Um novo estudo, levado a cabo por investigadores holandeses, sugere que a utilização de glicocorticóides – que podem ser prescritos para tratar asma, alergias, doença obstrutiva pulmonar crónica, doença de Crohn e outras doenças inflamatórias dos intestinos, eczemas e outros problemas de pele, esclerose múltipla, tendinite ou até lúpus – pode estar danificar a substância branca do cérebro. Este efeito foi encontrado tanto na toma oral como inalada destes medicamentos.
A substância branca é um conjunto de células com funções de apoio, sustentação e nutrição dos neurónios e dos gânglios e é responsável por transmitir informação por todo o sistema nervoso central
Esta nova investigação, publicada na revista científica BMJ Open, é “particularmente interessante para mostrar até que ponto a substância branca, que é necessária para que os neurónios se liguem entre si, é afetada pelo uso de medicação”, refere Thomas Ritz, professor de psicologia na Universidade Metodista Meridional, Países Baixos, citado pela CNN.
Os glicocorticoides são dos medicamentos mais receitados, devido à utilização generalizada para controlo a longo prazo de condições inflamatórias (não entram aqui os inaladores usados como SOS na asma, por exemplo).
A equipa de investigadores utilizou uma base de dados do UK BioBank, entre 2006 e 2010, de 500 mil residentes do Reino Unido. A partir destes resultados, os cientistas incluíram 222 participantes que tomavam glicocorticoides orais e 557 o inalavam. Os indivíduos não tinham qualquer sintoma de distúrbio neurológico, hormonal ou mental.
Depois de terem sido submetidos a testes cognitivos e de saúde mental, os participantes realizaram uma ressonância magnética cerebral. Os resultados mostraram uma maior quantidade de danos na substância branca do cérebro em indivíduos que utilizaram glicocorticoides orais de uma forma regular durante longos períodos. Um menor impacto foi encontrado na substância branca do cérebro nas pessoas que utilizaram glicocorticoides inalados.
Estudos anteriores já tinham associado o uso prolongado destes medicamentos a anomalias na estrutura do cérebro, assim como a problemas de saúde mental, como a ansiedade ou a depressão.
O uso de glicocorticóides está ainda associado ao ganho de peso e, em particular, a um aumento da percentagem de gordura corporal, que afeta o volume cerebral e a microestrutura da substância branca.
“Tanto quanto sabemos, este é o maior estudo até à data que avalia a associação entre o uso de glicocorticoides e a estrutura cerebral, e o primeiro a investigar estas associações em utilizadores de glicocorticoides inalados”, congratulam-se os autores do estudo.
No entanto, o estudo apresenta algumas limitações, como a impossibilidade de controlar a dose de glicocorticoides e a regularidade da toma. “Sabemos que apenas cerca de 50% dos pacientes com asma tomam a sua medicação como prescrito”, explica Thomas Ritz.