Cada vez mais pessoas procuram clínicas e especialistas com o objetivo de colocarem ácido hialurónico ou até mesmo toxina botulínica, mais conhecida por botox, seja por motivos estéticos ou de saúde. Mas conhecer as propriedades do ácido hialurónico, além de todas as suas possíveis utilizações e cuidados a ter é essencial para que não haja desilusões e, sobretudo, problemas mais tarde. Há mitos enraizados sobre este produto que podem confundir e tornar a decisão de colocar ou não ácido hialurónico mais complexa.
Ricardo Guilherme é médico e especialista em Medicina Estética, especialização que tirou na Universidad de Alcalá de Henares, em Madrid. É membro da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética (SPME) e dá consultas em Cascais, na Clínica Dr.ª Rita de Botton. À VISÃO, desconstrói alguns mitos e explica outras verdades, para que fique com uma bagagem de conhecimento em relação a este tema.
O ácido hialurónico faz mal ao organismo. Mito ou verdade?
MITO. O ácido hialurónico é uma substância naturalmente presente em quase todos os tecidos do organismo humano, encontrando-se em maior abundância na pele, olhos e articulações. É muito utilizado na Medicina Estética como um poderoso aliado na luta contra os sinais de envelhecimento. Participa na manutenção da elasticidade e textura da pele e pode, em certos locais, restaurar o volume que perdemos com a idade.
O ácido hialurónico é aconselhável em qualquer tipo de pele. Mito ou verdade?
VERDADE. Atenção, depende do resultado que procuramos! É um poderoso hidratante e participa na reparação dos tecidos e cicatrização de feridas. Pode ser aplicado em todos os fotótipos de pele, não existindo contraindicações formais neste sentido. No entanto, dependendo do resultado final que o paciente procura obter, pode existir alguma diferença de resultados entre os diversos tipos de pele. O ponto mais importante que devo realçar é que, antes de realizar qualquer tratamento, deve ser feita uma correta avaliação individual, com uma exaustiva anamnese e exames clínicos do paciente para descartar eventuais contraindicações.
Só se deve colocar ácido hialurónico depois dos 35 anos. Mito ou verdade?
MITO. Com o envelhecimento, algumas regiões faciais perdem, naturalmente, algum do volume do tecido subcutâneo de sustentação. A partir dos 45 anos, os níveis de ácido hialurónico começam a decrescer; por volta dos 70 anos, possuímos menos 80% de ácido hialurónico do que aos 40. Esta perda causa o aparecimento de rugas, flacidez, défice de volume e desidratação dérmica. Obviamente, o efeito será tanto mais benéfico quanto maior escassez em ácido hialurónico o paciente apresentar. Hoje em dia, apostamos cada vez mais na prevenção e é uma área que gosto muito de trabalhar. Quanto mais cedo se iniciar uma correta e consciente prevenção em Medicina Estética, maior será o benefício a longo prazo.
O ácido hialurónico vai desaparecendo com o passar do tempo e, por isso, vou ter, de tempos a tempos, de voltar a colocá-lo. Mito ou verdade?
VERDADE. Qualquer produto ou tratamento na área de Medicina Estética tem uma determinada durabilidade e necessita, por isso, de reaplicações periódicas. Normalmente, os fillers de ácido hialurónico têm uma duração média estimada de 6 a 24 meses, dependendo do tipo de produto usado, região onde é aplicada e técnica utilizada. É essencial insistir que o médico utilize uma marca de ácido hialurónico de confiança, com resultados demonstrados em estudos científicos, que esteja autorizada para o uso cosmético e que seja assinado um consentimento informado antes de realizar qualquer procedimento.
O ácido hialurónico é mais ou menos a mesma coisa que a toxina botulínica, mais conhecida por botox. Mito ou verdade?
MITO. Esta é uma questão que me colocam quase diariamente e é sempre importante clarificar. O ácido hialurónico pode, quando indicado, conferir um aspeto mais rejuvenescido ao rosto, sendo este produto aplicado na região dos malares, mandíbula e zonas laterais. Também é usado nas regiões labial ou periorbitárias, ou até cervical e nas mãos. A sua função é a de hidratar a pele, restaurar volume, preencher sulcos e amenizar a flacidez. A toxina botulínica, vulgarmente designada pelo nome comercial Botox®, quando injetada em certas regiões faciais, provoca uma redução da ação da musculatura responsável pela mímica facial, provocando um relaxamento muscular e atenuando assim as rugas de expressão. A maior parte dos pacientes procuram este último tratamento com o objetivo de corrigir as rugas frontais (testa), correção da queda da cauda das sobrancelhas, amenização de “pés de galinha” (rugas periorbitárias), “código de barras” (rugas periorais), rugas cervicais (bandas platismais no pescoço) ou sorriso gengival (visualização em excesso da gengiva do maxilar superior).
Se não gostar do resultado do ácido hialurónico, este pode ser totalmente revertido. Mito ou verdade?
VERDADE. O ácido hialurónico possui um “antídoto”, sob a forma de uma enzima – a hialuronidase. É realizado um procedimento com este produto quando ocorre alguma suspeita de complicação com a injeção de ácido hialurónico. No entanto, devo fazer uma ressalva: a hialuronidase não deve ser vista como uma substância de utilização de rotina, deve ser utilizada com cautela, em caso de não existir alternativa e somente por um médico. O número de complicações com ácido hialurónico é bastante raro, desde que o procedimento seja realizado por um médico credenciado e habilitado ao exercício de procedimentos estéticos. O médico é o único profissional capacitado para identificar a necessidade do uso de hialuronidase, daí que reforço que deva ser sempre procurado um profissional médico para realizar este tipo de tratamentos.
Depois de colocar ácido hialurónico na pele, não posso apanhar sol durante algum tempo e tenho outras restrições. Mito ou verdade?
VERDADE. Para manter um efeito máximo e aumentar a durabilidade do ácido hialurónico, recomenda-se uma alimentação cuidada e variada, cessação tabágica e alcoólica e uso regular de proteção solar (inclusivamente no Inverno). Não deve ser realizada atividade física durante um período de 24 horas (principalmente desporto de contacto), evitar fazer massagens no local onde foi aplicado o produto e não se expor a temperaturas extremas (frio ou calor excessivos). A pele deve ser corretamente hidratada, podem ser aplicados antioxidantes (séruns e vitamina C) e pode ser usado gelo local (para o alívio do inchaço, se surgir), desde que aplicado leve e indiretamente e por curtos períodos. As massagens e uso de radiofrequência devem ser protelados por um período mínimo de 2 semanas.
Em vez de injetar ácido hialurónico, posso usar outros produtos, como cremes, que fazem o mesmo efeito. Mito ou verdade?
MITO. Os cremes e máscaras à base de ácido hialurónico são excelentes aliados na prevenção do envelhecimento e, quando associados a retinóides, vitamina A e vitamina C ou outros rejuvenescedores celulares, apresentam excelentes resultados a longo prazo. No entanto, deve ser ressaltado que de nenhuma maneira substituem o ácido hialurónico que utilizamos em Medicina Estética. Os produtos, como cremes ou séruns, necessitam de uma utilização com muita regularidade e durante um período de tempo muito prolongado para terem um efeito aproximado aos fillers usados em Medicina Estética; estes últimos têm propriedades em particular que conferem um efeito mais duradouro e com resultados muito mais satisfatórios.
O ácido hialurónico é colocado apenas no rosto, nos outros locais do corpo coloca-se toxina botulínica. Mito ou verdade?
MITO. Ambos podem ser utilizados nas diversas regiões corporais. O ácido hialurónico pode estar indicado, na sua forma injetável, no preenchimento facial para melhorar o contorno da face, definição de contorno e/ou volume de lábios, sulcos nasolabiais, sulcos nasojugais (olheiras) ou nariz, mas também na reposição de volume ou hidratação nas mãos e algumas regiões corporais. Pode ser usado no tratamento de cicatrizes de acne e de celulite, conferindo uma maior luminosidade à pele. A toxina botulínica pode ser aplicada em certas regiões faciais, atenuando as rugas de expressão, mas tem também outras indicações, como na hiperhidrose (excreção excessiva de suor), cefaleias (dores de cabeça) crónicas, blefarospasmos, espasmos faciais, distonias cervicais, estrabismo, bruxismo, sialorreia, patologias urológicas ou ginecológicas, entre outros.
Apenas um médico especializado em Medicina Estética está habilitado a colocar ácido hialurónico. Mito ou verdade?
VERDADE. Esta é uma excelente questão e um ponto que quero deixar bem claro, porque se tem debatido ultimamente este tema. O único profissional que pode utilizar ácido hialurónico (e outros produtos em Medicina Estética) é um médico. São procedimentos exclusivos para médicos, qualquer outra pessoa que os realize incorre no que se designa por intrusismo, ou seja, a prática de uma atividade profissional por uma pessoa não autorizada a exercê-la. É um delito legal, uma usurpação de funções outorgadas a médicos. Hoje em dia, vemos todo o tipo de pessoas a efetuarem procedimentos nesta área que, se não forem realizados por médicos qualificados, podem levar a graves complicações ou inclusivamente colocar em risco a vida do paciente. A perfeita realização do procedimento, o conhecimento sobre a reologia e propriedades físicas de materiais e anatomofisiologia humana, assim como a monitorização e tratamento de eventuais efeitos adversos, é um exercício exclusivamente médico. Em caso de conhecimento de algum local onde emerjam dúvidas e incertezas sobre o pessoal e técnicas ali executadas, existe um gabinete especializado no combate ao intrusismo, como órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética (SPME), o qual é responsável por receber, analisar e dar o devido encaminhamento às situações de intrusismo que lhe são comunicadas; qualquer pessoa pode enviar informação para este órgão através do link: www.spme.pt/intrusismo. Procure sempre aconselhamento na área de Medicina Estética com um médico credenciado e com a devida formação científica especializada adequada.