Comecemos pelo significado da palavra que a Organização Mundial da Saúde classificou como a epidemia do século XXI. O stresse é a resposta do organismo às exigências ou ameaças com que o individuo é confrontado num determinado contexto. “Este processo, essencialmente individual, resulta da avaliação que a pessoa faz dos seus recursos para fazer face a essas exigências”, explica Samuel Antunes, psicólogo clínico e professor universitário. Quando sente que não é capaz ou não se vê com recursos suficientes, então desencadeia-se o processo de stresse.
Refira-se que existem dois tipos de stresse. O bom (denomidado eustress) que se manifesta, por exemplo, quando estamos apaixonados, perante o alcançar de um objetivo ou quando nos sentimos muitos felizes e eufóricos com determinada situação, e o mau (distress), originado por situações tristes, como a morte de alguém ou o fim de uma relação amorosa, ou estados de ansiedade e tensão. É deste último que vamos continuar a falar e que foi cunhado apenas como stresse.
Os 6 perigos
Quando é constante e se torna crónico pode trazer consequências graves para a saúde
► Doenças cardiovasculares
► Problemas dermatológicos como eczemas, alopécia (calvíce prematura) e vitiligo (manchas brancas na pele)
► Síndrome do cólon irritável
► Úlcera péptica (estômago)
► Enfraquecimento do sistema imunitário, tornando o organismo mais vulnerável a infeções e estando relacionado com a doença oncológica
► Depressão e ansiedade
Marco Ramos, psicólogo clínico, traduz para uma forma simples. “É quando a areia é demasiada para a nossa camioneta.” Varia de pessoa para pessoa e, até mesmo, na própria pessoa. Se estamos bem-dispostos e alegres, lidamos melhor com o stresse do que em estados menos felizes.
Quando se está em stresse, existe uma discrepância entre aquilo que é pedido e o que a pessoa, naquele momento, pode dar. Existe uma sobrecarga que impede a resposta a determinada situação. E a forma que o corpo tem de nos mostrar que não está bem é através de sinais físicos e psicológicos.
O trabalho como fator de stresse
“Estar em stresse não é estar doente, nem estar saudável. É estar a meio caminho entre um e outro. É uma luta que fazemos para nos mantermos saudáveis”, nota Marco Ramos. No entanto, se não for ultrapassado, “pode tornar-se uma doença” levando a estados de depressão ou ansiedade crónica com consequências graves para a saúde.
A aceleração do modo como se vive hoje em dia leva a que Samuel Antunes seja taxativo: “Não é possível viver sem stresse.” O que podemos fazer, então, é reduzir o dano e o impacto que tem através do equilíbrio entre as horas passadas a trabalhar, a dormir e as que se destinam à vida pessoal e familiar. “Ninguém pode estar todo o dia a pensar em problemas. O cérebro precisa de descontinuidade, senão entra em exaustão”, refere o especialista. Desligar do trabalho é fundamental, avisa.
Como gerir o stresse
Falar com alguém e desabafar pode ser um primeiro passo, mas, às vezes, isso não chega. É necessário tomar outras medidas
► Pare para pensar no que está a ser incómodo, difícil de aguentar, triste ou raivoso
► Separar o que se pode alterar e o que não está na nossa mão mudar
► Desenvolver técnicas de relaxamento para acalmar o cérebro reduzindo, assim, a tensão muscular
► Aprender a viver de acordo com a própria circunstância e pôr as coisas em perspetiva
► Arranjar estratégias mentais para alterar a situação (se achar que a reunião da manhã com o chefe vai ser difícil, vai dormir mal; se fizer o contrário, terá uma noite tranquila)
► Ter horários regulares para comer e dormir
► Cuidar de si mesmo (selfcare) através de um estilo de vida saudável
► Dividir o dia em oito horas de trabalho/oito horas de sono/oito horas de vida pessoal e familiar. O equilíbrio entre os três é fundamental para renovar o corpo
► Fazer autorregulação. Controlar e gerir as emoções
► Evitar o aumento do consumo de álcool, tabaco e ansiolíticos ou psicotrópicos
► Controlar a toxicidade de informação com que lidamos
► Aproveitar o tempo livre para relaxar e fazer exercício, caminhar ou apenas passear
► Ter suporte social. Envolver-ser em atividades que exijam relacionamento (fazer voluntariado ou inscrever-se numa associação, por exemplo)
“O stresse ocupacional é hoje o segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais reportado na Europa (dor nas costas é o primeiro), afetando cerca de 28% dos trabalhadores da União Europeia – quase um em cada três trabalhadores. É a principal ameaça para a saúde física e mental dos trabalhadores.” Isto acontece quando o trabalhador perceciona e avalia as exigências do seu meio laboral (ou stressores no trabalho) como excedendo as suas capacidades e recursos disponíveis, para lhes fazer face com êxito. Mas este stresse ocupacional não diz apenas respeito aos trabalhadores mas também aos líderes. “Há investigações recentes que mostram que o stresse dos managers é normalmente superior ao dos colaboradores”, refere o professor universitário. Por isso, aconselha os líderes a criarem locais de trabalho saudáveis, em que a saúde, a segurança e o bem-estar de todos os colaboradores seja uma prioridade, permitir um maior controlo dos colaboradores sobre o seu trabalho ou identificar as situações geradoras de stresse para si e geri-las.
Como diria Marco Ramos, aliviar a camioneta de areia.
Os sinais de alerta
Podem manifestar-se sob a forma de vários sintomas, não são idênticos em todas as pessoas mas podem incluir:
Físicos
► Arritmias e palpitações
► Aumento da tensão arterial
► Problemas de pele
► Dores de cabeça
► Tensão muscular
► Problemas de estômago, diarreia ou obstipação
► Sensação de aperto no peito
► Alterações do sono
► Perda do desejo sexual
► Alterações no apetite (excesso ou falta)
► Alteração do sistema imunitário
Emocionais
►Ansiedade
► Preocupação excessiva
► Oscilações de humor
► Incapacidade de relaxar
► Frustração e raiva
► Sentimento de solidão e isolamento
► Tristeza
► Apatia e desânimo
Cognitivos
► Cansaço mental
► Perda de memória
► Dificuldades de concentração e de atenção
► Decréscimo da criatividade
Comportamentais
► Ser irascível com os outros
► Não socializar
► Impaciência perante a família
► Dificuldade em tomar decisões
► Consumo excessivo de medicamentos, café, álcool e drogas
► Aumento de comportamentos conflituosos
► Diminuição da produtividade