No dia 2 de março, poucos dias depois de a autoridade do medicamento norte-americano (FDA) ter autorizado a vacina da Johnson & Johnson nos EUA, a Casa Branca anunciou que a farmacêutica Merck, rival da farmacêutica, também iria ajudar na produção. Graças à cooperação destas duas empresas na produção em massa de vacinas da Johnson & Johnson, o Presidente Joe Biden anunciou que vai ser possível imunizar todos os adultos norte-americanos até ao fim de maio, antecipando em dois meses o prazo anteriormente previsto.
Ao contrário de todas as vacinas disponíveis em Portugal até ao momento – de empresas como a AstraZeneca, BioNTech-Pfizer e Moderna -, cuja imunização exige duas doses com um determinado intervalo de dias entre si, a vacina da Johnson & Johnson requer apenas uma dose. No entanto, as suas diferenças não se ficam pela diferença de doses – desde um transporte facilitado à eficácia comprovada no combate às novas variantes, investigadores de todo o mundo vêm nesta vacina uma promessa no combate à pandemia, que deverá começar a ser distribuída em abril na União Europeia. Até lá, cabe compreender as características desta nova vacina:
Como funciona a vacina da Johnson & Johnson?
A vacina da Johnson & Johnson é uma “vacina de vetor viral.” Para criá-la, os investigadores da farmacêutica utilizaram um adenovírus inofensivo – o vetor viral – e trocaram uma pequena parte das suas instruções genéticas com os genes da proteína “spike” do SARS-CoV-2. Quando este adenovírus modificado é injetado no braço de uma pessoa, ele entra nas suas células. Posteriormente, as células “leem” as instruções genéticas necessárias para produzir a proteína, e as células vacinadas passam a apresentar esta própria proteína na sua superfície. Assim, o sistema imunitário da pessoa vai reconhecer este tipo de proteínas, através do qual o coronavírus penetra nas células humanas, criando anticorpos contra o vírus.
As vacinas de vetor viral são seguras, uma vez que o adenovírus não se consegue replicar nas células humanas nem causar a doença – a proteína “spike” do SARS-CoV-2 não pode provocar a Covid-19 sem o resto do coronavírus. Esta não se trata de uma nova abordagem: não só a Johnson & Johnson já tinha utilizado um método semelhante no combate ao vírus da Ébola, como a vacina AstraZeneca-Oxford utiliza a mesma tecnologia nas suas vacinas.
Quão eficiente é esta vacina?
Segundo a análise da autoridade do medicamento norte-americano (FDA), a vacina da Johnson & Johnson demonstrou uma eficiência de 72% na prevenção de todo o tipo de infeções por Covid-19, e uma eficiência de 86% na prevenção de casos graves da doença – assim, apesar de ainda existir alguma probabilidade de a pessoa poder ficar infetada, as hipóeses de alguém ser hospitalizado ou morrer devido à Covid-19 depois de vacinado são significativamente baixas.
Outro estudo na África do Sul, onde uma variante mais contagiosa é dominante neste momento, apresentou resultados semelhantes aos dos EUA. Apesar de os investigadores terem concluído que a vacina da Johnson & Johnson era menos eficiente a prevenir a doença no país – com uma taxa de prevenção de infeção a rondar os 64% -, o grau de prevenção de casos graves de Covid-19 foi de 82%, o que assegura a diminuição de mortes e hospitalizações. Segundo o estudo da FDA, a vacina também se mostrou eficaz contra as outras variantes, do Reino Unido e do Brasil, outro dado relevante numa altura em que estas ganham força em diferentes países.
O que a distingue das outras vacinas?
A primeira diferença entre a vacina da Jonhson & Johnson e as outras é o facto de esta ser uma vacina de vetor viral, enquanto que as vacinas da Moderna e da Pfizer são vacinas mRNA. Nestas vacinas, o mensageiro RNA utiliza instruções genéticas do coronavírus para “ensinar” as células da pessoa a criar as proteínas “pico”, não utilizando nenhuma amostra do vírus, como é o caso da Astrazeneca e da Jonhson & Johnson. No entanto, há outras diferenças práticas entre as vacinas, que podem ser decisivas para o seu sucesso.
Ambas as vacinas com tecnologia mRNA, da Moderna e da Pfizer, assim como a vacina da Astrazeneca, requerem duas doses. Por sua vez, a vacina da Johnson & Johnson requer apenas uma dose – o que pode ser essencial numa altura em que existe uma escassez de doses de vacinas. Por outro lado, a vacina da Johnson & Johnson pode ser armazenada a uma temperatura mais quente que as vacinas com tecnologia mRNA, que têm de ter preservadas a temperaturas abaixo de 0 graus, o que implica uma complexa logística no seu transporte. Assim, uma vez que a vacina da Johnson & Jonhson pode ser armazenada durante três meses num frigorífico normal, o seu uso e distribuição é significativamente mais prático.
Quanto à sua eficácia, a vacina da Johnson & Johnson revela números de menor eficiência que as vacinas mRNA da Moderna e da Pfizer, que revelaram taxas de eficácia de 95%. No entanto, alerta a Professora de Biologia Maureen Ferran, uma comparação direta entre os testes não é totalmente fiável, uma vez que os estudos da Moderna e da Pfizer foram realizados ao longo do verão e outono de 2020, uma altura em que as variantes mais contagiosas do vírus ainda não estavam a circular de forma mais intensiva – neste momento, estas vacinas mRNA poderão ter taxas de eficiência mais baixas, sendo que a vacina da Johnson & Johnson demonstrou ser eficaz contra as novas variantes, um dado particularmente importante. Por esta razão, Muriel Jean-Jacques, Professor de medicina na Northwestern University, classificou a vacina como “totalmente decisiva” para o combate à pandemia.