O Natal deve ser celebrado “à volta de uma mesa, partilhando os alimentos tradicionais da época em família e com amigos”, começa por defender Catarina Roquette Durão, Nutricionista no Hospital CUF Tejo, que acrescenta que a consoada e o 25 de dezembro não devem deixar de ser celebrados “com o bacalhau, o peru, as rabanadas, os coscorões ou outros alimentos tradicionais na família”.
Isto não significa, claro, que nos dias que se avizinham se deva ingerir tudo o que se quer sem pensar na quantidade e na saúde, que pode ficar comprometida. “Os excessos podem estragar a festa e nos dias seguintes devíamos voltar a uma alimentação saudável, até porque uma semana depois vem a passagem do ano”, alerta. A especialista aconselha, por isso, a “evitar excessos de comida para conter consumos, gastos e desperdícios excessivos” e refere que realizar uma caminhada com a família e amigos nos dias festivos é um bom plano para ir desgastando o que se consome, além de promover o espírito natalício.
De acordo com Catarina Durão, o problema da alimentação não está nesta época de festas, mas sim no resto do ano e, por isso, a mudança de comportamentos e a adoção de um estilo de vida saudável devem ser feitas ao longo do tempo e não nesta altura, em que se põem em cima das mesas receitas tradicionais que fazem parte da cultura. “Não faz muito sentido alterar receitas tradicionais de Natal, algumas muito antigas, enraizadas na nossa história alimentar, nas nossas tradições familiares que nos despertam os sentidos e nos preenchem a alma”, defende.
Por isso mesmo, é importante seguir uma alimentação saudável e variada todos os dias – consumindo alimentos de cada grupo da nova Roda dos Alimentos -, incluindo nas diferentes épocas festivas, esclarece a nutricionista.
“Embora os alimentos na Roda estejam classificados por grupos, por terem características nutricionais semelhantes, não são iguais. Assim, ao variar obtemos um somatório das particularidades de cada alimento com maior probabilidade de obter todos os nutrientes e com a vantagem acrescida de não estarmos sempre expostos aos mesmos eventuais contaminantes”, explica a especialista, acrescentando que “ao variar tendo em conta a época do ano, estamos a ingerir alimentos da época, tendencialmente mais ricos em nutrientes, ao mesmo tempo que promovemos a sustentabilidade”.
Afinal, as receitas de Natal são pouco saudáveis?
De acordo com Catarina Durão, “há receitas tradicionais de Natal que nada têm de pouco saudável”. “O bacalhau da consoada, cozido com couves e grão, regado com um bom azeite, que é a base da alimentação mediterrânica, é saudável, com a exceção do sal que faz merecer uma boa demolha”, afirma a nutricionista.
Em relação ao peru, há quem use castanhas no seu recheio, um alimento de origem vegetal muito tradicional e interessante do ponto de vista nutricional, afirma. “Acompanhado de hortícolas, mesmo que tenha molho, não é certamente um atentado à saúde”.
E as sobremesas típicas desta altura, com ovos, açúcar e canela? “No quotidiano, devemos restringir o consumo de doces, mas em época de festa não faz sentido fazê-lo, sobretudo num País com uma doçaria tradicional de enorme riqueza”, afirma ainda Catarina Durão. “O prazer do pudim de Natal ou das rabanadas da avó não tem de ser eliminado no Natal, mas sim apreciado nessa época”.
E a ideia da importância de conviver à volta de uma mesa devia ser transportada para todos os dias do ano, defende também a nutricionista. “Na maior parte dos dias, devíamos privilegiar o convívio à mesa. Devíamos tentar reservar algum tempo para nós, para cozinhar, para caminhar ou fazer exercício e para estar com a família à mesa, praticando uma alimentação saudável”.