O sal é um elemento essencial nas nossas dietas: usamo-lo para temperar praticamente todos os pratos salgados – e até em alguns doces. Mas o abuso de sal é uma das maiores causas de morte em todo o mundo. Estima-se que o consumo excessivo de sal resulte em 1.6 milhões de mortes por ano. Quatro em cada cinco destas mortes ocorrem em países de baixo e médio rendimento, e quase metade são entre pessoas com menos de 70 anos.
Atualmente, 1.13 mil milhões de pessoas sofrem de pressão arterial alta em todo o mundo. Este número é quase o dobro das pessoas afetadas há 40 anos. A maioria dessas pessoas vive em regiões mais pobres, e quase metade no continente asiático – 226 milhões de pessoas na China e 200 milhões na Índia. Em países mais desenvolvidos, no entanto, os níveis são mais baixos devido a melhores opções de dieta e de cuidados de saúde.
Além de um alto nível de sódio presente na dieta, outros fatores causadores da pressão arterial alta são, por exemplo, a exposição a altos níveis de poluição, uma fraca nutrição na infância, fumar e ter um estilo de vida sedentário.
As pessoas que sofrem de pressão arterial alta estão mais sujeitas a problemas cardiovasculares, ataques cardíacos e problemas nos rins. Mas estas complicações, e as mortes que lhes estão associadas, são evitáveis – e uma simples alteração nas nossas dietas pode ajudar bastante.
É o que propõe um estudo publicado recentemente no New England Journal of Medicine, que explorou os efeitos do sal com baixo teor de sódio na saúde cardiovascular. O estudo contou com cerca de 21 mil voluntários, habitantes de vilas rurais na China. Os participantes tinham uma idade média de 65 anos, e 72.6% tinham um historial de AVC, e 88.4% eram hipertensos. Os participantes foram divididos em dois grupos: um dos grupos substituiu o sal que usava nas refeições por sal com baixo teor de sódio, e o grupo de controlo continuou a utilizar o sal como normalmente, tendo sido acompanhados ao longo de cerca de cinco anos.
Os resultados foram animadores: os números de ataques cardíacos e outros acidentes cardiovasculares, e também os números de morte por qualquer causa, foram mais baixos no grupo que utilizou o sal com baixo teor de sódio. Em concreto, foi demonstrado que o uso de sal baixo em sódio diminui o risco de morte em 12%, o risco de AVC em 14%, e o risco de quaisquer acidentes cardiovasculares (AVC e ataques cardíacos combinados) em 13%. Estes números equivalem, só nos Estados Unidos da América, à prevenção de 200 mil ataques cardíacos e AVC por ano. Um estudo anterior (confirmado pelo New England Journal of Medicine) estimou que a implementação a nível nacional do sal baixo em sódio na China poderia salvar 461 mil vidas por ano.
Uma alternativa que se pode tornar na norma?
O sal baixo em sódio surgiu como alternativa ao sal tradicional, pois tem um sabor idêntico mas contém cerca de um quarto de sódio a menos que o sal tradicional. Nesta alternativa, o sódio é substituído por potássio. A utilização deste substituto tem um duplo benefício: por um lado, a redução do nível de sódio baixa a pressão arterial. E por outro, a inclusão de um maior nível de potássio na dieta também tem efeitos positivos na saúde do coração e reduz ainda mais a pressão arterial. E além disso, os cientistas envolvidos no estudo também concluíram que o sal baixo em sódio não aumentou o risco de hipercalemia, caracterizada por níveis excessivamente altos de potássio no sangue. De facto, o nível de potássio consumido diariamente numa dieta normal em que se substitua o sal tradicional por sal baixo em sódio corresponde àquele presente em uma ou duas bananas.
A boa notícia é que esta é uma substituição alimentar muito fácil de fazer, e pode salvar milhões de vidas. De acordo com os autores do estudo, esta é uma substituição prática e de baixo custo, particularmente em regiões mais pobres, onde é comum as pessoas adicionarem grandes quantidades de sal às refeições que preparam em casa – e onde o número de pessoas afetadas pela hipertensão é maior. Já nos países desenvolvidos, a maior parte do sódio consumido provém de refeições processadas ou em restaurantes.
“Os benefícios de diminuir o sódio, aumentar o potássio e reduzir a pressão arterial são muito provavelmente passíveis de ser generalizados, e ser alcançados noutras partes do Mundo”, diz Bruce Neal, autor principal do estudo. No entanto, acrescenta que os benefícios da utilização de sal baixo em sódio serão provavelmente maiores nos locais onde as pessoas têm mais controlo sobre a quantidade e o tipo de sal presente na sua comida. “Nos EUA, grande parte do sódio consumido provém de alimentos processados e embalados”, continua, daí que na China rural, onde o consumo deste tipo de alimentos é muito raro, a substituição do sal pelo sal baixo em sódio tenha efeitos mais acentuados.