Fadiga, dores nas articulações, problemas gastrointestinais, palpitações, disfunções cognitivas (como dificuldades de concentração ou problemas de memória), perturbações do sono ou mesmo sinais de depressão ou de ansiedade são algumas das manifestações da Covid prolongada, um problema que estima-se afetar 10% das pessoas infetadas pelo novo coronavírus.
Para quem a doença não termina com o fim da infeção por SARS-CoV-2 e continua a lidar com sintomas ao longo de semanas, ou mesmo meses, depois de já não estar infeccioso, surgiu uma nova esperança. Não é uma cura, mas pode ser um alívio muito bem vindo.
Segundo um estudo, baseado num questionário realizado por um grupo de apoio a doentes com Covid prolongada, o LongCovidSOS, que analisou 900 pessoas com o problema e aguarda ainda a revisão pelos pares, as vacinas contra a Covid-19, sobretudo as de mRNA, tendem a aliviar os sintomas que se arrastam no tempo.
Valores relacionados com 14 sintomas comuns de Covid prolongada foram comparados antes e depois da primeira dose da vacina e os dados mostraram que 56,7% dos entrevistados experimentaram uma melhoria geral nos sintomas, enquanto 24,6% permaneceram inalterados e 18,7% sentiram os sintomas piorar.
De uma forma geral, as pessoas que receberam vacinas de mRNA (Pfizer / BioNTech ou Moderna) relataram mais melhorias nos sintomas do que as que foram inoculadas com uma vacina de adenovírus (AstraZeneca). Quem recebeu a vacina da Moderna demonstrou ainda ser mais propenso a ver melhorias nos sintomas como fadiga, névoa cerebral e dores musculares, e menos propenso a relatar uma deterioração.
É preciso investigar mais
Segundo David Strain, palestrante sénior da Universidade de Exter, em declarações ao The Guardian, os dados obtidos não podem provar definitivamente que a vacina melhorou os sintomas dos indivíduos, uma vez que estes podem ter melhorado, de qualquer forma, após terem estado meses sintomáticos. Ainda assim, das 130 pessoas incluídas na análise que receberam duas doses da vacina, alguns pacientes melhoraram após a primeira dose – começando depois a sentir um ressurgimento dos sintomas – e voltaram a melhorar após a segunda, observa também David Strain.
Este não é o primeiro inquérito a sugerir benefícios das vacinas na sintomatologia da Covid prolongada. Em março, o The Washington Post dava conta de um outro inquérito informal, feito a 450 pessoas pelo Survivor Corps, um grupo de apoio de pacientes com Covid prolongada, no qual 171 pessoas afirmavam que a sua condição havia melhorado após a vacinação.
Danny Altmann, professor de imunologia do Imperial College London, alerta, no entanto, para a consistência destes resultados. “Como é que uma vacina poderia fazer um subconjunto de pacientes com Covid prolongada sentir-se melhor?”, questiona-se o especialista em declarações ao The Guardian. Altmann defende que, “apesar de ser tentador supor que este foi o subconjunto que apresentou sintomas devido a um reservatório de vírus que nunca foi eliminado adequadamente, e que o enorme impulso de uma vacina potente equipou-os com a resposta imunológica necessária, é preciso investigar as verdadeiras respostas imunológicas”.