O contraste é evidente. Enquanto as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) da Pfizer/BioNtech e da Moderna têm uma eficácia a rondar os 95%, a da farmacêutica alemã CureVac fica-se pelos 47%.
Os desapontantes resultados preliminares dos ensaios clínicos foram revelados ao final do dia de quarta-feira, dia 16, e tiveram um impacto imediato nas ações da empresa, que caíram perto de metade na bolsa de Wall Street.
Uma eficácia abaixo de 50% na proteção contra o vírus SARS-CoV-2 põe em causa a aprovação da vacina por instituições como a Agência Europeia do Medicamento (EMA) ou a norte-americana Food and Drug Administration (FDA).
A vacina da CureVac tinha várias vantagens, como ser mais barata por usar menos moléculas de mRNA e poder ser conservada durante meses num frigorífico normal
A União Europeia já tinha pré-acordado a compra de 405 milhões de doses, caso a vacina fosse autorizada pela EMA, um cenário que se tornou mais distante.
O imunizante da CureVac tinha várias vantagens, como ser mais barato por usar menos moléculas de mRNA e poder ser conservado durante meses num frigorífico normal, o que seria especialmente útil nos países em vias de desenvolvimento.
Os resultados definitivos dos ensaios clínicos só serão conhecidos dentro de duas ou três semanas, mas é pouco provável que sejam substancialmente diferentes daqueles agora apresentados.
Culpar as variantes
Foram analisados os dados de 135 voluntários infetados com o SARS-CoV-2. Um grupo foi inoculado com a vacina e outro com um placebo. Para desgosto dos investigadores, o número de doentes que tinham tomado a CureVac não foi assim tão diferente daqueles que estavam totalmente desprotegidos, apesar de a injeção garantir alguma proteção, à volta de 47%.
O CEO da farmacêutica, Franz-Werner Haas, atribui este resultado às variantes do vírus em circulação. Dos 124 genomas sequenciados pela empresa, apenas um correspondia ao vírus “original”.
A eficácia da vacina da Pfizer/BioNtech foi de 92% contra a variante Alpha e de 79% contra a Delta, muito acima da CureVac
No entanto, de acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet, ainda sem revisão dos pares, a eficácia da vacinação completa com o imunizante da Pfizer/BioNtech foi de 92% contra a variante Alpha (inicialmente identificada no Reino Unido) e de 79% contra a Delta (originária da Índia), muito acima da CureVac.
Já uma análise do Public Health England, o instituto de saúde pública britânico, também ainda sem revisão dos pares, concluiu que as duas doses da vacina da Pfizer/BioNtech conseguiram evitar o internamento de 96% das pessoas inoculadas infetadas com a variante Delta. Já no caso da Alpha, a eficácia foi de 95% contra a hospitalização.
O responsável pela CureVac, Franz-Werner Haas, garantiu que, apesar dos resultados pouco animadores, vão concluir os ensaios clínicos e procurar aprovação junto dos reguladores dos medicamentos. “Há uma necessidade enorme de vacinas e acho que ainda podemos fazer uma contribuição”, defendeu.