeida, imunoalergologista e coordenador do Centro da Alergia do Hospital CUF Descobertas.
Já para o diagnóstico da rinossinusite – nome que hoje todos os médicos atribuem à sinusite –, existem quatro sinais sugestivos: as secreções nasais anteriores ou posteriores, a obstrução nasal, dor na face e a diminuição do olfato, que pode ser total quando o doente tem pólipos nasais. Apesar de os doentes com rinite alérgica poderem ter sintomas durante todo o ano, há épocas em que as queixas aumentam, dependendo daquilo a que são alérgicos. Assim, se no outono e inverno se agravam os sintomas das pessoas com alergia a ácaros, a primavera pode ser mais crítica para os alérgicos aos pólenes, indica José Luís Plácido, diretor do Serviço de Imunoalergologia do Hospital São João, no Porto. Veja os sintomas destas doenças – que afetam cada vez mais pessoas.
Tosse
O doente pode tossir tanto na rinite como na rinossinusite, por o ranho escorrer para trás do nariz e descer pela garganta, “ocorrendo o típico pigarrear”, começa por explicar Nuno Sousa, coordenador do grupo de interesse de rinite da Sociedade Portuguesa de Alergia (SPAIC). Daí que surja o incómodo da tosse e da garganta arranhada, aponta o imunoalergologista, que exerce no Centro Hospital de Leiria, que faz parte do Colégio da especialidade da Ordem dos Médicos. A imunoalergologista Cristina Ornelas, da Clínica de Santo António, nota que as crianças são quem tem mais tosse nestas doenças.
Obstrução e secreção nasal
É comum a obstrução ou congestão nasal ocorrer nas duas doenças por as mucosas estarem inflamadas. O doente fica com o nariz entupido e tem dificuldade em respirar. “Não há espaço para o ar passar no interior das duas narinas”, e acaba por fazê-lo pela boca, esclarece o imunoalergologista Nuno Sousa. Na sequência disso, alerta o médico, a pessoa pode ressonar muito durante o sono e, depois, acordar com a boca seca. É preciso, aconselha, estar atento a estes dois sinais – que, por norma, “os doentes costumam desvalorizar”.
Já a secreção nasal, também designada de rinorreia, consiste no corrimento nasal (ranho), que pode ser anterior e sair pelas narinas, ou posterior e correr pela garganta, refere a imunoalergologista Eunice Dias de Castro, da Lusíadas Saúde e do Hospital São João, no Porto. Segundo a médica, na rinossinusite crónica, “as secreções” são brancas e opacas ou de coloração amarela clara. Já na rinossinusite aguda bacteriana, essas secreções são mais espessas, amarelas ou até esverdeadas.
Olfato
Pode haver redução do olfato tanto na rinite como na rinossinusite, explicam os médicos. “Como na rinite alérgica a obstrução nasal não é tão grande, pode ocorrer redução do cheiro, mas não há ausência total”, diz o imunoalergologista Nuno Sousa, explicando.que os doentes sentem os cheiros mais intensos, como o odor a gás em casa. Já na rinossinusite com pólipos nasais, causa, muitas vezes, ausência de cheiro. Ou seja, há pessoas que podem ficar sem olfato total, porque o nariz fica obstruído por causa dos “pólipos que são tecidos moles benignos que surgem no nariz”, acrescenta o imunoalergologista. A situação pode, contudo, ser revertida com medicação ou cirurgia. Segundo a médica Cristina Ornelas, a perda do olfato ocorre sobretudo nos adultos.
Pressão na face
De acordo com a médica Eunice Dias de Castro, do Hospital São João e do Hospital Lusíadas Porto, “a dor, pressão ou sensação de preenchimento (plenitude) ao nível da face” é um dos sintomas da rinossinusite. Uma situação que resulta da inflamação dos seios perinasais, que ficam cheios. “O normal é esses seios estarem vazios”, esclarece o imunoalergologista Nuno Sousa, explicando que, quando ficam inflamados, causam a tal sensação de pressão e dor na cara.
Dor de cabeça
É um sinal comum nas duas doenças, com algumas diferenças. “Se for muito intensa e de forma aguda, e na região frontal, associa-se à rinossinusite infecciosa”, avisa Delfim Duarte, diretor do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. O doente tem dor de cabeça porque, estando muito congestionado, a normal drenagem dos seios perinasais pode obstruir e infetar secundariamente. Depois, o pus exerce pressão nos seios perinasais, acrescenta. “A pessoa tem dor de cabeça porque fica congestionada e sente pressão no seio perinasal por causa da inflamação”, resume Leonel Luís, diretor do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Santa Maria.
Febre
É pouco frequente acontecer, mas os doentes com rinite ou rinossinusite podem ter febre, porque são mais suscetíveis de contrair infeção por bactérias ou vírus, nota o médico Ruben Duarte Ferreira, secretário do grupo de interesse de imunodeficiências primárias da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.
A febre é causada pela inflamação e infeção dos seios perinasais e da mucosa nasal.
Mau hálito
Uma pessoa que tenha estas doenças pode ter mau hálito (halitose), garante Mário Morais Almeida, imunoalergologista e coordenador do Centro da Alergia do Hospital CUF Descobertas. Segundo o especialista, esta situação é muito frequente em quem sofre de rinossinusite e ao acordar de manhã. Isto porque, esclarece o médico Nuno Sousa, da Sociedade Portuguesa de Alergia, é durante a noite que se acumula mais ranho que escorre pela garganta, causando mau hálito.
Olhos inchados
É normal um doente com rinite alérgica ter os olhos inchados, principalmente se está com conjuntivite alérgica, o que, nota a imunoalergologista Cristina Ornelas, “ocorre em mais de 50% das pessoas com esta doença”. O inchaço acontece por causa da inflamação da mucosa ocular pelos alergénios, que também provoca “a estimulação da secreção lacrimal e das terminações nervosas, com surgimento de lacrimejo, comichão e ardor nos olhos”, descreve a imunoalergologista.
A médica avisa, contudo, que é raro um doente com rinossinusite ter inchaço dos olhos. Se tiver, deve procurar um médico de imediato. Estamos, neste caso, perante “a celulite periorbitária, uma doença que pode ser uma complicação de uma rinossinusite não tratada, é mais frequente em crianças e deve-se a uma inflamação dos tecidos da parte anterior do olho, principalmente as pálpebras”, resume. Os sintomas consistem em inchaço marcado das pálpebras, vermelhidão, aumento da temperatura ou dor no local e, por vezes, febre.
Dor de ouvidos
Ambos os doentes com rinite e rinossinusite podem ter dor de ouvidos quando têm o nariz obstruído, mas este estado doloroso dura poucos dias. Segundo o imunoalergologista Nuno Sousa, “o arejamento dos ouvidos faz-se pelo nariz. Se tiver as duas narinas obstruídas, também pode sentir dor de ouvidos”, refere o coordenador do grupo de interesse de rinite da SPAIC. “Tratando a obstrução nasal, normalmente passa a dor de ouvidos”, assegura o médico.
Dor de dentes
Pode parecer estranho e também ser raro ocorrer, mas uma dor de dentes pode ser causada pela rinossinusite. O dente dói e, muitas vezes, o doente vai ao dentista, faz um raio-x e percebe que este estado doloroso não está relacionado com o dente. Pode, sim, ser “causada pela inflamação dos seios maximilares, que são os seios perinasais que estão acima dos dentes superiores ao lado do nariz”, esclarece o imunoalergologista Nuno Sousa. O otorrinolaringologista Delfim Duarte realça, por seu lado, o facto de “as raízes dentárias estarem muito próximas do pavimento dos seios maxilares”.
Fadiga
É normal um doente com rinite ou com rinossinusite mais grave queixar-se de fadiga quando não descansou o suficiente e não dormiu bem e, como tal, não teve um sono reparador. “A má qualidade de sono pode ser provocada pela congestão nasal e/ou por libertação de mediadores inflamatórios, que podem suprimir ou diminuir o sono”, sublinha a imunoalergologista Cristina Ornelas. A médica alerta: “A interferência frequente no sono torna as pessoas mais suscetíveis a perturbações cognitivas (memória, capacidade de aprendizagem, concentração), a problemas funcionais (diminuição da função psicomotora, diminuição da produtividade, maior propensão a acidentes) e a perturbações psicológicas (fadiga, irritabilidade, mal-estar, ansiedade ou depressão).”
Sonolência
Os doentes com rinite ou com rinossinusite podem sentir-se sonolentos. “Mas não é a doença que causa o sono”, avisa o coordenador do grupo de interesse de rinite da SPAIC. O doente sente-se assim, esclarece o imunoalergologista Nuno Sousa, “porque, como tem o nariz muito obstruído, pode respirar mal durante noite e, por consequência, não dormir bem. Acaba por não ter um sono reparador”.
Pingos e comichão no nariz, espirros e lacrimejo
Os espirros e a comichão nasal são alguns dos sinais “mais característicos da rinite alérgica, que é um processo inflamatório da mucosa do nariz”, afirma José Luís Plácido, diretor do Serviço de Imunoalergologia do Hospital São João, no Porto.
Ao entrarem em contacto e inalarem as substâncias a que são alérgicas, por exemplo, ácaros, pólenes ou pelo dos animais, as pessoas com rinite alérgica entram num processo inflamatório que causa comichão e pingos no nariz, espirros e lacrimejo, descreve, por seu lado, Delfim Duarte, secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. As pessoas têm pingo no nariz e espirros devido à inflamação da mucosa nasal, na rinite alérgica, e dos seios perinasais, no caso de haver rinossinusite, explica, por sua vez, a imunoalergologista Cristina Ornelas. “Ao haver esta inflamação, os pequenos vasos sanguíneos, que existem nesta mucosa, dilatam (o que origina também o sintoma de congestão nasal), havendo aumento da passagem de líquido de dentro destes vasos para o exterior”, descreve a médica. Além disso, existem glândulas na mucosa nasal responsáveis pela produção de ranho e que, na rinite alérgica e na rinossinusite, são estimuladas. “Esta estimulação de produção de ranho, juntamente com a passagem de líquido para o exterior dos vasos sanguíneos, são os principais responsáveis pelo aumento das secreções nasais, ou seja, o pingo no nariz”, conclui Cristina Ornelas.