Uma investigação preliminar realizada por uma equipa internacional de Cardiff, País de Gales, e dos EUA, identificou o possível gatilho que criou coágulos em algumas das pessoas que foram inoculadas com a vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca, desenvolvida em conjunto com a Universidade de Oxford.
De acordo com a empresa, que também esteve envolvida na realização do estudo, a “pesquisa preliminar descobriu que a interação entre a vacina e uma proteína conhecida como fator plaquetário 4 pode ser a responsável pelos casos de trombose”, dizem os investigadores, no artigo publicado na revista Science Advances.
Através de uma técnica denominada criomicroscopia eletrónica, que permite obter imagens do adenovírus ao detalhe, a equipa chegou à conclusão de que essa reação pode dever-se à forma como o adenovírus utilizado pela vacina para transportar o material genético do coronavírus para as células se liga a essa proteína do sangue, a PF4, podendo desencadear uma reação em cadeia no sistema imunológico que pode provocar o desenvolvimento de coágulos sanguíneos. Segundo a equipa, a superfície externa do adenovírus atrai a PF4 como um íman.
Este fenómeno acontece em casos “extremamente raros, porque é necessário que ocorra uma cadeia de eventos complexos que desencadeie esse efeito colateral ultra raro”, explica Alan Parker, da Escola de Medicina da Universidade de Cardiff e um dos investigadores da pesquisa, citado pelo The Guardian.
O mesmo investigador explicou à BBC News que “apesar de se ter conseguido provar a ligação entre as principais armas dos adenovírus e o PF4”, ou seja, ter-se descoberto o gatilho, ainda há muitas etapas a percorrer.
Também à BBC um porta-voz da AstraZeneca referiu que “embora a investigação não seja definitiva, oferece percepções interessantes”, sendo que a empresa está “a aproveitar as descobertas” para tentar eliminar as hipóteses de estes fenómenos raros ocorrerem.
No início de junho, investigadores alemães tinham já encontrado uma possível razão para a formação de coágulos sanguíneos após a toma da vacina da AstraZeneca, referindo que o problema podia estar no adenovírus usado para inserir a proteína do SARS-CoV-2 que vai treinar o sistema imunitário, que formava cópias defeituosas, provocando reações inflamatórias.
A formação de coágulos é mais comum depois primeira dose do que a segunda, com 426 casos relatados ao regulador do Reino Unido a 17 de novembro, depois de 24 milhões de primeiras e segundas vacinas administradas. Em Portugal, esta vacina esteve suspensa no mês de março.
Em agosto, foi anunciado que uma equipa de investigadores britânicos descobriu uma síndrome rara de coágulos sanguíneos com elevada taxa de mortalidade, provocada pela vacina da Astrazeneca. Esta síndrome afeta uma em cada 50 mil pessoas com idades inferiores aos 50 anos e pode ocorrer em pessoas jovens e saudáveis.