Mais de metade das pessoas que foram hospitalizadas na sequência de uma infeção por Covid-19 ainda têm sintomas da doença mais de dois anos depois. Esta é a conclusão de um novo estudo, realizado por uma equipa em Wuhan, na China, cidade onde foi detetado o Sars-CoV-2 pela primeira vez, em dezembro de 2019.
Os investigadores acompanharam quase 1200 doentes durante dois anos, com o objetivo de analisarem a saúde a longo prazo destes sobreviventes e o impacto específico da Covid-19 na saúde. Todas as pessoas acompanhadas foram tratadas no Jin Yin-tan Hospital, em Wuhan, entre 7 de janeiro e 29 de maio de 2020, e o seu estado de saúde foi avaliado aos seis meses, 12 meses e dois anos após a infeção por Covid-19. Em comparação, analisou-se um grupo de controlo sem histórico de infeção, tendo em conta o sexo, a idade e as comorbilidades
As conclusões da equipa foram que, em comparação com a população em geral, as pessoas que foram infetadas com o novo coronavírus e estiveram hospitalizadas não são tão saudáveis e, portanto, a sua qualidade de vida também é pior: por exemplo, 31% dos doentes recuperados relataram sentir fadiga ou fraqueza muscular e 31% disseram ter dificuldades em dormir. Por outro lado, a proporção de participantes sem registo de infeção anterior que relataram esses sintomas foi de 5% e 14%, respetivamente.
“As nossas descobertas indicam que, para uma certa proporção de sobreviventes hospitalizados com Covid-19, embora possam já ter eliminado a infeção inicial, são necessários mais de dois anos para recuperarem totalmente”, afirma Bin Cao, principal autor do estudo e professor no China-Japan Friendship Hospital, em Pequim, na China.
O estudo, publicado na revista Lancet Respiratory Medicine, descreve que seis meses após a infeção por Covid-19, 68% dos doentes relataram ter pelo menos um sintoma prolongado da doença; já dois anos depois da infeção, 55% dos voluntários referiram ainda ter sintomas, sendo a fadiga ou fraqueza muscular os sintomas mais mencionados.
Além disso, dois anos depois e não tendo em conta a gravidade da doença inicial, 11% dos participantes não tinham regressado ao trabalho. Os investigadores também deram conta de que os doentes com Covid-19 eram mais propensos a relatar vários outros sintomas como dores nas articulações, tonturas e dores de cabeça.
Para avaliarem a saúde dos envolvidos na pesquisa, a equipa, além de questionar sobre o regresso ao trabalho após a doença, realizou exames laboratoriais, fez questionários sobre sintomas da Covid-19, mas também sobre saúde mental e sobre o facto de os doentes terem ou não recorrido a cuidados de saúde após a alta hospitalar. Além disso, foi pedido aos voluntários que fizessem caminhadas de seis minutos.
Nos questionários sobre a qualidade de vida, os sobreviventes de Covid-19 relataram mais frequentemente sentir dor, desconforto, ansiedade ou depressão relativamente ao grupo de pessoas sem registo de infeção.
Apesar dos resultados da pesquisa, os investigadores alertam para as suas limitações, uma vez que não envolveu doentes infetados com variantes posteriores à inicial. Além disso, a análise da saúde dos participantes pode conter vários erros, já que teve em conta vários autorrelatos.