Para já, com 100 casos confirmados de monkeypox em Portugal, só quando um doente chega à urgência hospitalar ou ao consultório do médico é possível detetar a doença, com um período de incubação até três semanas.
Inicialmente, é através da observação literal de sintomas, como febre, dor de cabeça, dores musculares ou fadiga – em tudo confundíveis com os de uma gripe – que se traça o diagnóstico.
No entanto, os gânglios linfáticos inchados e as vesículas e feridas que, a certa altura, surgem na pele, não deixam sombra de dúvida de que pode ser um caso de vírus monkeypox, parente da varíola – mas não é varíola, doença declarada erradicada pela Organização Mundial da Saúde em 1980.
Traçado o quadro clínico, baseado em sinais, sintomas e também o historial do paciente, segue-se a necessária confirmação, feita apenas por meio de um teste PCR, via laboratorial.
Até agora, só o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) está a realizar testes, mas daqui a cerca de duas semanas haverá mais testes disponíveis.
Atenção: são de uso profissional exclusivo e para serem feitos em contexto de unidades de saúde, como centros de saúde, farmácias, hospitais e laboratórios de análises clínicas.
A Pantest, empresa portuguesa fundada há oito anos, é a única no País a desenvolver e a fabricar (na unidade em Oliveira de Frades) testes de monkeypox.
Licenciada pelo Infarmed para o fabrico de testes rápidos, a empresa está a trabalhar em parceria com o CECLIN – Centro de Estudos Clínicos da Universidade Fernando Pessoa.
Os dois testes desenvolvidos, um de antigénio (rápido) e outro PCR, em quase tudo semelhantes aos feitos para detetar o SARS-CoV-2, não são para as pessoas fazerem em casa.
O teste de antigénio, rápido, com resultado também em cerca de 15 a 30 minutos, não é um auto-teste. “Está provado que dos auto-testes resultam muitos falsos negativos, porque a recolha não é bem feita. O utente não deve ser parte do método de diagnóstico”, esclarece Ruben Fernandes, biólogo, especialista em Microbiologia e professor catedrático da Universidade Fernando Pessoa.
A diferença face à Covid-19, é que, por ser uma pandemia, as autoridades de saúde mundiais e dos países decidiram ser mais benéfico democratizar o acesso aos auto-testes. No caso do monkeypox esse cenário ainda não se colocou.
São mais de 500 casos confirmados em duas semanas. Existem casos em todos os continentes (com exceção da Antártida), mas a Europa regista a esmagadora maioria – principalmente Portugal, Espanha e Reino Unido, que em conjunto têm 300 pessoas infetadas.
O kit do teste rápido virá com uma cassete, onde é colocada a amostra de sangue recolhida ou o exsudado, o pus presente na ferida em crosta nas lesões dérmicas.
“A recolha de sangue funciona como num teste da glicose, tão comum entre os doentes diabéticos. A quantidade de sangue necessária é muito pequena, dez vezes menos do que o tamanho de uma pérola, parecida com o tamanho de uma pevide de kiwi”, exemplifica Susana Almeida, geneticista molecular e diretora científica da Pantest.
“Este teste vai servir para detetar, isolar e confinar mais rapidamente o doente”, acrescenta Ruben Fernandes.
Segue-se, em laboratório, a confirmação. E essa só através da validação de um teste de PCR. “Em análise só encontramos o que procuramos. Até agora, não existia nos painéis analíticos dos laboratórios forma de detetar a varíola [doença erradicada em 1980]. Como o vírus é novo, o que a Pantest faz é disponibilizar o método para entrar na rotina clínica”, explica o biólogo.