Quando falamos de doenças alérgicas, pensamos imediatamente na primavera, época em que o sistema imunológico é mais afetado por ácaros, pólen ou outros agentes alérgicos. Mas, nos últimos anos, surgem cada vez mais queixas no outono. “Com estas temperaturas amenas, temos uma replicação em menor escala do que acontece na primavera, com a polinização e a libertação de grãos de pólenes de plantas como as gramíneas, e outros mais específicos desta altura do ano, por exemplo, de plantas como as gramíneas, a parietaria e algum cipreste, a provocar as irritações alérgicas”, explica Pedro Carreiro-Martins, da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC). Há também “maiores queixas relacionadas com os ácaros do pó, que com as primeiras chuvas e o aumento da humidade nas casas, agora com menor ventilação, tendem a proliferar”, acrescenta. Por muito bonita que seja a paisagem, as próprias folhas das árvores caídas no chão representam um perigo, porque a acumulação em grande quantidade e a correspondente decomposição pode abrigar colónias de fungos.
“O que muitas pessoas não percebem é que as alergias associadas às estações quase duplicaram a duração e ficaram mais intensas por causa das alterações climáticas”, afirmou Kenneth Mendez, presidente da Asthma and Allergy Foundation of America, ao New York Times. Maiores emissões de dióxido de carbono estimulam as plantas a libertar maiores quantidades de pólen. “É por isso que as alergias estão a ficar piores.” Uma vez que o calor se mantém por mais tempo, as plantas que proliferam no outono tendem a crescer e a libertar mais agentes alérgicos. Isso é ainda mais visível nas cidades, onde as temperaturas costumam ser mais elevadas.
Alergia, constipação, gripe ou Covid-19?
Por esta altura, costuma ser particularmente difícil distinguir entre Covid-19, constipação, gripe e alergias, uma vez que os quadros clínicos apresentam muitas semelhanças. Para avaliar a que correspondem sintomas como pingo no nariz, espirros, congestão nasal e fadiga, pode fazer um teste antigénio. Mas existem mais sinais a que podemos estar atentos. No caso das alergias, as queixas tendem a perdurar entre quatro a oito semanas – ao passo que as viroses são mais rápidas –, e não costuma haver febre, sintomas gastrointestinais ou dores do corpo associadas. Comichões nos olhos, gargantas e nariz, assim como eczemas, costumam ser outros sinais fidedignos de alergias. O certo é que, tratando-se de alergias, a toma de um anti-histamínico costuma ter uma resposta notória.
Monitorizar os sintomas é decisivo, até porque, frequentemente, “a rinite alérgica precede o aparecimento de asma, sendo um fator de risco independente para o seu desenvolvimento”, segundo dados da SPAIC. Estima-se que a prevalência de rinite seja de 24% a 27% nas crianças, 27% nos adolescentes, 26% nos adultos e 30% nos idosos. A asma afetará 700 mil portugueses e uma enorme percentagem, cerca de 20%, são crianças. Globalmente, até 1/4 da população portuguesa apresenta alguma manifestação de doença alérgica e com uma evidência crescente de aumento de gravidade. Cerca de 60% da asma é alérgica e, nas crianças e no adulto jovem, a percentagem aumenta para 80 por cento.
No que diz respeito à proteção das agressões dos pólenes, a SPAIC deixa algumas recomendações:
– Evite realizar atividades ao ar livre quando as concentrações polínicas forem elevadas (consulte o boletim policlínico)
– Mantenha as janelas de casa e do carro fechadas
– Use óculos escuros para evitar as queixas oculares
– Faça a medicação prescrita
E, já agora, delegue a jardinagem e a apanha das folhas para outros.