O índice de transmissibilidade do vírus SARS-CoV-2, o R(t) diminuiu de 1,08 para 1,07 entre sexta e segunda-feira, dia 4 – estes indicadores são atualizados três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras, mas a taxa de incidência de novos casos a 14 dias mantém a tendência de subida. Passou de 69,8 por cada 100 mil habitantes para 72,2. Será este um motivo de preocupação?
“Devemos estar atentos e a acompanhar”, nota, cauteloso, Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. “É verdade que houve um pequeno aumento de hospitalizações em enfermaria, nomeadamente em Lisboa, mas a maioria das pessoas não aparenta ter necessidade de cuidados intensivos. Ou seja, não está a haver o impacto que já houve no Sistema Nacional de Saúde”, diz.
Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, corrobora. “Os indicadores mais preocupantes [hospitalizações] estão estáveis. Ainda não estamos, nem de perto nem de longe, daquela que é a capacidade de resposta do SNS.” Mas, alerta, “isto pode mudar”.
Carmo Gomes diz que nos encontramos “no difícil equilíbrio entre sabermos que, de momento, não estamos preocupados com o SNS, mas também estarmos preocupados se tivermos números altos de incidência”. O que, para o professor de epidemiologia, é um período de “transição” que pode durar dois a três meses até termos uma taxa de vacinação mais alta, lembrando que neste espaço de tempo, vão ser vacinadas “mais de 4 milhões de pessoas”.
“Estamos numa janela de tempo”, como lhe chama Carlos Matias Dias, coordenador do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Dr Ricardo Jorge, “entre o aumento da taxa de cobertura com uma dose e duas doses e o facto de o R(t) estar com valores superiores a 1”. O médico nota, no entanto, que apesar de haver “sempre alguma preocupação” quando a incidência aumenta, também se deve olhar para o todo. “Há zonas do país com incidências mais altas e outras menos”.
Para que não haja um aumento preocupante de novos casos nas próximas semanas o conselho dos especialistas é manter as medidas de higiene e uso de máscara. Mas também, a testagem em massa.
“É preciso manter os níveis de testagem muito elevados, não baixar a guarda nesta questão”, avança Carmo Gomes.
No entanto, a testagem não parece ter os níveis de adesão que já teve anteriormente. “A adoção da testagem de forma generalizada para a população é difícil, a perceção das pessoas é diferente do que era antes. Nos grupos mais jovens a disponibilidade para se testarem não é tão alta”, refere Carlos Matias Dias, do INSA.
Para Ricardo Mexia o problema é “comunicacional”. “Há uma enorme variedade de testes e locais para o fazer, mas as pessoas não estão a aceder em fazê-los.” Defende que é preciso fazer pedagogia e “comunicar melhor”. A obrigação de testes poderá estar em cima da mesa?
“O ideal seria a adesão voluntária, mas se isso não acontece teremos de pensar de outra forma, inclusive na obrigatoriedade”, diz o médico de saúde pública. Até porque, acrescenta, se “vão viajar de avião têm de fazer um teste, mas se forem a um casamento, onde há muito mais contacto e interação, não há obrigação”.
Lembrando que o maior aumento de novos casos está “entre os 20 e os 30 anos” e que isso gera “um desafio adicional” nesta faixa etária, Mexia, nota que continua a haver muitos ajuntamentos à noite onde não são cumpridas as regras de distanciamento e uso de máscara.