Aquela que é considerada a epidemia dos tempos modernos foi hoje, 17 de maio, Dia Mundial da Hipertensão, discutida num webinar organizado pela VISÃO Saúde, em parceria com a Tecnimede. Luís Bronze, cardiologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão e Jorge Polónia, especialista em Medicina Interna, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e membro da direção da Sociedade Europeia da Hipertensão Arterial explicaram porque razão esta ameaça, normalmente silenciosa, é a doença que mais mata no mundo, e sublinhando a importância de detetar o problema precocemente, adotar hábitos alimentares e de vida saudáveis e combater o sedentarismo como forma de o evitar.
“A hipertensão mata e mata silenciosamente”, afirma Jorge Polónia, algo que, como sublinha Luís Bronze, é preocupante, pois “a pandemia da doença cardiovascular”, além de ser “ a que mata mais no mundo”, em Portugal, “a taxa de mortalidade por doença cardiovascular é superior à taxa de mortalidade por cancro”. O médico considera que a atenção política dada ao problema deveria ser maior, “por ser tão abrangente e matar tanto”.
Os convidados frisaram ainda a importância da prevenção da hipertensão, como forma de evitar a necessidade de tratar problemas mais graves que esta pode espoletar, dos ataques cardíacos aos derrames cardiovasculares ou insuficiência renal. Doenças que, nas palavras de Luís Bronze, “não só matam como são a maior causa do mundo de incapacidade que, às vezes, é pior do que a morte”.
Sal, um veneno perigoso
De acordo com os resultados do primeiro estudo realizado no nosso país sobre prevalência de hipertensão e consumo de sal, coordenado por Jorge Polónia, cada português consome, em média, 10,7 gramas de sal por dia, o dobro do valor recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Desde 2009 que o Governo português aprovou uma lei destinada a regular o teor de sal permitido no pão, mas os produtos processados e as refeições confecionadas em restaurantes ficaram de fora. Luís Bronze não tem dúvidas que o controlo da quantidade de sal deveria ser estendido a mais alimentos, para bem da nossa saúde.
Jorge Polónia relembra ainda que o sal é um ingrediente ligado ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ao cancro do estômago. “O aumento do consumo de sal vai propiciar as duas coisas. Além do aumento da pressão arterial, há um efeito tóxico direto sobre o sistema nervoso central e sobre o estômago”. O especialista em Medicina Interna defendeu ainda que “o sal é tóxico e temos de reduzir a sua quantidade”, pois, apesar de ser agradável, é “uma toxicodependência”, “um agradável que mata”.
Quem mais arrisca são, segundo os convidados, os obesos e Luís Bronze revela ainda que “é rara a pessoa que tenha hipertensão que não é diabética”. Mudar hábitos alimentares é então fundamental a fim de evitar o problema, até porque, como sublinha Jorge Polónia “o sal aumenta o peso”. Cozinhar sem sal, substituindo-o por alho, limão, tomilho, alecrim ou especiarias são os conselhos do médico.
Estas alterações devem ser implementadas desde a infância. O médicos consideram que a introdução de sal na alimentação dos mais novos corresponde à introdução de um veneno, “deve-se dar zero”, “não se deve adicionar em circunstância nenhuma”. Jorge Polónia revela mesmo que “está provado que, até aos seis meses, se houver introdução de sal na alimentação das crianças, aos 15 anos têm um risco de hipertensão muito maior”.
Quanto aos alimentos que, tantas vezes, escondem sal sem que saibamos, Luís Bronze refere, sobretudo, os cereais de pequeno almoço, “grande parte deles com quantidades de sal abusivas” e alimentos processados como pizzas ou carne pré-feita “com quantidades de sal e gordura superiores às recomendadas”.
Principais fatores de risco
A idade, a obesidade, a diabetes, o colesterol elevado e o sedentarismo são os principais fatores de risco. Se o primeiro não pode ser alterado, os restantes sim. A prática de exercício físico é recomendada para combater o sedentarismo e, consequentemente, a obesidade, reduzindo a pressão arterial e permitindo “chegar a velhos com mais saúde”, afirma Jorge Polónia.
Além da idade, outros fatores de risco que não podem ser alterados são o fator hereditário e o género. Jorge Polónia explica que “ter hipertensos na família aumenta o risco” e que “as mulheres têm algum grau de proteção adicional em relação aos homens que depois se inverte em idades mais avançadas”.
Ultimamente, existem ainda novos fatores de risco que têm vindo a desempenhar um papel cada vez mais determinante, alerta Luís Bronze. “As pessoas mais novas não dormem as horas que deviam e têm muito stress no trabalho. Também os fatores de índole psico-social, como a depressão, e a poluição podem agravar a propensão para a hipertensão”, exemplifica o cardiologista.
Se a idade, a genética e o género não podem ser alterados, os hábitos de vida sim. Luís Bronze defende que, para ter uma vida saudável, é essencial saber comer, consciencializar-se que trabalhar 22 horas por dia faz mal, ter a noção que, quando o perímetro abdominal e o peso aumentam, o risco aumenta, que uma glicémia nos 100 “está a pisar o risco” e que, se a pressão arterial sistólica estiver acima de 13, é preciso ter atenção.
Usar pouco ou nenhum sal, perder peso, comendo muitas vezes poucas quantidades, andar a pé, subir escadas, deixar o carro longe do destino e assegurar um equilíbrio psicológico são algumas das sugestões de auto-cuidado que devemos ter, segundo Luís Bronze
Como medir corretamente a pressão arterial?
Como esta é uma doença silenciosa que, na maioria das vezes, não dá sintomas, “a única forma de sabermos se somos hipertensos é medir a pressão arterial”, afirma Jorge Polónia. A primeira medição pode ser feita em qualquer lugar, da farmácia ao supermercado ou mesmo em casa. “Depois, se estiver alta, tem mesmo de ir ao médico para medir de novo”, explica o médico.
No entanto, para muitos doentes, é importante ir registando os valores de forma constante em casa, além das visitas que fazem ao médico. Neste caso, Jorge Polónia defende ser importante “comprar aparelhos de qualidade, de braço, não de pulso, e que tenham sido validados” e medir a pressão arterial “de forma organizada, duas vezes antes do pequeno almoço e duas vezes antes do jantar, registando o segundo valor”.
Apesar de o valor de diagnóstico da hipertensão arterial, num consultório médico, ser de 14-9, em casa, os valores de referência são 13.5-8.5. Jorge Polónia refere ainda que, quem tem tensão normal , mas alta, tem de estar muito atento e começar a alterar certos estilos de vida.
O médico revela ainda que, mesmo quem tem 14.5-9.5, se alterar os hábitos alimentares, diminuir o peso e começar a fazer exercício físico, “pode não precisar de medicamentos”.
A quem, por outro lado, foi prescrita uma terapia medicamentosa, não pode de forma alguma abandoná-la nem descurá-la, pois esta é a única forma que tem de evitar os eventos cardiovasculares. Ambos os convidados referiram o facto de esta medicação ser para toda a vida.