Alterações significativas ao nível dos glóbulos vermelhos e brancos, algumas das quais sucetíveis de perdurarem durante vários meses, podem ajudar a explicar sintomas associados à Covid longa. Fadiga, dificuldades respiratórias e dor de cabeça são queixas que se mantêm, por vezes durante mais de seis meses, em certos pacientes recuperados da Covid-19, mas a Ciência ainda não conseguiu explicar o fenómeno. Agora, uma investigação do Centro Max Planck para a Física e Medicina, da Universidade Erlangen-Nuremberga, na Alemanha, avança pela primeira vez com uma possível ligação entre alterações sanguíneas e sintomas da doença.
Os investigadores recorreram a uma técnica inovadora para analisar mais de quatro milhões de células do sangue, recolhidas em 17 pacientes de Covid-19, 14 pessoas já recuperadas da infeção e 24 voluntários saudáveis, para servirem de grupo de comparação. “Conseguimos detetar alterações evidentes e de longa duração, tanto em casos graves de infeção como posteriormente”, afirmou Jochen Guck, um dos autores do estudo, num comunicado divulgado pelo Centro Max Planck em Erlangen.
No artigo publicado no jornal científico Biophysical Journal, os cientistas destacam “alterações significativas” ao nível do tamanho, rigidez e deformidades em glóbulos vermelhos e brancos específicos, como os eritrócitos, os linfócitos ou os monócitos. “Enquanto algumas destas alterações voltaram aos valores normais após a hospitalização, outras persistiram ao longo de meses, depois da alta hospitalar, evidenciando a presença da Covid-19 no organismo a longo prazo”, lê-se no documento.
Uma vez que essas alterações sanguíneas estão relacionadas com as funções de transporte de oxigénio e de resposta imunitária, os investigadores apontam-nas como possível explicação para o maior risco de acidente vascular e de embolia pulmonar, além de poderem comprometer o sistema respiratório devido ao défice de oxigénio. “As células do sangue desempenham um papel importante em todas estas situações”, sublinham no referido comunicado, no qual também indicam, a título de exemplo, que alguns glóbulos brancos “permanecem drasticamente alterados sete meses após a infeção aguda”.