Se pensa que ressonar faz parte da noite de sono de muitas pessoas só porque sim, engana-se. “Ressonar não é normal, isso é um mito”, desconstrói Susana Varela, pneumologista. A roncopatia, nome que se dá ao ato de ressonar durante o sono, “pode ser sugestivo de que se tem apneia do sono”, por exemplo, pode, até, ter como causa “a sinusite ou rinite, mas não é normal”.
Este e outros problemas relacionados com o sono foram o tema do webinar que a VISÃO Saúde, em parceria com a Bial/Dormidina, organizou hoje, 19 de março, naquele que é o Dia Mundial do Sono. Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono, Susana Varela, pneumologista, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e Denise Marques, medical Affairs da Bial foram os três convidados que ajudaram a levantar o véu sobre os problemas do sono e o quanto andamos a dormir mal.
Joaquim Moita deu conta de um estudo feito em parceria com a Universidade de Piscologia de Coimbra sobre os efeitos da pandemia na qualidade do sono. Das 1 079 pessoas que responderam ao inquérito online (80% das respostas foram de mulheres), cerca de “50% disseram que pioraram o seu sono durante a pandemia”, no entanto, revela, cerca de “15% responderam que passaram a dormir melhor”. Esta resposta, nota, foi dada por pessoas mais jovens “cujo teletrabalho permitiu regular o sono” por evitarem, por exemplo, o tempo das deslocações.
Já Denise Marques, da Bial, referiu que a “corona/insónia” andou em paralelo com a “pandemia de Covid-19”. Isto porque, justificou, “alterámos as nossas rotinas diárias, como as horas de levantar e ir para o trabalho, e as horas para as reuniões e para as refeições”. Esta disrupção de rotinas, acrescentou, não se “coadunam com a nossa biologia”. Esta mudança de hábitos tem implicações, por exemplo, no sistema imunitário. “Se não dormirmos bem não construímos defesas da mesma maneira.” Os doentes cardiovasculares têm mais propensão para a tensão alta quando dormem mal, assim como a falta de sono aumenta em “33% o risco de ter diabetes” e a não produção da hormona da saciedade, aumentando as probabilidades de ter obesidade.
A pneumologista corroborou e chamou a atenção para o facto de não se dar a devida importância ao sono. “Dormir não é estar off” é repor o corpo. “O cérebro funciona muito enquanto dormimos, há uma consolidação da memória e do estado emocional”, referiu Joaquim Moita. E, muito importante para as crianças, é “durante o sono que a hormona do crescimento é produzida”, esclareceu.
Quanto aos “shortsleepers” (pessoas que dormem pouco), os especialista forma unânimes em dizer em que dorme pouco é porque “tem privação de sono”. Devemos dormir entre 7 a 9 horas seguidas (não 5 de noite e 2 à tarde, como perguntou um internauta) e as sestas durante a tarde não devem ultrapassar os 20 minutos.
Os aparelhos tecnológicos não podiam deixar de fazer parte desta conversa, O uso e abuso de telemóveis, tablets, computadores ou televisão antes de dormir prejudicam a fase de adormecimento. A “luz azul dos ecrãs”, explica Joaquim Moita, tem como impacto principal “a inibição total da hormona da melatonina” (a hormona que nos indica que está na hora de ir dormir). A melatonina, diz, começa a “subir por voltas das 21 horas”, aumenta às 23 horas e atinge “o seu pico máximo” por volta das duas da manhã. Assim, claro, são de “evitar” estes aparelhos antes de adormecer.
Aliás, as horas antes de dormir devem “ser de relaxamento”, atestou Denise Marques. Fazer meditação ou mindfulness são dois conselhos. Mas os especialistas indicaram mais: não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas à noite, não jantar tarde (o processo de digestão fica afetado), adequar a temperatura e luminosidade do quarto, não fazer exercício físico ao fim da tarde ou ter horários certos para as refeições.