Seja pelos relatos de casos muito raros de tromboembolismos pulmonares decorrentes da toma da vacina da Astrazeneca ou devido às queixas de cansaço, febre e dores musculares após a inoculação com qualquer uma das vacinas contra a Covid-19, os seus efeitos secundários ainda despertam algumas dúvidas em muitas pessoas.
Especialistas e órgãos reguladores asseguram que o benefício em ser vacinado contra a Covid-19 é largamente superior ao risco. Seis respostas essenciais para acabar com as dúvidas que ainda possa ter.
1. Ouvi dizer que os efeitos secundários da vacina, especialmente após a segunda dose, podem ser muito maus. Devo preocupar-me?
Efeitos secundários de curta duração como fadiga, dor de cabeça, dores musculares e febre são mais comuns após a segunda dose das vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna, que requerem duas injeções cada uma. No entanto, não há razões para preocupações: é sinal de que as células estão a fazer o seu trabalho de defesa do organismo. No site da Direção-Geral da Saúde (DGS) pode ler-se que “todas as vacinas, ao estimularem as nossas defesas, podem causar efeitos secundários ligeiros e de curta duração”.
2. Não tive efeitos secundários. Significa que o meu sistema imunitário não respondeu ou que a vacina não funcionou?
Não. Em declarações ao The New York Times, Paul Offit, professor da Universidade da Pensilvânia e membro do painel consultivo de vacinas da Food and Drug Administration, observou que, durante os ensaios clínicos, um número significativo de pessoas não relatou efeitos secundários e, ainda assim, os mesmos ensaios mostraram 95% de eficácia. “Isso prova que não é preciso ter efeitos secundários para estar protegido”.
3. É verdade que as mulheres sofrem mais efeitos secundários das vacinas?
Sim. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa) analisou os dados de segurança das primeiras 13,7 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 administradas nos Estados Unidos da América (EUA). A organização concluiu que 79,1% das queixas relacionadas com os efeitos secundários provocados pela imunização foram endereçadas por mulheres. Além disso, apesar de extremamente raros, quase todos os casos de anafilaxia, ou reações alérgicas com risco de vida, ocorreram em mulheres.
A maior propensão que as mulheres têm para desenvolver efeitos secundários a vacinas não é novidade. Um estudo descobriu mesmo que, ao longo de quase três décadas, as mulheres foram responsáveis por 80% de todas as reações anafiláticas de adultos a vacinas.
A biologia poderá ajudar a explicar esta realidade. Vários estudos demonstram que as raparigas produzem mais anticorpos contra as infeções do que os rapazes – chega a ser o dobro. Tal verifica-se, por exemplo, no caso das vacinas contra o influenza, a febre-amarela ou a hepatite A e B.
O estrogénio, que regula o sistema de reprodução feminino, é responsável por uma maior produção de anticorpos em resposta à vacina da gripe. Já a testosterona, essencial no desenvolvimento do sistema reprodutivo masculino, é imunossupressora, tornando a vacina da gripe menos eficaz em homens com elevados níveis desta hormona.
4. Já tive Covid. Posso tomar apenas uma dose de vacina?
Segundo a mais recente norma publicada pela DGS acerca da vacinação, “as pessoas que recuperaram da infeção por SARS-CoV-2 são vacinadas com uma dose de vacina contra a Covid-19, independentemente de ser uma vacina com esquema vacinal de uma ou duas doses”.
Relativamente às pessoas que já tiveram Covid-19, mas apresentem condições de imunossupressão (nos termos da Norma 004/2020 da DGS), a mesma norma refere que serão vacinadas “com duas doses de vacina nas vacinas com esquema vacinal de duas doses e com uma dose de vacina nas vacinas com esquema vacinal de uma dose”.
5. Fui vacinado com a vacina da AstaZeneca e tenho menos de 60 anos. Posso receber a segunda dose de outro fabricante?
Quem tem menos de 60 anos, tomou a primeira dose de vacina da AstraZeneca há sensivelmente três meses e, por isso, foi ou está a ser chamado para tomar a segunda, tem agora duas opções, admitidas na atualização da norma da Direção-Geral da Saúde publicada na passada sexta-feira.
Ou escolhe repetir a mesma vacina, de acordo com as recomendações da Agência Europeia do Medicamento e dando o seu consentimento, ou escolhe esperar mais algum tempo até serem conhecidos novos dados sobre a eficácia e segurança de completar o programa recorrendo a uma vacina diferente.
Esses novos dados devem ser conhecidos ainda este mês, altura em que a DGS emitirá nova orientação, explicou, numa audição na comissão parlamentar de saúde realizada quarta-feira, 5 de maio, o coordenador da Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 , Válter Fonseca, assegurando ainda que não há risco em ultrapassar os três meses de espaçamento entre as duas tomas, pois existem dados que mostram que num intervalo superior a 12 semanas ainda se mantém a proteção conferida pela primeira dose.
6. As vacinas funcionarão contra as novas variantes?
As vacinas parecem ser eficazes contra a variante identificada pela primeira vez no Reino Unido, atualmente responsável por mais de 91% dos casos de Covid detetados em Portugal. Algumas variantes do novo coronavírus, particularmente as que foram identificadas pela primeira vez na África do Sul e no Brasil, parecem ser mais hábeis em evitar os anticorpos das pessoas vacinadas.